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domingo, 25 de janeiro de 2009

Sonata noturna [5]

Partilha (5/10)


por Pudim (e Tuma)
Foto: Guilherme Carnaúba

Mais uma vez tenho bons motivos para odiar a minha condição. Os superdotados não são deuses, como o mundo quer fazer crer. Não, nem mesmo os que descobrem a cura da AIDS. Não somos os seres mais sortudos do mundo, nem os mais felizes, nem mesmo os mais capazes. Não.
Somos só alguém que alcançou uma condição desejada mais rápido ou melhor que os outros. O Leo vai ficar com todo o dinheiro da patente. É pra isso que os superdotados servem. Apenas uma mina de ouro. E glória. Mas só fico com a glória, dessa vez.
Obrigado, Leo, por me dar a chance de ficar perigosamente irritado o suficiente para mostrar que eu penso e sinto, como vocês simples humanos.

*** *** ***

Ele recebeu com certa surpresa o presente, recebeu com uma certa alegria surgindo de repente sem controle, recebeu com horror... Disse o que pensava para o dr. Davis, disse o que pensava e deram-se as mãos, e rezaram para que a cura alcançasse o maior número de pessoas. Depois se separaram e Leo fez o que tinha de fazer.
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sonata noturna [4]

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Efeitos (4/10)


por Pudim
Foto: Bruna Pimenta


A mulher namibiana que acabava de perder cinco filhos ainda estava em estado de choque, mas já fora levada para a calçada. O resgatador, irritado, tentava salvar a vida do sexto, com generosidade incompreensível.
Mas era inevitável, o pequeno empalidecia assustadoramente, como se o sangue estivesse sendo sugado por alguma máquina invisível. Nikole olhava e desviava os olhos, não demonstrando, com isso, tristeza e nem desespero. Demonstrava que ainda não tinha aceitado a situação, ou estava enlouquecendo. Ou simplesmente observava o mesmo evento acontecendo a outras mães que saíam do posto de vacinação infantil.
Enfim, o garoto definhou e desfaleceu, e Nahas, o resgatador, se voltou para a mãe.
Insinuou que mostraria uma propaganda impressa de um transatlântico, mas não encontrou condições para fazer mais nada, e apenas arrastou Nikole e quem estivesse no caminho para um refúgio desconhecido. Ninguém sabia do que se tratava, porém ele seguia decidido.
Por isso, pareceu assustado quando outra criatura violentamente anêmica, dessa vez muito maior e mais encorpada que ele, o segurou fazendo-o tropeçar. Nahas se esborrachou pesadamente no chão, usando uns bons metros de calçada para isso. Nikole quis retribuí-lo pela tentativa de resgate do seu pequeno. Tudo o que conseguiu, no entanto, foi receber dele a propaganda do Nocturnal Sonata, entre socos, dentadas, puxões e chaves de braço.
“Veja o itinerário, talvez dê tempo de alcançar o navio na África do Sul!”, ele berrou, já quase dominando o infectado que o atacara. “Corra! Esse vai morrer logo, mas se você continuar aqui, haverá outros!”
Assim Nahas apareceu e desapareceu, deixando com Nikole sua bênção.

*** *** ***

Érica recebeu a notícia da morte da amiga por celular, segundos após ela ter ocorrido. Era a primeira na lista de chamadas recentes no aparelho de Alice. Alice também apareceu entre as primeiras vítimas de uma adulteração supostamente terrorista na vacina da AIDS, durante o telejornal da noite.
A companheira de infância costumava se mostrar forte em situações assim, e não fez diferente dessa vez. Se não tivesse suplicado ardentemente para ficar com o desenho que levara seu nome, os pais de Alice diriam que ela não se importava com a perda. Os de Érica, porém, sabiam o que ela escondia por conveniência. Fizeram, então, os planos para uma viagem memorável em família. Não esperando que a jovem se divertisse e esquecesse de tudo temporariamente, apenas que tivesse um tempo para se recuperar.

*** *** ***

“Amor, estou me sentido meio estranha.” .

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sonata noturna [3]

Publicidade (3/10)

por Pudim
Foto: Google

Transatlântico Nocturnal Sonata – Descubra o Novo Mundo!

Se você sempre sonhou em viajar num navio como os da História, porém com o conforto e as facilidades de hoje em dia, Nocturnal Sonata é a sua melhor escolha.

Com um estilo nostálgico, desenho feito em homenagem aos antigos navegadores e decoração memorável, Sonata exibe um ambiente agradável e glamouroso, aliado à tecnologia e à praticidade.

A nau conta com cinco restaurantes temáticos; serviço 24 horas de lanchonete nas cabines; quatro piscinas, incluindo uma com teto retrátil, uma com toboágua e uma infantil; solários; oito jacuzzis; quadra esportiva com arquibancada; shows; teatro; sauna e banho turco com vista para o mar; onze bares internos e externos; discoteca teen e discoteca adulta; cassino com roletas, pôquer, caça níqueis e blackjack; e muito mais.

O roteiro desta temporada está impecável: partindo de Lisboa, o Sonata descerá para os paraísos escondidos do arquipélago de Cabo Verde, fará uma parada para passeios nas praias isoladas da costa oeste da África do Sul, outra no Nordeste do Brasil, para festas e passeios, e ainda várias paradas no Caribe. Em seguida, atracará para um grande concerto em Funchal, antes de dirigir-se para o ponto final, Miami.

Em sua cabine, nas piscinas ou em qualquer compartimento você se sentirá parte da realeza, e sua diversão e descanso estarão garantidos.
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As 500+ da Kiss FM


por Lucas Servidoni

No dia 31 de dezembro, ás 4 horas da tarde, começou com The Beatles - I Should Have Known Better as 500+ de 2008 da Kiss FM. A lista foi construída a partir de uma votação sobre qual era o melhor clássico do rock de todos os tempos.

