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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 10


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

O balconista parou de assoviar. Aprumou-se no banco do motorista e virou parcialmente o rosto para João.

- Ei, companheiro – ele disse -, nós aqui em Miranda não gostamos muito desse assunto. Essa história de que a última faixa do Through a Glass desapareceu de algum jeito é uma mentira inventada pelos conspiradores malditos, que não aceitam o fato de Ike e Hip terem...

Enquanto falava, o rosto furioso de Hartman saía de foco aos olhos de João. Os movimentos que a boca do balconista fazia para expressar sua eloqüência nervosa apareciam turvos, lentos, uma mancha de cor indefinida se expandindo no borrão branco que era o rosto dele. Seus olhos desapareciam como buracos e reapareciam como luzes, e por vezes até uma de suas mãos saía do volante e apontava, inconstante, para o rosto impassível de João.

As palavras que o outro proferia pareciam aos seus ouvidos ecos do silêncio, um grave ruído como aquele que mora dentro das conchas do mar. Em seu lugar, o que João ouvia, cada vez mais alto, eram os versos cantados por Morf Honey-Roy na música que saía das caixas de som e se espalhava pelo carro como tinta jogada no ar. Mister Sandman, bring me a dream, ele ouvia, make him the cutest that i’ve ever seem, e os versos tornavam a se repetir, adquirindo distorções e tons doentios. Bring me a dream, bring me a dream, bring me a dream...

Antes que João conseguisse alcançar as orelhas com as mãos que até elas levava, o som da música foi cortado por um outro muito mais alto e assustador. O rumor de alguém buzinando desesperadamente enquanto invadia a luz que os faróis do chevette azul jogavam na estrada, seguido pelo ruído de vidro se quebrando e da espinha de alguém se partindo, todos esses barulhos interromperam a voz de Morf, que sumiu na noite, e a voz de Hartman, que se calou, e os pensamentos de João, que sem que ele percebesse começaram a escorrer para fora enquanto seus olhos se apagavam, deixando residual na memória a imagem de dois carros estraçalhados um contra o outro pela força de seus motores.
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O Palácio Vitral: VII - Amigos à parte

por Pudim

Witch se levantou e foi conversar com os amigos num canto do Pavilhão dos Ipês.
“Já pode explicar”, a que conduzia o grupo acelerou Daniel.
“Bem, amigos, essa é Melissa, minha amiga, a responsável pelo grito que vocês devem ter ouvido. Ela compete pela equipe Preto & Branco, como mostra o uniforme”, Daniel relatou.
“Olá, Melissa”. Renato foi o primeiro a saudá-la. “Mas o que aconteceu?”
“Bom, ela estava andando à minha frente quando eu a reconheci. Cumprimentei com um susto, e isso não deu muito certo. Na verdade, acho que ela estava me evitando e não esperava que eu a percebesse.”
“Não era isso”, interrompeu a garota, “é que eu estava concentrada nos poemas e não vi você lá. Pelo menos achei o erro do nosso corredor”.
Daniel mudou sua fisionomia rapidamente, como se tivesse lembrado algo sobre a garota. Esperou todos se apresentarem e a cumprimentarem para dispensá-la.
“Com licença, Melissa, mas preciso conversar em particular com a Witch.”
“Sem problemas”, respondeu Melissa, fazendo sinal de O.K. com os dedos e piscando um olho. Outro jogador de seu time apareceu e os cinco puderam se reunir em separado dos dois.
“Acho que não vai ser muito bom nosso time se aproximar do Preto & Branco. No corredor, antes de encontrá-la, encontrei dois erros gramaticais. Ela só mencionou um. Conhecendo-a, ela nem deve ter percebido que poderia haver mais de um por caminho.”
Eduardo colocou as mãos no rosto e exclamou um “Putz!” em surpresa. Todos riram.
“Você é quem sabe, Daniel”, concordou parcialmente Witch, “temos que nos concentrar nas tarefas. Acharam os cinco erros ou o Eduardo deixou passar um mesmo?”
“Eu achei um”, reportou Eduardo.
“Mais dois aqui”, completou Anderson, “um nos poemas e um na porta do Pavilhão”.
“Deve ser isso mesmo. E a pista da Grande Final?”
“Acho que encontrei. Em um dos poemas da minha alameda estava grifada a palavra ‘Taprobana’, mas não sei dizer o que significa.”
“É o antigo nome da ilha de Sri Lanka”, explicou Daniel. “Deve haver um professor de Geografia ou Literatura na Estrada para explicar isso.”
“Que bom que não precisamos. Vamos reportar os erros para o monitor liberar a próxima sala.” Witch tinha alguma noção do que fazer para a próxima etapa. Mostrou o papel que estivera analisando aos amigos, explicou qual tinha sido a solução que encontrara. Finalmente, rasgou o envelope, constatando que o verdadeiro texto estava escrito no lado de dentro.




