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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Anti-Humor [17]

por Rodrigo Faustini

Restaurante Conceitual

...eu sei que eu pedi pra ser amordaçado, mas eu também pedi que tal manobra fosse realizada com cetim, sua vaca velha.
É o início de outro mês e, portanto, lá vêm mais uma edição da minha semanal (não, não é com você querida, continua esfregando) resenha culinária. Para esta quinzena, fui convidado ao novo restaurante “Régugiter”, uma espécie de resposta psico-punk ao fast food, cujos chefs são, na verdade, artistas que estão sem outra fonte de renda. Muitos podem considerar tais ideais com qual o restaurante é gerenciado um tanto pretensiosos (afinal, o lema é “Com comida fazemos arte; já você, merda) e por isso, me senti compelido a me alimentar num restaurante de alta classe como caridade à Verdade, agindo como um mensageiro, porém com minha boca, mãos e palavras.
Cheguei lá para meu almoço de quarta-feira, aproveitando a promoção da “Dignidade”. Evitando os clichês, além de toda aquela breguice dos restaurantes temáticos, foi agradável notar que a escolha de decoração do espaço para o restaurante foi um simples vazio adimensional cor de marfim, o que, aliás, deve economizar uma fortuna em frivolidades como objetos, manutenção, matéria e imposto de renda para o dono (embora os custos de implementação e sustentação atmosférica devem triplicar).
Como já havia aguçado meu apetite com uma compulsão incessante por metanfetaminas, parti para minha sagrada glutonaria.

1º Prato: A garçonete vinha graciosamente em minha direção, e, profissionalismo à parte, devo admitir que ela era tão gostosa que faria Elton John dizer “Adeus à estrada dos Tijolos Amarelos” e voltar a ser “O mago do pinball” se você entende o quê eu quero dizer. Querendo mostrar que tinha feito minha pesquisa sobre o restaurante para impressioná-la, pedi um prato em aleatório, falando apenas seu número, como um profissional:
“Olá, mulher. Eu gostaria do nº 44, por favor.”
“Ok, um 44 saindo.
...Sem querer ser rude, mas você está com uma sujeirinha debaixo do nariz.”
“É uma pinta.”
“Ai, desculpa senhorzinho, desculpa mesmo.”
“Tudo bem, todo mundo sempre se confunde assim”
“Também, né...Então, você quer uma porção de ‘Frustração Sexual’. Algo para beber?”
“...
...Água.
...Gelada.”
O serviço foi tão bom que pareceu que havia recebido meu pedido exatamente logo após de requisitá-lo, embora a água gelada tivesse deixado algo a desejar.


palavradomal""""...........""Minha Frustração Sexual"
Como se pode notar, a composição do prato é bem engenhosa, deixando ao cliente a possibilidade de lidar com sua “Frustração Sexual” com apenas o uso de uma mão. O aperitivo se mostra perfeito para ser comido no sofá de madrugada ou até no trabalho. Um de seus defeitos é que, logo que sua presença foi notada, logo quis me livrar dele, com tal dedicação que fez com que algumas das mulheres presentes no restaurante ficassem me encarando. O consumo me deixou com um paladar restante amargurado e intenções de pescar em meu tempo de folga, considerar o uso de uma peruca, tingir a minha barba, reclamar do governo, me candidatar politicamente, e assistir à luta livre na tv paga.
2º Prato: Pouco tempo depois, a garçonete voltou com a 2ª entrada, “Cobiça reprimida”, o que foi curioso, pois não havia pedido nada, algo que fiz questão de notar em voz alta. Ela retrucou que não só eu havia feito isso, como havia importunado todos os outros garçons para que estes apressassem os cozinheiros. Eu neguei novamente, adicionando que ela sofria de distúrbios “desilusionais” e devia procurar suporte acadêmico, embora não me importasse mais se ela deixasse lá o prato, pois o erro já havia sido cometido e me estufar com todo aquela “Frustração Sexual” havia ironicamente me deixado louco para comer qualquer coisa que aparecesse a minha frente.
Enquanto degustava, recordei sobre quanto tempo havia passado desde que experimentara tal sensação. Minha vó sempre me fornecia novas levas de “Cobiça reprimida” sempre que ia visitá-la. Ela costumava usar vestidos de cetim. Foi então que me lembrei como eu odiava tal aperitivo, com toda sua crocância folhada, textura diversificada, fragrância suave, cremosidade fresca e maciez amanteigada características. Ela também usava meias finas de cetim que iam até a metade de suas coxas. Ora, eu teria deixado mais da metade sobrando, se não fosse um golpe da consciência que me fez pensar na abundância e nos menos afortunados, e por isso acabei por deglutir o resto, até fingindo um sorriso no rosto para os que observavam, finalizando tudo ao abrir um botão da calça e soltar um pequeno arroto de completo desgosto.
3º Prato: Agora era a hora de me fazer um agrado: busquei no menu a mais cara e mais chique especiaria da casa, que acabava por coincidir com o especial do mês, sob o título de “Disapointment”. O exótico nome, que para mim a mais ousada combinação de letras e sons que já vi na minha vida, já me fez salivar. Que divindades gustativas me esperavam? Oh, um dilúvio se iniciava em minha boca, com impaciente espera! A descrição continha todas as palavras que um homem bem agluteado poderia esperar: “gourmet”, “recozido”, “ao Sol”, “reserva”, “estoque pessoal”, “98%”, “instantaneamente”, “caucasiano”, “flambé”, “clandestino” e até “aborígene”!
Para falar a verdade, ainda estou esperando prato enquanto escrevo isso no meu laptop. Minha saliva já encheu novamente o meu copo e acabei de notar a excelente acústica do meu estômago.Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Será que é? Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Lá vêm minha porção de “Dissapointment” naquela travessa encoberta com uma tampa. Oh! Oh! Oh! Hora de gradativamente levantar essa tampa que esconde o pináculo da culinária chique e espiar a dádiva que me espera!


... ... ... ... ...Vão se foder todos, a língua inglesa, enzimas e o conceito de empolgação.
Qual o problema? Só porque eu vou ser amordaçado não quer dizer eu não quero me sentir confortável.

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