A vencedora só apareceu no dia 2 de Janeiro, ás 4 da manhã, quando após Stairway to Heaven, que ficou em segundo lugar, começou a tocar a campeã: Bohemian Rhapsody do Queen.

Como a lista é muito grande, eu vou colocar apenas as cinquenta (sem trema agora!!!) primeiras.

050 - Queen & David Bowie - Under Pressure
049 - Led Zeppelin - Kashimir
048 - AC/DC - Back in Black
047 - B-52's - Legal Tender
046 - Rolling Stones - Jumping Jack Flash
045 - Whitesnake - Love in no Stranger
044 - Elvis Presley - Hound Dog
043 - Deep Purple - Burn
042 - The Doors - Gloria
041 - Chuck Berry - Johnny B. Goode
040 - Pink Floyd - Another Brick in The Wall (Part II)
039 - Queen - We Are the Champions
038 - Survivor - Eye of the Tiger
037 - Creedence Clearwater Revival - Have You Ever Seen the Rain?
036 - Bad Company - Bad Company
035 - Scorpions - The Future Never Dies
034 - Alice Cooper - No More Mr. Nice Guy
033 - The Cult - Edie (Ciao, Baby)
032 - Pink Floyd - Hey You
031 - Janis Joplin - Cry Baby
030 - Ramones - Do You Remember Rock'n'Roll Radio?
029 - Black Sabbath - Iron Man
028 - Aerosmith - Dream On
027 - Kiss - Rock and Roll all Nite
026 - The Who - Baba O'Riley
025 - Iron Maiden - Fear of the Dark
024 - Guns n' Roses - Welcome to the Jungle
023 - Rolling Stones - Out Of Tears
022 - Rush - Manhattan Project
021 - David Coverdale - Cryin' for Love
020 - Ronnie James Dio - Rainbow in the Dark
019 - Eric Clapton - Forever Man
018 - Beatles - While My Guitar Gently Weeps
017 - Joe Cocker - Unchain My Heart
016 - Kiss - Lick it Up
015 - Ozzy Osbourne - No More Tears
014 - Journey - Don't Stop Believing
013 - Elvis Presley - Tutti Frutti
012 - Jimi Hendrix - Hey Joe
011 - The Eagles - Hotel California
010 - Elvis Presley - Jailhouse Rock
009 - Beatles - Love Me Do
008 - Eric Clapton - Cocaine
007 - Rush - Tom Sawyer
006 - Dire Straits - Sultans of Swing
005 - Rolling Stones - Satisfaction
004 - Deep Purple - Smoke On The Water
003 - Beatles - Help!
002 - Led Zeppelin - Stairway to Heaven
001 - Queen - Bohemian Rhapsody

Apesar de a lista estar muito boa, eu prefiro a do ano passado, que contou com:

10º - The Doors - Light my Fire
09º - Kiss - Rock’n Roll All Nite
08º - Metallica - One
07º - AC/DC - Back in Black
06º - The Rolling Stones - Satisfaction
05º - The Beatles- Help!
04º - Deep Purple - Smoke on the water
03º - Pink Floyd- Another Brick in the wall
02º - Led Zeppelin - Stairway to heaven
01º - Queen - Bohemian Rhapsody


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Através do capítulo obscuro, espelho 60 - Finale


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Chovia. A camada de água que cobria a Estrada refletia ruídos distantes, como o de um motor rugindo e trabalhando a muitos quilômetros por hora. Uma caminhonete vermelha passou zunindo pela estrada deserta. O motorista, João, a dirigia sem se importar com outra coisa que não o próprio caminho. As lágrimas haviam voltado ao seu rosto, lágrimas de raiva, tristeza, e outras coisas mais. O vento entrava pela janela e fustigava as mãos e o rosto dele, que firmemente se contraíam.

A linha contínua de árvores dava lugar, logo à frente, a um desvio. Um conhecido e antigo desvio que João tomou sem pestanejar. Virou o volante com violência e com violência entrou pelo portão do lugar. Uma casa, grande e bonita, dessas que não se pode dizer precisamente que idade têm, se ergui imponente sob a chuva. João freou de uma só vez sobre o cascalho e abriu a porta da caminhonete empurrando-a com força para fora. Saltou do carro direto para uma poça de água e contornando o carro dirigiu-se para a entrada.

Antes mesmo de alcançar a porta, já gritava: "PAI! PAI!", e sem tocar a campainha entrou na casa. O vestíbulo estava vazio e silencioso. Passou para o outro cômodo, e ouviu um ruído. Perseguindo aquilo que rezava para ser o fim de seus problemas, entrou por uma porta...

Na sala de estar, uma vitrola tocava o disco Through a Glass, Darkly, do The Sandmen, no volume máximo.

"Hoje vemos através de um espelho, obscuramente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido."