Bosque, segunda etapa.

Caça ao tesouro!
Encontre a primeira pista logo abaixo.




Foto por Guilherme Carnaúba

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Gazing at the Prey

por Arthur Costa Gurgel

Através do espelho obscuro, capítulo 9


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Hartman deu uma risada alta e respondeu:

- Mas é claro que sim, é a melhor banda de todos os tempos...

João, após um longo tempo sem tê-lo feito, sorriu, um sorriso tímido, e fez questão de aumentar o volume do rádio, deixando que Sunshine melhorasse um pouco seu humor.

- Sim, sem dúvida, mesmo eles tendo só um disco. Mas ainda assim eu sempre achei que só meu pai conhecia essa banda, foi ele que me apresentou, quando eu era novo. - à menção do pai, o sorriso sumiu do rosto de João, mas ele continuou animado pela recém-descoberta afinidade com o balconista.

- Não, não, essa maravilha não é exclusividade sua e do seu pai. Nós em Miranda adoramos a banda... afinal, a família deles era daqui.

- Mas eles não eram de Prospera? A gravadora Caliban era de lá também não?

- Bem, na verdade o pai deles, William Honey, era de Miranda. Depois ele se mudou para Prospera, onde conheceu Anne Roy e, enfim, teve os quatro, Ike, Morf, Hip e Fant Honey-Roy.

- Eu não conhecia essa parte da história. Tudo o que eu sei sobre a banda foi o que meu pai me contou, mas ele também só conhecia a história deles a partir de quando eles foram contratados pela Caliban para gravar o Through a Glass, Darkly.

Hartman riu e acenou com a cabeça, no instante em que Sunshine terminava e soavam as primeiras notas da versão de Mister Sandman que a banda havia feito. O balconista começou a assoviar a melodia, e acelerou o carro um pouco mais. João, já de novo deprimido pelas sucessivas menções a seu pai, estava quieto. Um pensamento que lhe veio, entretanto, foi o suficiente para tirá-lo do silêncio. Ele virou-se para Hartman e perguntou, com os lábios tremendo:

- Você acredita na lenda da canção perdida?

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Xícaras de boa noite.

por Stefano Manzolli

as luzes, no horizonte,
parecem estrelas:
cheias de graça brincando
de fazer cócegas no céu.

mas as nuvens não dão risada,
quero dizer, eu não escuto nada.
além do grunhido do meu gato,
do berro do papagaio e a
estranha voz da vizinha.

tomo outro gole do espumante
chocolate-quente, que esfria
em cima da mesa cheia de papéis.

sinto o meu avesso aquecido,
diferente dos meus pés cheios
de meias de lã e minhas mãos
cobertas de luvas.

de repente,
vejo umas luzes apagarem
(como acontece em todas as noites).

o sopro quente e compassado
do meu pequeno gato,
faz cócegas no meu calcanhar.
o papagaio cansa de falar sozinho,
assim como a vizinha portuguesa.
enfim, decidem dar paz aos ouvidos.

todos dormem e eu observo
a vida aquietar-se sob a penumbra.