- I Coríntios 13:12

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Anti-Humor [11]

Alternativas para a Pena de Morte

1- O Tratamento do Sarcasmo:
“Inventado” pelo alemão Rulph Krauss, essa alternativa para a pena de morte consistia em “punir” o criminoso com exatamente o contrário do que esse espera. No seu julgamento, o homem em questão não só é liberado pelo Juiz como ainda recebe uma grande indenização do Estado, mesmo que todas as evidências apontem para a sua culpa (na verdade, especificamente nesse caso). O criminoso então é liberado para viver a vida comum de um cidadão nacional, com a diferença de que ele possui uma abundante quantia de dinheiro.As pessoas da cidade logo são instruídas a dá-lo o melhor tratamento possível, afinal esse homem passa agora a ser “um grande exemplo” do “cidadão ideal”. Os membros da família da vítima ainda iriam se “desculpar” por ter acusado o homem de ter feito um “terrível mal” para o mundo, e pagam uma indenização para este. Baseado no argumento de que a total falta de justiça poética levará o criminoso a desenvolver uma consciência por seus atos e fazer o máximo para se redimir, o “culpado” é então nomeado Rei do local onde mora numa cerimônia de “comemoração” e ainda pode escolher sobre qual “Amor” prefere passar a eternidade recebendo ao escolher da mais linda mulher de sua cidade para ser sua Esposa. Em seu casamento, todo membro da cidade, agora um reino, é obrigado a pagar impostos de soberania e perfeição ao indivíduo além de cultuá-lo como um Deus até que esse diga a verdade sobre seus crimes. Uma versão teste dessa punição foi testada num homem austríaco, mas foi considerada um fracasso e muito pouco se sabe sobre o que realmente aconteceu.
2- A cadeira falsa: Nesse caso, o homem, vamos chamá-lo de “criminoso”, recebe sua sentença de Pena de Morte normalmente, na frente de um júri, e o processo se segue de forma banal até que chegue a hora do encontro do “criminoso” com a cadeira elétrica. Nesse momento, sem que o “criminoso” note, a potência do choque é ligeiramente rebaixada até um nível que apenas faz com que seus pelos púbicos instantaneamente virem pó, o que impede sua morte (além de economizar umas notas para o Governo). Porém, por todo o tempo que transcorre posteriormente à “execução” do “criminoso”, todos os cidadãos do mundo são impedidos de se comunicar de qualquer maneira com o homem, sob risco de Pena de Morte, e todos os pertences desse são queimados e seus documentos apagados, fazendo com que o “criminoso” acredite ter realmente sido executado, sendo um fantasma no mundo moderno, conseguindo apenas conversar com “mortos” iguais a ele.
Essa alternativa foi considerada um desastre, pois na maioria das vezes o “criminoso” percebia que, por não ser notado por ninguém na face da Terra, não haveria conseqüências para suas ações e, portanto, passou a cometer ainda mais crimes do que cometia antes. Seu aprisionamento também se complicava, já que nenhum documento ligado a ele tinha existência e sua face era irreconhecível.
3- Psicologia Reversa: Essa alternativa para a pena de Morte foi feita em 1957, até que alguém notou sua incrível semelhança com o Tratamento do Sarcasmo, chegando ainda a ser tentada de novo em 1976, devido a uma seqüência de enganos, originados quando Donny Bono escutou do juiz que seu teste “não poderia se seguir de jeito nenhum” pois apresentava “incrível semelhança a um fracasso passado”. Achando que o juiz estava sendo irônico ao usar Psicologia Reversa nele mesmo (Donny), Donny respondeu com sarcasmo que, portanto, não ira mais prosseguir com usa experiência social “de jeito nenhum”.
Condenado à morte por recriar a recriação de um fracasso, Donny foi para a cadeira elétrica, no tempo em que esta era falsa, o quê significaria que ele ainda estaria vivo hoje em dia senão fosse pela sua idéia de Psicologia Reversa finalmente sair do papel no Congresso, na tentativa fazer todos se sentirem melhor ao matar um prisioneiro, por meio de fingir que esse estava morto ao introduzir-se uma cadeira elétrica falsa no processo, sendo que depois, envolto de segredos, ele acabaria sendo reversamente morto mesmo assim pelos seus crimes, mantendo para o povo, porém, a idéia de que o criminoso ainda estaria anonimamente vivo pelo mundo, deixando todos contentes. Ok, na verdade, ninguém tem certeza se Donny foi executado ou não devido a certos enigmas comunalmente apresentados por qualquer sistema Judicial da história. de qualquer jeito, se ele ainda está vivo, ele acredita que está morto, ao menos que tenha empregado novamente a Psicologia Reversa em si mesmo, corretamente se enganando de que está vivo e...
4-Tom Cruise: Uma vez esse ator americano disse “Não é fácil ser Tom Cruise”. Ele está certo.
5-Velhice: Nessa versão Natural de punição, o condenado, com o tempo, começa a sofrer de falência de orgãos, diminuição do contato com os entes queridos, pele enrugada, perda de cabelo e memória (cada fio representa cerca de uma hora), desconexão com tecnologia, incapacitação de estimulo sexual a outros, incapacitação sexual, aumento de apetite sexual, odor "de velho", uso de linguagem rústica, doenças aleatórias, ligação simbiótica com novelas/pesca/palavras-cruzadas, dificuldade em cancelar contas de telefone, abuso geral de qualquer outro, entre demais severas e desnecessárias punições até que o indivíduo conquiste a morte. De certo modo, a prisão perpétua é adicionada, pois o indivíduo passa é confinado numa caixa de madeira até a eternidade.
Eu nunca me esquecerei...
...daquele verão de 42, quando minha cidade estava na Blitz
...de quando minha língua finalmente tocou meu cotovelo, de forma desconexa
...de como é engraçado sentir o toque de um celular enquanto este vibra, dos intrínsecos de seu esôfago
...da ordem presente na Natureza quando os grãos de milho explodem e viram pipoca, mesmo com todos os obstáculos que coloquei sobre eles ao alimentá-los a um gato primeiro antes de colocar tudo no microondas
...do doce cheiro das rosas...Que você tenta se forçar a sentir enquanto você se livra de um corpo com um esfregão, um facão, pinga e uma banheira num motel abandonado
...da expressão que combinava “Isso tem gosto amargo” e “Acabei de ver um cachorrinho morto na rua” no rosto de minha mulher quando eu lhe disse docemente “Eu tenho me injetado com estrogênio para que meus mamilos possam ser tão sensíveis quanto os seus...”
...do cachorrinho morto que eu vi na rua, uma vez que eu estava tomando um sorvete de manga
...da plena diferença entre “sexo” e “estupro consensual”, que você aprende, forçadamente, na prisão
...de escutar "Você foi meu primeiro e único Amor" de minha primeira namorada, enquanto estava de cuecas no banheiro segurando uma arma, mantendo sua família refém
...de finalmente falar com meus pais após 25 anos no asilo qe os coloquei em seu 45º aniversário, como parte de Serviço Comunitário
...de Juninho, Carlos e Antônio, Laura, Júlia, a pequena Marina e todos os outros demônios que habitam meu crânio
...de sair do ventre de minha mãe...Pela segunda vez.
...de quanta nudez era envolvida na cantoria de clássicas canções religiosas até que o primeiro pêlo apareceu debaixo do meu braço
....do respeito e caridade que você recebe dos outros, quando você anda pelas ruas com um arco-e-flecha nas costas
...[algo gratuitamente ofensivo e inesperado]
...

Através do espelho obscuro, capítulo 59


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

A fita entrou no tocador e logo estava sendo lida. O ruído dos primeiros centímetros sem gravação apareceu nas caixas de som da caminhonete. Lentamente, um outro ruído tomou o lugar do chiado. Um som baixo e grave que parecia vir das profundezas do abismo. E então, de repente, o carro explodiu em som e fúria, assustando João, que quase não prestava atenção na música.

Filho, eu preciso falar com você...

A última canção, a faixa perdida, sendo ouvida pela primeira vez em décadas. Para João, isso significava muito mais do que teria significado para Ferdinando. Ele amara The Sandmen desde criancinha, e conhecer o segredo e ouvir a faixa perdida era uma oportunidade tão maravilhosa que quase compensava os treze anos de amnésia.

Diga, pai...

Repreendendo-se por pensar tais coisas, João voltou toda sua atenção para a música. A cacofonia do princípio dera lugar a uma suave melodia. As vibrações da caixa de som pareciam deixar o estofo do banco, o volante, até mesmo o próprio piso mais leves. João via seus braços, seus dedos e suas pernas e eles lhe pareciam difusos.

Eu preciso te confessar uma coisa...

Era como se eles estivessem também vibrando, como a caixa de som vibrava, e num instante todo o carro vibrava da mesma maneira. Não uma vibração estrondosa, mas uma vibração de prazer, um tremor leve que tentava forçar para fora uma imensa sintonia. Logo parecia que tudo estava tomado por um leve brilho, que deixava todo o carro, e a própria estrada, no mesmo tom de cor.

Não, não, não repita isso, não!

Aquela estrada, aquela chuva, porém, mesmo em meio à luz suave e às vibrações que percorriam seu corpo, lembravam a João de coisas ruins. As lembranças ruins insistiam em voltar, tanto as dele quanto as de Ferdinando, e juntas formavam uma única lembrança...

Pare!

De novo João assustou com um estrondo da música. Filho, volte aqui, eu preciso terminar. Agora tudo parara de vibrar e continuava em cores dissonantes. Eu te odeio! Ele balançou a cabeça, tentando espantar o sono, e tirou a fita. Pai, não... pai... Teria tempo para ouvi-la direito depois. Pai... Naquele momento, só uma coisa importava.
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Através do espelho obscuro, capítulo 58


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Ele cambaleava pela mansão, sem uma noção exata de onde estava ou o que fazia ali. Corpos se amontoavam a seu redor, todos vestidos exatamente da mesma maneira. O barulho dos tiros e dos gritos ainda soava em sua cabeça, e ele se lamentava por ter deixado a arma lá em cima e não poder enfiar uma bala na própria cabeça agora.

Ele tinha que... agora pensava melhor. Tinha que sair dali. Os policiais chegariam, cedo ou tarde, mesmo na tempestade, veriam aquele inferno, seria um inferno ainda maior. Precisava de um carro, isso, de um carro. Foi para a garagem.
Demorou para encontrar o lugar onde a garagem ficava. Entrou um pouco cauteloso, não havia ido até ali, alguém poderia estar se escondendo. Mas não havia nada. Somente várias fileiras de carros. Acendeu as luzes e os carros reluziram. Foi passando por cada um deles lentamente. As chaves estavam todas na ignição.

Apesar do luxo dos primeiros modelos, um carro em especial chamou sua atenção. Estava quase totalmente coberto, enfiado no fundo da garagem. Ele foi até lá e puxou de uma vez o pano. Era um carro bonito. Uma dessas caminhonetes que faziam sucesso quinze ou dezesseis anos atrás. Estava coberta de pó, mas o vermelho da lataria ainda estava bem visível. Curioso, ele olhou para a placa. Aquela caminhonete era de...

Imagine-se gritando em silêncio, por dentro. Imagine que alguém fez um buraco minúsculo na sua pele e por ele com um gancho está retirando todos os seus órgãos internos, para depois colocá-los de volta em ordem diferente.

O grito de João foi mais ou menos assim. Como naquelas vezes em que a gente dorme e, aparentemente depois de só piscar, já acorda, ele fechou os olhos quando um carro invadia a luz dos faróis do carro de Hartman e os abriu dentro de uma garagem desconhecida, ao lado de sua caminhonete roubada, assustado pelo acidente.

Mas, assim que acordou, viu enfiados dentro de sua cabeça, de uma só vez, numa fração de segundo, todo o medo, a perplexidade, a angústia, a curiosidade, o desespero, a dúvida, o tédio, a calma, a serenidade, o prazer, a frustração, o rejúbilo, o cansaço, a felicidade, a alegria, a impaciência, o ódio o amor e a dor que Ferdinando Peregrino Nápoles, o Tolo, sentira durante treze anos.