e sobram somente estrelas,
cheias de graça, brincando
de fazer cócegas no céu.

alguém ri.
eu rio
(pra falar bem a verdade).

balanço a cabeça - cheia de dúvidas.
fecho a janela, desejo boa noite ao gato,
ao papagaio, às luzes esquecidas,
à vizinha de voz estridente.

deito com um monte de sonhos
rodeando a minha cabeça.
beijo sua boca-imaginação,
roço os pés gelados,
abraço um travesseiro,
rezo para o dia de amanhã

e durmo.

sonho com
estrelas
e luzes
e gatos
e papagaios.

menos com a vizinha:
não gosto da voz dela.

Que pena!

Foto por Bruna Pimenta

ROCKY, UM LUTADOR

por Julia Lopes


Sylvester Stallone ficou conhecido pelo mundo todo quando escreveu e estrelou “Rocky”, um filme cuja história retrata a vida de um lutador que aproveitou uma chance de ouro, superou as expectativas de todos e tornou-se um vencedor.
A história que daria origem ao filme começou no início da década de 70, quando tudo o que Sylvester Stallone tinha era uma quitinete 3x4 e U$100,00 no banco. Na época, o ator só fazia pontas em alguns longas, dentre os quais “Bananas” de Woddy Allen. Mas chegou até mesmo a estrelar o pornô “Party at Kitty and Stud's”, quando sua situação financeira estava em um ponto crítico (filme que, depois do tremendo sucesso “Rocky”, teve suas cenas mais fortes cortadas e foi relançado com o nome “The Italian Stallion”). Porém, em 1974, o ator teve a oportunidade de ajudar a escrever o roteiro de “The Lords of Flatbush”. Essa pequena experiência como roteirista, junto ao fato de ter assistido a uma emocionante luta entre Muhammad Ali e o desconhecido Chuck Wepner, levaram Sylvester a escrever o primeiro grande sucesso de sua carreira, “Rocky, Um Lutador”, roteiro que levou menos de três dias para ficar pronto.
Depois de escrever a história, Stallone foi apresentar a idéia do roteiro a diversos produtores. Muitos se interessaram, mas relutaram em aceitar Sylvester, pouco conhecido naquela época, para estrelar o filme. O ator chegou a receber a oferta de U$350.000,00 para vender o roteiro, mas não atuar. Mesmo com todas as dificuldades financeiras que estava enfrentando na época, Stallone recusou a oferta, pois, segundo ele, o personagem de Rocky Balboa tinha caráter autobiográfico.
Tanto insistiu que, finalmente, em 1976, Sylvester Stallone conseguiu o que queria. Ao lado dos produtores Robert Chatoff e Irwin Winkler, o filme foi rodado com U$1,1 milhões, dinheiro que a equipe conseguiu juntar com a hipoteca de suas casas. E, em 28 dias, o longa já estava pronto. “Rocky” foi um tremendo sucesso de público e crítica. Além de arrecadar 117,3 milhões de dólares só nos EUA, o filme foi indicado em 10 categorias do Oscar, tendo vencido os prêmios de melhor filme de 1976, melhor edição e melhor direção (John G. Avildsen).

O filme conta a história de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um lutador de bairro da Filadélfia que não tem grandes expectativas para sua vida e que, além de treinar na academia do bairro e lutar de vez em quando para ganhar algum dinheiro, trabalha como “cobrador” para um agiota. Rocky é um sujeito mal interpretado, pois, apesar da aparência rude que lhe dá um ar de encrenqueiro, possui um enorme coração. Rocky tem duas tartarugas de estimação, Zás e Trás, com as quais divide seus problemas e alegrias. Apaixonado pela balconista do pet shop do bairro, Adrian (Talia Shire), Rocky sempre vai à loja para conversar com a moça que, apesar de mal falar com ele, já que é muito tímida, também gosta de Rocky.
A vida de Balboa começa a mudar quando a luta entre o campeão mundial, Apollo Creed (Carl Weathers), e Mack Lee Green é cancelada porque este acaba quebrando a mão. Apollo desafia outros boxeadores de destaque para lutar com ele, mas todos recusam, com a justificativa de que 5 semanas de treino, tempo até a data marcada para a luta, é muito pouco para preparar-se. Creed, então, uniu o útil ao agradável e, na tentativa de melhorar sua imagem popular, desafia Balboa para uma luta de boxe valendo o título mundial de pesos pesados. Alegando que, assim como a América, “terra das oportunidades”, ele daria uma chance na vida a um desconhecido. O interessante é que Rocky não é escolhido por suas técnicas ou habilidades no ringue, mas sim pelo apelido utilizado nas lutas: O Garanhão Italiano. Nome que, segundo Apollo, a mídia iria adorar.
Encorajado, Rocky vê neste desafio a chance de mudar sua vida para sempre e provar ao mundo que não é só mais um vagabundo do bairro. A partir daí, Balboa começa a treinar e ficar cada vez mais forte (cena do filme marcada pela presença da música mundialmente conhecida “Gonna Fly Now”). Porém, ao contrário dos clichês, o lutador não acredita que irá vencer a luta, só espera fazer o que nenhum outro lutador fez contra Apollo Creed, agüentar os 15 rounds de luta. É nesta atmosfera - entre treinamentos, a luta para provar ser alguém e o seu romance com Adrian - que a história de Rocky Balboa se passa.

Aparentemente, tudo no filme foi perfeito, e não poderia ter sido melhor sem os atores incríveis que participaram. Sylvester Stallone, assim como seu personagem, Rocky, impressionou a todos com seu esplêndido desempenho, tanto como roteirista quanto como ator. Nas telas, conseguiu passar com perfeição as mais diversas emoções que seu personagem sentiu, tendo feito neste filme, talvez, a mais marcante atuação de sua carreira. Já Talia Shire conseguiu cativar todos através do jeito tímido e discreto de Adrian, personagem que, visivelmente, completava-se com Rocky (vide cena da patinação do gelo, onde Rocky diz que seu pai havia lhe falado para usar o corpo já que sua cabeça não era muito boa; e Adrian conta que sua mãe já havia dito para ela desenvolver o cérebro, pois seu corpo não ajudava). Assim como Paulie (Burt Young), irmão brigão de Adrian, provocava as mais variadas reações no público, através do caráter “duvidoso” de seu personagem, o que, de certa forma, acabou cativando todos. Tudo isso sem mencionar Mickey, vivido pelo ator Burgess Meredith, o treinador determinado e rabugento de Rocky. Todos estes são personagens de personalidade forte que ficaram marcados para sempre na história do cinema.
Além de ser premiado com 3 Oscars, o filme foi eleito diversas vezes nas premiações do Instituto Americano de Filme. Dentre as premiações estão: Rocky Balboa está entre os 10 melhores heróis do cinema de todos os tempos; o filme está na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos; “Rocky” está, também, na lista dos 100 melhores roteiros de todos os tempos.
Sem querer supervalorizar o filme, mas “Rocky” é, sem dúvida, um dos maiores filmes do século XX, com uma “moral” que, por mais antiga que seja, funciona tão bem hoje quanto funcionava na década de 70.
“Rocky” é mais do que a história de um pugilista que vence na vida, é praticamente o conto de uma Cinderela com luvas de boxe.





foto: Google

O Palácio Vitral: VI - Witch.