E ao mesmo tempo, toda a vida dele, João, voltava de uma só vez. Sua infância, adolescência, juventude... Ele agora se lembrava de tudo. Da tragédia da mãe, dos problemas com a irmã... lembrava-se, o mais doloroso, do que acontecera com seu pai. E tudo vinha, tudo voltava, de uma só vez, sem misericórdia.

João caiu no chão e começou a se arrastar, sentado mesmo, com as mãos se esfolando no piso de concreto, enquanto suas duas identidades se digladiavam, destruíam e reconstruíam, uma sobre a outra, uma enxertada na outra, uma sendo a outra. O choque o paralisou, finalmente, e de olhos arregalados, boca aberta e cabelos desgrenhados ele ficou ali durante vários minutos vendo suas duas vidas sendo repetidas diante de seus olhos.

Depois, deixou-se cair lentamente até o chão. Com a cabeça encostada no concreto, começou a chorar. Durante longos minutos, ele chorou, gemendo baixinho e deixando as lágrimas molharem o chão. Até que seus olhos secaram e a poeira começou a feri-las. Com grande esforço, então, ele se levantou e, quase se arrastando, foi até caminhonete.

Entrou na cabine e deu partida, mas o motor não pegou. Girou a chave de novo, e novamente o motor não pegou. Girou a chave mais uma vez e ficou segurando-a, até que, com um estrondo, o motor começou a funcionar. Um pouco desajeitado, ele manobrou na garagem e começou a se dirigir para fora.

Enquanto atravessava o caminho até o portão de saída, pensava em como poderia ter sido tão idiota de deixar a chave na ignição aquele dia em que ele fora roubado. Se ele não tivesse deixado a chave lá, o carro não teria sido roubado, ele não teria sofrido o acidente, nem perdido a memória. Mas agora era tarde demais. Tudo aquilo tinha acontecido, e agora ele estava aqui.

Ferdinando já resolvera todos os seus problemas, mas a João ainda restava um. Ele precisava voltar para casa.

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Através do espelho obscuro, capítulo 57


Foto: Guilherme Carnaúba


por Tuma


Ele até tentou dizer alguma coisa, mas foi inútil. O homem entrou enlouquecido com o carro pelo portão e atirou no Bob e no Tim, que estavam fazendo ronda por ali. Roubou a metralhadora de um deles e começou a atirar. Mandamos os homens pra cima dele mas ele parecia um demônio ensandecido.


- Não, espere!


Ele chegou à casa principal, continuou atirando, se escondeu no banheiro, desviou de alguns tiros, matou mais um, pegou a arma de um corpo, pegou a arma de outro, agora está com duas atirando pra todo lado, você precisa se esconder.


- Eu posso explicar, você não entende!


Vamos para a sala blindada, chamei um helicóptero, ele vai demorar muito pra conseguir alcançar a gente.


- Eu estava descontrolado, achei que você tinha me traído, roubado o segredo pra você.


Ele já derrubou outra barreira, eu não sei como ele consegue, parece um exército de homens, nossos seguranças são os melhores, como eles podem cair desse jeito?


- Não, não, por favor, não faça isso, foi um deslize não vai acontecer de novo pare com isso e eu te darei poder, dinheiro, mulheres, respostas... eu te darei respostas!


Em cinco minutos ele vai entrar aqui o helicóptero nunca vai conseguir chegar a tempo, ei, o que é esse barulho se afaste da porta ela vai explod...


- Pare! Pare! Eu conheço seus segredos, eu sei quem você é, seu passado, sua origem, tudo!, eu trouxe você aqui, pare e eu lhe explicarei tudo!


Ele estendeu o braço e atirou, uma só vez. A bala atravessou pelo meio dos olhos do homem que gritava ensandecido e tirou-lhe a vida em um único segundo. O vento empurrava muita água para dentro e já começava a inundar o recinto. Ele largou a arma ali, tirou as luvas e deu uma última olhada no corpo morto e repulsivo de Tito Heisenberg antes de descer as escadas correndo.

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Através do espelho obscuro, capítulo 56


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

O choque impediu qualquer racionalização. A estranheza de ouvir a própria morte no rádio não suplantava o medo desesperado de ouvir a morte da mulher e da filha. Quase batera ao ouvir aquelas palavras, mas imediatamente recobrara a velocidade e voara pela estrada até chegar em Miranda. Felizmente as ruas da cidade estavam vazias devido à tempestade e ele pôde entrar em várias contramãos e andar sobre várias calçadas para chegar mais rápido em casa.

Seu peito já doía antes mesmo de ele avistar a casa, mas ao saltar do carro e encarar as cinzas molhadas e os destroços, sua única reação foi vomitar. Não sobrara nada. Uma fita da polícia cercava a casa, mas já estava quase toda destroçada pelo vento. Ele se aproximou, e entrou correndo pelo quintal. A grama estava toda queimada, e os anões de jardim pareciam pedaços de carvão.

Passou pelas paredes derribadas que um dia haviam sido os limites de sua casa. A água já apagava no chão o traçado de giz de três corpos, um deles pequeno e frágil. Mas não apagava a dor que aquele homem encharcado sentia. Aquilo não poderia ser lavado por nada.

Resistindo para não chorar, Ferdinando tentou imaginar de quem seria o terceiro contorno de giz, quem teria estado na casa, mas não conseguia pensar em nada. Só o que ele pensava era em como Tito Heisenberg era louco e como ele era capaz de fazer qualquer coisa. Ele pensava em como o maldito trouxera alguém e matara ali junto com Miranda e Sabine, para depois botar fogo em tudo, a fim de despistar a polícia.