por Pudim


A única menina do time observava o papel com o texto da tarefa atentamente. Não precisou de muitas leituras para entender o que Renato levou um corredor inteiro para descobrir. Antes de começar seu caminho, viu Eduardo demorando-se em frente ao Pórtico Jacarandá. No lado oposto, Anderson examinava as equipes que se dividiam antes de dirigirem-se aos corredores.
Witch era experiente em gincanas. Apesar disso, nunca tinha encontrado competidores tão hábeis como os da equipe Alcatéia. Metodicamente, leram a primeira instrução, teletransportaram-se para o hall de entrada do Bosque (ninguém os viu indo até lá) e seu líder já estava quase no fim do corredor em que Witch entrava. Tudo isso enquanto o time da garota ainda estava atordoado demais para pensar.
Mas ela não se deixou abalar. Talvez as equipes viessem a se tornar grandes rivais. Talvez (melhor para W.E.I.R.D.), grandes aliadas. O fato era que a Alcatéia já deveria estar lendo a segunda instrução quando a jogadora estava na metade do corredor. O líder, pelo menos, sumiu de vista. Seria difícil transformar seus colegas em um time à altura, pensou.
Com o caminho quase ao fim, não encontrara nada. Sabia, apesar da frustração, que tinha deixado mais gente para trás do que havia à frente. Concentrada, não desviava o olhar um único segundo dos poemas. Despertou um pouco assustada quando não havia mais nada para ler. Olhou para trás, satisfeita. Não tinha nenhum erro ali mesmo.
O Pavilhão estava quase vazio. Nem os companheiros – para sua infelicidade – estavam ali. Contentou-se vendo que o jogador tão rápido analisava também sozinho e visivelmente intrigado o envelope da próxima etapa. Era permitido que os líderes o analisassem antes de os colegas chegarem, mas eles não poderiam sair do Pavilhão sem a tarefa cumprida.
Retirou o seu. Sentada junto à parede, abriu o lacre e retirou o papel preto dobrado ao meio. Olhou ao redor. Certificou-se de que estava entre os primeiros. Finalmente, os dedos trêmulos revelaram.



Nada aqui.


A líder sentiu a circulação sangüínea percorrer-lhe o corpo intensamente. Olhou atrás do papel, virou contra a luz, de ponta-cabeça, espelhado de diferentes maneiras. Nada ali. O coração começava a disparar, ia entrar em desespero. Olhou mais uma vez ao redor. Observou o líder da equipe de uniforme preto. Observou mais muitos alunos chegando. Ouviu um grito assustador, mas continuou observando tudo como se assistisse ao trânsito de veículos da janela. Observou o monitor pedindo ordem e silêncio aos alunos. Observou Renato e Eduardo quase se chocando. Observou Daniel que se aproximava com uma menina que nunca tinha visto.
Só restava uma possibilidade. A sagacidade da garota foi suficiente para testá-la quase no mesmo tempo do líder da Alcatéia. Sim, ela estava certa.
Assim, Witch mostrava por que era a líder, e fazia jus ao apelido.



Foto por Bruna Pimenta

Uma história sem amor.


por Marcela Evangelista

O telefone tocou. Minutos antes ele pensara no telefonador (e como). Naquele momento ele se ocupava com coisas que poderiam ser feitas depois, mas não quis deixar para depois por que era filosofia.
O tempo corria, mas nosso personagem parou no instante em que percebeu como era difícil viver sem a pessoa que telefonava. Ele sabia que as coisas nunca voltariam a ser como antes, nem mesmo sabia se queria que fossem. “Com o tempo as pessoas mudam... eu mudei, ele mudou, porque a vida torna tão mais difícil dizer o que sinto?” Pensou. Talvez nesse momento tenha complicado mais o caso, o problema era que tais pensamentos eram inevitáveis. Cada olhar e gesto, cada toque e palavras ditas pela rouca voz pareciam se renovar a cada segundo, em sua memória.
Até que o telefone tocou. E parou. Como um flash, fechou os punhos e sentiu um nó se desenrolando no peito. Olhou a tela que piscava, reconheceu o número. Não pensou em mais nada. Reviveu e discou de volta. Sem resposta. Acalmou-se e desistiu. Ele vivia da emoção e a paixão o fazia esquecer da razão, e aquela se tornava prioridade dentro dele. Nada podia fazer já que não conseguia parar de pensar pelo coração e então, cortou o nó. Definhou. Dizem que o preconceito é uma arma letal.



Através do espelho obscuro, capítulo 8


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

João acordou com o corpo balofo de Hartman inclinado sobre ele. O rosto do balconista estava molhado de suor, e balançava, ou era o próprio corpo de João que chocalhava, e ele via a cara do outro indo para cima e para baixo. Hartman disse algo como “Vamos embora”, e João o seguiu para fora. O balconista apagou as luzes, trancou a loja e foi caminhando em direção ao seu carro, um chevette azul escuro.

Entraram no carro em silêncio, e logo já estavam na estrada. A escuridão da noite, cortada somente pelos faróis altíssimos, e o ruído do vento lá fora dominavam o interior do carro. Após andarem alguns quilômetros, Hartman disse algo:

- Eu liguei para a polícia, companheiro. Eles não fazem idéia de quem podem ser aqueles tipos estranhos que levaram seu carro, mas estão procurando um veículo parecido com o seu...

João virou o rosto para ele, com uma expressão assustada, e agradeceu murmurando. Deixou os olhos divagarem e voltou-os para a estrada, sem porém concentrar-se em algum ponto. Seu campo de visão flutuava e se dispersava, e nada mais do que ele via fazia sentido. Nem reparou quando Hartman ligou o rádio e aumentou o volume. Somente quando a música começou a tocar, e os acordes foram entrando pelos seus ouvidos, ele reconheceu aquilo que estava escutando. Sobressaltado, subitamente desperto de seu estupor pela música, disse, um pouco mais alto que o necessário, fitando o gordo Hartman com os olhos arregalados:

- Não acredito! Você conhece The Sandmen!?
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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Redação Turbo

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por Tuma e Lucas Servidoni (de um veeelho email perdido na caixa de mensagens...)

"É época dos exames finais e a professora de uma escola primaria mandou que os seus brilhantes alunos escrevessem uma redação, onde fossem tratados os seguintes temas: 1. Monarquia 2. Sexo 3. Religião 4. Mistério. Quem terminasse estaria dispensado e poderia voltar para casa. Passados míseros segundos, Joãozinho levanta a mão e diz que terminou. A professora sem acreditar pede que leia a sua redação. Ele se levanta, pega a folha de papel, e diz: 'MANDARAM A RAINHA TOMAR NO CU. MEU DEUS! QUEM TERÁ SIDO ?'."

- Autoria desconhecida
.Foto: Guilherme Carnaúba

Através do espelho obscuro, capítulo 7


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

O campo de papoulas se estendia até onde alcançasse a visão. Emanava uma névoa frágil daquele vasto mar vermelho, um cheiro doce, suave, sutil, como... como... sangue. Sim, o homem sério, de aspecto patriarcal, permitindo-se somente alguns risos quando a menina (sua filha?) se empinava em seus ombros. Com os braços apoiados um no outro, uma mulher, de ar melancólico, os seguia a uma certa distância, caminhando lentamente pela plantação.

Já ele, o menino, o jovem rapaz de cabelos negros, ele só conseguia acompanhá-los de longe. Tentava gritar, chamá-los, mas a voz não passava de sua garganta. As palavras ficavam presas, e ele se via forçado a engoli-las, e sentia seu gosto amargo. Por mais que tentasse correr, as pernas lhe falhavam, e as três pessoas continuavam sempre distantes.

Súbito, antes que pudesse esboçar uma reação, viu a mulher caindo em meios às flores. Tentou avisar os outros dois, mas, novamente, sua voz ficou presa. O homem com a menina nos ombros seguia em frente, e a garota fazia festa em seus cabelos, e assim continuaram. O menino alcançou o lugar onde a mulher tinha caído, mas não havia nada ali, somente pétalas de papoula, e caules de papoula, e folhas.

Continuou correndo, na direção para onde o homem e a menina haviam ido, mas após dobrar uma colina, encontrou o mar. As ondas rebentavam e jogavam sua água sobre ele. A névoa, cobrindo a costa, se abria aos poucos, e revelou uma ilha, que parecia se aproximar da praia, e invadi-la, e continuar em direção a ele, até que...
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Zakk Wylde


Foto encontrada no Google



por Lucas Servidoni

Zakk Wylde começou a fazer sucesso quando entrou como guitarrista para a banda solo de Ozzy Osbourne. Ganhou vários prêmios como melhor guitarrista de metal de revista e outros títulos de revistas especializadas.