O raciocínio de Ferdinando estava turvo, mas ele sabia que não havia motivo nenhum na terra para Tito fazer aquilo. Ele só se atrasara, meu Deus, que espécie de mentalidade reagiria desse jeito? Ódio, perplexidade, tristeza, desespero, dor, cada gota de chuva que batia contra a cabeça de Ferdinando vinha carregada de todas essas coisas, e escorria junto com elas enquanto a alma daquele homem, daquele pobre Tolo desmemoriado, vazava e ia murchando pouco a pouco.

Já era noite plena sobre as nuvens, e Ferdinando continuava ajoelhado sobre o túmulo de sua vida. Ali jazia tudo que ele construíra durante treze anos, a partir do que Nino lhe deixara. Mas Nino se fora, Ernest se fora, o gato se fora... Kaspar Hauser se fora, há muito tempo atrás... e agora iam Sabine, Miranda, e um anônimo que adotara seu nome. E, nesse tempo todo, ele nunca conseguira recuperar sua memória, nunca conseguira recuperar sua identidade.

As palavras de Nino, mais uma vez, o assombravam. "Eu achava que aquilo poderia durar para sempre, você fazendo as vezes de meu irmão e tudo o mais. Mas eu estava enganado. Aquilo, por melhor que possa ter sido, era só uma ilusão." E assombravam. "Assim, de uma hora pra outra, alguém enfiou uma adaga no peito dele e fez aquela figura que me acompanhara a vida toda, que sempre me parecera tão sólida, desaparecer." E assombravam."Eu preciso ir atrás de algo mais verdadeiro, mais perene."

Depois de tanto tempo, ele compreendia finalmente o sentido daquelas palavras. Toda a vida de Ferdinando Peregrino Nápoles fora uma ilusão. O Tolo chegara, apagado e vazio, em Miranda, e então havia deixado construírem sobre ele algo que não era ele. Se tornara assassino de Hauser, irmão de Nino, herdeiro dos Nápoles e de Ernest, dono do armazém, marido de Miranda, pai de Sabine. Mas aquilo não era ele. Não ele, de verdade, mas só uma ilusão. E agora, essa ilusão estava terminada. Todos os feiticeiros e gnomos que haviam tomado parte dela estavam mortos. Todos. Nino, Ernest, Hauser, Momo, Miranda, Sabine. Ferdinando Peregrino Nápoles estava morto. Havia sido noticiado no jornal. Haviam encontrado seu corpo e o de sua família queimados em um incêndio acidental aquele dia.

Agora, ele estava limpo novamente. O Tolo regredira ao princípio, apagado e vazio. Era só uma folha em branco, um saco vazio, um vagante. Estava pronto para começar uma nova vida, prontíssimo! Mas faltava ainda uma coisa. Antes, precisava terminar o serviço da última. Antes, precisava se desligar completamente do que havia sido por treze anos. Antes, precisava matar Tito Heisenberg.
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domingo, 4 de janeiro de 2009

Para ler com pressa.

Foto por Bruna Pimenta.


PEGADAS.

por Stefano Manzolli.


Corro, mas as pegadas permanecem logo atrás de mim. Não há tempo, distância ou velocidade que possa apagá-las. E o vento? Também não. O vento leva apenas a forma física do buraco na areia, porém a essência permanecerá para sempre.

A respiração está ofegante e os olhos nublam periodicamente... crio, nas imensas paredes rochosas, meus fantasmas de tempestade: a garrafa de uísque no chão, os olhos sombrios e estilhaçados, o corpo taciturno ao pé da escada, a árvore de Natal incendiada pelas luzes pisca-pisca.

Faz tempo que passou o Natal, até já entramos em um novo ano... a árvore, todavia, continuava na sala apenas por preguiça de desmontá-la. Talvez, não sei, era necessário que fosse testemunha - inanimada, velada, solene -, antes de tornar-se fuligem.

Agora, ela aparece um pouco desfigurada entre as fendas das pedras. As lágrimas não são suficientes para levá-la embora. Minha mente, frenética, ainda digere a idéia da fuga... "Não é fuga!" e a voz explode ao colidir com o ar. "Não é fuga!" e há vertigem na frase. "Fuga... fuga... fu...", a repetição amolece a idéia e torna-a mais fácil de ser compreendida... é fuga, quem sabe?

Fuga de mim mesmo, de um futuro que tentei não construir, de um clímax calculado e do épico envolto pelo manto da morte.

Chego à orla da praia. À frente, o mar - turvo, misterioso, entorpecente, convidativo. Atrás, as pegadas - fantasmas, estúpidas, eternas, cacos de vida. Sorrio... irônico da minha situação; chuto uma porção generosa de areia e cada grão reflete o sol - faz tempo que não olho para o céu. Hoje, está sem-graça: não há nuvens, assim como ontem à noite não havia estrelas. Entro na água, a qual engole meus pés... pernas... braços... depois, num momento sublime, percebo-me todo imergido e aprecio a idéia de não saber nadar.

É só uma questão de segundos para romper o meu cordão umbilical com a vida. Como sempre ouvi falar, as lembranças chegam (aos montes) e afundo cada vez mais - na água e na nostalgia. Falta o ar, chega a agonia de saber que não há volta... bato os braças e as pernas descompassadamente, engulo cada vez mais água. Vejo, em flashes, a noite passada e a covardia me empurra para baixo.

Começam os delírios.

Uma sereia, uns familiares, um ídolo da infância... um salva-vidas (um salva-vidas?) - nadando em minha direção, segurando meus braços, colocando minha cabeça para fora das ondas. Uma rajada de ar infla meus pulmões; respiro vagarosamente, sem motivos para voltar à realidade.