Paralelamente Zakk segue com sua banda solo, que também faz muito sucesso e mantêm a excelente qualidade mostrada no trabalho com Ozzy.

Zakk tem um estilo único de tocar, um som bem pesado com muitos harmônicos combinado com incríveis solos com muita técnica e velocidade.

Vou deixar para quem quiser baixar um CD e um Vídeo do Black Label Society. O Álbum é de 2003, e chama-se Mafia. E o vídeo é da música All for you em um show em 2005.


Download CD Mafia: http://rs98.rapidshare.com/files/41439404/BLS-Mf-by_inferno_nephasto.rar

Se alguém tentar e não conseguir baixar, fala nos comentários que eu procuro outro link.

Através do espelho obscuro, capítulo 6

Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Voltaram para dentro. João cambaleava e Hartman mantinha seu andar inchado. O rosto de João estava inteiro coberto de poeira, e um pequeno fio de baba escorria do canto direito de sua boca. Logo que entraram, Hartman olhou para aquilo e exclamou: “Lamentável”, mas logo ficou mais sério e disse:

- Ei, amigo, você precisa descansar. Não posso sair daqui agora e não adianta nada sair correndo atrás daqueles caras. Vou ligar para o posto da polícia, avisar o que houve, e no fim da tarde a gente vai para a cidade. Tá bom assim pra você?

João sussurrou um sim e deixou que Hartman o levasse para os fundos. “Os fundos” era uma porta ao lado da estante de destilados que se abria para um quartinho minúsculo e bagunçado, onde havia um catre e uma tevezinha em cima de uma mesa de montar. Hartman ajudou João a se sentar, grunhiu algo que o homem em frangalhos não pôde compreender, e saiu.

João passou o braço lentamente pelo rosto, tentando se limpar, mas quando um grão de areia entrou em seu olho desistiu. Não sem algum esforço, apagou a luz estendendo o braço, e se deitou. Ficou ainda por alguns instantes com os olhos abertos, olhando para o teto donde pendia uma lâmpada, e adormeceu.
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Doce Ilusão


Foto: Guilherme Carnaúba

por Young Shin

Um dia queria acordar e lembrar,
eu amo alguém, eu sou amado por alguém.
Amar...é bom amar? Não me lembro desta sensação,
sempre quis me apaixonar, mas por quem?
Talvez o Amor seja uma farsa,
quem sabe o Sofrimento disfaçado,
brincando com os apaixonados?
A vida já possui muitos problemas, muitos sem solução,
para que amar? Se só trará mais dor?
Não entendo esses que se dizem apaixonados
vivendo alucinados pelo Amor. Que dó terei
quando este se for e nunca retornar,
abandonando-os na cruel realidade da Vida.

Muitos me perguntam se já amei.
Todos, até mesmo eu, um dia amaram alguém
mas muitos ficam perdidos nesta ilusão
e alguns já se conformam com a verdade
de não poderem ser amados, assim como eu,
por mais que tente, acabo na solidão.
Desisto de amar alguém!
sei que é essencial para a vida,
mas também é essencial não sofrer por amor.
Que todos os apaixonados sejam felizes!
Aproveitem está doce ilusão amorosa,
para não encontrar este caminho sombrio,
qual fui predestinado a trilhar, desde que nasci.
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Anti-Humor [1]

por Rodrigo Faustini

"Redações de alunos: Thomas T. Urbano (6ª série)
Aviso: Nenhuma folha de redação do Anglo foi danificada. Todas as folhas recriadas digitalmente utilizando-se o programa Maya 3D. Thomas, se você estiver lendo isso, por favor contate-nos para receber sua redação de volta."
__

Como Incrementar Sua Vida Conjugal com a Implementação Gradual de Metafísica: Um Romance, capítulo I, parte I :

-Ei,
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Reflexões de um Vestibulando.