Estou vivo... se pudesse, escolheria a morte covarde - não posso mais. Resta-me o inevitável: uma nova chance de enfrentar as pegadas eternas da minha vida.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Através do espelho obscuro, capítulo 55


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Cansado de esperar a água parar de cair e temeroso de atrasar-se para o encontro com Tito, Ferdinando saiu da proteção da ponte e voltou para a rua. Embora não enxergasse praticamente nada, conseguiu encontrar o caminho para fora da cidade e logo estava na estrada.

Notou ali, longe da iluminação das casas e dos prédios comerciais, que já estava escuro. Não sabia porém se era tudo efeito das nuvens cada vez mais negras que se despejavam do céu ou se o pôr-do-sol já passara.

Só de pensar em que loucura Tito poderia cometer por um mero atraso Ferdinando tremia, e se culpava por perder tanto tempo conversando com Ariel. Ele tinha, porém, conseguido descobrir o segredo, e a fita estava consigo. Tudo ficaria bem.

Ligou o farol alto e aumentou a velocidade. Precisava chegar logo, a chuva não o pararia de novo.

Ansioso de ouvir alguma outra voz humana e saber algo sobre o tempo, Ferdinando ligou o rádio.

A presidência... bzzbzz..

Aquela era uma rádio de Miranda, por isso não pegava perfeitamente. À medida que se aproximasse da cidade, porém, ouviria as notícias melhor.

O cientista... bzzbzz... além de... bzzbzz

Apesar da escuridão e da chuva, ele reconheceu as luzes do posto em que abastecera pela manhã. Já estava nos limites da cidade, agora tinha certeza.

O tempo: uma tempestade se abate sobre a região. A chuva cai torrencialmente, há muitos relâmpagos e vento. Recomendamos às pessoas que fiquem em casa. As previsões são de que chova ao menos até amanhecer.

Ferdinando aumentou o volume.

E uma última notícia: morreu hoje Ferdinando Peregrino Nápoles, sua mulher e sua filha, em um incêndio que destruiu a casa da família no bairro de Isla Bela. Ferdinando, dono do mercadinho local, chegara na cidade...
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Anti-Humor [10]


Novo Regras de Gramáticas

(esse texto estas de acordo com as novas regas/?!)
(Y) Como todos os Brasil-eiros alfabetizados devem saber agora, 2010 representarár-se-à-ia um novos marcos para a Gramáticas. Isso significa que esses doze terão de quesse ajustar às novas regras propostas por Eustrábio Garoto, o Conde das Línguas, para dificuoltar mais a língua portuguesa a ponto de que finalmente todos a abandonem-na em troca da receptora e simples língua Inglesa, fotografada onti fazendo topless (palavra exclusiva desta) na ilha dos Termos Esquecidos, enquanto chutava areia no rosto de "supimpa" numa jogada inusitada de marketing (termo do qual possui os direitos*).5/2/2010
Como foi notado-se, a língua portuguesa raramente utiliza-se das letras “W, Y, K, X, Q” e, portanto, foi criada a regra do “Rodízio de letras”. Assim em todosos meseses começados por letras e com mais de 3 vogais, o alfabeto será invertido, sendo que “A” passará a ser “Z”, “B” passará a ser “Y” e assim por diante. Dessa maneira, seguindo a praxe do politicamente correto, todasas as letrasas serão usadasas de maneira menos desigual.Porém será necessário que todo parágrafo escrito seja marcado com a data em que foi criado.5/2/2010
Pensando também nos analfabetos quetêm dificuldades em lembrar de todas aquelas chatas e cansativas letras, foi decidido que cada letra irá receber um nome, facilitando seu aprendizado. “A”, por ex-emplo, será conhecido como “Felipe”; B chamará “Cá”; “C” chamará “Cêi” e assim por diante nessa seqüência. Com a proposta de demonstrar um pouco de humor,distanciando do conservadorismo das últimas mudanças, o novo Português utilizará de dois novos pontos gramaticais:”(Y)” o fio dental e “P^)”, o pirata feliz, que demarcão trechos sarcásticos de textos..
Uma enquête recenteentemente feita entre os brasileiros (entende-se: "os moradores da cidade Brasil no Amapá"), a letra "Q" foi votada a menos atraente e mais antiquada, sendo descartada nas pelas novas regras. Cientista$, engenheiro$ e "pessoa$ com doutorado em escrever" estãarão atualmente desenvolvendo uma nova letra, que possa resumir a vida moderna (tal como "T" fez pela Idade média) além de ser adorável, divertida, atraente e irritadiça, pois todossomos hum-anus. Embora o design seja um mistério foi revelado que a letra terá: "Um misto do misticismo do 'Y' com austeridade do 'F', e uma pontinha da inovação do 'Ç' ". A nova letra será usada por Ana Hickmann no SPFW em Março. Enquantoisso, o parceiro comum de "Q", "U" está sobre observação por tempo indeterminado, sendo vogal menos utilizada até agora, embora a palavra "utilizada" certamente a beneficiou, assim como "beneficiou".5/2/2010
Para incentivar um aprendizado rápido dasas novas regras, o guverno queimará no mês de Aberiu toda obra ainda presente na versão obsoleta dos tempos de “2009”, esperando que exista uma rápida tradução desses. O primeiro Brasil-eiro a se alfabetizar vai ser premiado, com o nome incluído nas listas famosas da história, como: “O protocolo de Kyoto”, “Os dez mais procurados do FBI”, “Tratado de Negação do Holocausto”, “O protocolo de Kyoto 2: agora a coisa tá fervendo” e irá para primeiro lugar na “Lista de espera para Transplante de Fígado” (caso o vencedor não tenha problemas no fígado, isso será arranjado).5/2/2010
A transição para a nova gramáticas não foi sem-com-flitos pois, após tal aproximação dos países-de-línguas-portuguesas, Portugal declarou guerra ao Brasil depois de sua população finalmente conseguir compreender várias piadas típicas Brasil-eiras. Dois meses depois uma trégua foi anunciada, quando os portugueses entenderam a graça das piadas, com ajuda de Lula, em seu 8º ano de stand up. “É verdade, desmatamos tudo aqui à procura da raiz quadrada.Achei que desmatar era ressucitar,hehe” disse o Presidente português. P^) 5/2/2010

* seu uso indevido resultará no pagamento de...Royalties?!?Meu Deus, a Troca já começou. Inventem palavras próprias,caceralho



Avaliando objetos em usos fora do seu propósito

Pesquisas mostram que amizades existem desde tempos remotos, como observado em certos fósseis humanos de Pompéia, cerca de 75 d.c., nos quais notam-se dois amigos eternamente conservados e carbonizados no que aparenta ser o auge de uma versão primordial do high-five. Tão cedo o homem criou o instrumento e passou a ter possessões, há indícios de amizade pela História. Amizades são como namorar outros só que sem nenhuma possibilidade de sexo e, de algum jeito isso é legal, mas ao mesmo tempo, a amizade tem de ser o completo oposto disso senão convívios seriam desconfortáveis.
...Alimentos não fazem bons amigos. Eles tendem a desaparecer em festas e te deixam sozinho. Na maioria do tempo, seu principal foco parece ser instigar seus companheiros a caírem em tentação. Não importava o quanto eu me empenhasse, todos meus relacionamentos com comida tinham um fim prematuro, como se delimitados por uma “data de validade” de sortes. Sempre que comentava sobre o meu peso (não me julge; eu já fui um bebê obeso), eles tinham o nervo de apenas ficarem estáticos e quietos à minha frente, me encarando sarcasticamente com seus carboidratos; me sentia falando com as paredes. Seus campos de emoções são restritos também: ou amargos ou doces; os poucos diferentes, como o “Romeu e Julieta” são bipolares demais para o meu gosto, me enjoam. A maioria dos alimentos também sempre se atrasam para compromissos, como a jantares chiques, e aqueles que são pontuais, como x-salada, estão sempre deselegantes e desarrumados. A personalidade dos alimentos também é muito manufaturada, como produtos de uma cultura de massas.
Alimentos malemal têm grande paciência, principalmente os doces. Uma visita ao parque entre colegas (pretensos camaradas) logo se demonstrou insuportável e meus companheiros, um grupo de pequenos torrões de açúcar (pouco responsivos, devo adicionar) após não mais de cerca de 5 minutos sentados na grama, simplesmente levantaram-se e, sem nenhuma palavra, andaram lentamente até um pequeno montinho de terra com um buraco no meio, como se guiados por dezenas de pernas pequeninas; nunca mais os vi, tendo sentando lá por cerca de mais meia hora até digerir a ofensa (é, usei mesmo esse termo chulo; vocês me magoaram). O quê me incomodou ainda mais foi o fato deles não terem demonstrado a mínima possibilidade de locomoção anteriormente, tive de CARREGÁ-los até o parque, sob falsos pretextos de amizade. A personalidade de alguns alimentos chega a ser tão fria que, no que deve ser um extremo da metáfora visual, eles literalmente preferem viver em GELADEIRAS. Infelizmente, a regra de que comer seus amigos estraga amizades permanece.
Por mais que o mercado de amizades, normalmente um mercado de verdade, seja amplo e providenciem boas parcelas, o problema é que simplesmente alimentos não apresentam os quesitos necessários para uma boa amizade, com a possível exceção da banana que além de modesta, madura e sempre consciente da hora de ficar quieta, também sempre vêm em grupo, fica ótima com mel e escuta como ninguém, me dando suporte quando passei por um período difícil com minha namorada melancia (ela me acusava de ser um depravado, não sei por que) e precisava de uma casca para me apoiar. Não só isso, a mesma banana, num ato de pura generosidade, parecendo nem se importar com o intenso e eterno dano físico que isso lhe causou, fez um homem barbudo escorregar no meio da rua para o meu divertimento, que fiz questão de demonstrar com uma gargalhada imediata e insultos ao senhor abatido. No entanto, as qualidades da banana não parecem ser tão apreciadas quanto deveriam, sendo que fiquei surpreso ao ver que uma réplica, tosca, de um cacho de bananas feito de cera era mais cara que um cacho de bananas em si.
Em suma, acho que a lição é que alimentos não fazem bons amigos assim como amigos não fazem bons alimentos (o intestino humano não está acostumado a digerir tanta proteína ao mesmo tempo).

Através do espelho obscuro, capítulo 54


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Quilhas assestadas contra as vagas vultuosas, empreende-se a viagem! O Tolo toma pelo leme seu navio e passa a passear com pressa pela próspera cidade, a Prospera que em meio à terra é uma ilha, a Prospera que de Miranda é mais mãe (ou seria pai?) que irmã.

O sol está bem escondido atrás das nuvens cada vez mais volumosas. Mal se sabe se é dia ou noite. O Navio sabe, porém, que o Capitão tem pressa, e corajoso enfrenta as ondas. As vagas acertam em cheio o casco, inundam e enchem de água o convés, mas os marinheiros permanecem em seus postos.

Deixara Ariel poucos minutos atrás. O homem se despedira dele na porta da gravadora, e ele correra debaixo da chuva direto para dentro do carro. Levava consigo somente as roupas do corpo, o velho revólver do porta-luvas, sempre presente para as emergências, e uma fita cassete, que guardara muito em segurança no bolso do casaco.

As ruas da cidade estavam congestionadas. A chuva só piorava e andar de carro, ou mesmo a pé, era uma temeridade. Tudo era vulto e palidez. Nada havia que se visse bem. Ele se viu obrigado a parar na calçada sob uma ponte e esperar a tempestade passar.

Mas ela não passava.
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