Foto por Bruna Pimenta


por João Pedro Paro

“Vestibular”, “Faculdade”, por que duas palavras tão simples andam me assustando tanto? Ouço pessoas falando-as todos os dias na semana, e creio que esse é um dos motivos de eu andar tão surtado. EU SEI que estou em ano de vestibular; EU SEI que a escolha da faculdade é muito importante, não precisam ficar me lembrando disso o tempo todo.

Talvez o que mais me assuste é a incerteza do futuro, onde vou morar ano que vem? Onde vou estudar? O que vou estudar? O futuro sempre assustou a humanidade, mas posso dizer, ele assusta muito mais em ano de vestibular.

Às vezes a vontade de gritar é imensa, ainda mais quando ouço o professor falando: “Isso é tudo que vocês precisam saber para o vestibular”. NÃO! Isso não é tudo que eu preciso saber! Preciso saber tudo se realmente quiser passar no desgraçado do vestibular! Estudar, estudar, estudar; é só isso que eu faço atualmente, não tenho mais vida, minha vida são os livros!

O que mais me irrita nessa idéia de estudar para o vestibular é o fato de ter que esquecer tudo depois, pois todo seu conhecimento de Ensino Médio é praticamente inútil, se ao menos essa maldita prova adicionasse algo para minha vida!

O sinal toca e o fiscal diz:

“Virem as provas e boa sorte...”

O Palácio Vitral: V - Coisas escondidas

por Pudim

Foto: Guilherme Carnaúba

Antes de investigar as paredes, Anderson investigou seus concorrentes. Um curto período de observação foi suficiente para entender quem seriam potenciais adversários fortes – era seu dom.
A primeira impressão do corredor foi frustrante. Nunca vou achar nada aqui. As muralhas repletas de quadros e adereços diversos, alternados com os poemas a que viera, erguiam-se até a abóbada vítrea alguns metros acima de sua mente embaraçada. Tudo dava a impressão de uma tarefa complicada e trabalhosa.
Começou uma procura tímida pela parede esquerda. Simbolismo e modernismo complicavam ainda mais as coisas. Algo parecia piscar chamando por Anderson umas duas estrofes à direita.

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Enfim, um incentivo. Entre inversões sintáticas, neologismos e ptyxes, o jogador encontrou uma palavra esquecida sem seu acento. Com certeza, não estava assim no original.
Aliviado, pôde continuar o caminho tranqüilamente, passando entre dois muros de alunos examinando os lugares errados. Parou em frente à verga arqueada que anunciava o ponto de encontro com os companheiros. Havia algo errado ali. Os olhos passearam pelos umbrais, subiram, encontraram. “Pavilhão dos Ipes”? Era um erro do artesão ou estava ali propositalmente?
Passou mais tempo do que esperava fitando intrigado a inscrição, e a figura postada ali já estava chamativa. Precisava dissimular de alguma forma. A garota desesperada dois corredores à esquerda cuidou disso.
Anderson fez o que podia para se disfarçar entre os comentários assustados, curiosos e zombeteiros. Pouco a pouco, aproximou-se do Pavilhão e deixou de lado as preocupações para achar os amigos entre a multidão. Encontrou-os conversando com uma garota desconhecida, trazida pela mão por Daniel.

domingo, 26 de outubro de 2008

House

por Thaissa Feitoza

sábado, 25 de outubro de 2008

uTorrent: experimente e aprove.

Foto por Guilherme Carnaúba


por Ricardo Marchiori

Quero com este post semear a ilícita troca de arquivos protegidos com leis internacionais de copyright, sejam músicas, filmes, seriados etc. Não vou discutir a questão da pirataria aqui - só gostaria que por ora a Polícia Federal me deixasse em paz.

Muitos utilizam programas como Kazaa, eMule, os quais oferecem arquivos e fontes duvidosas. A maravilhosa comunidade Discografias do Orkut sempre foi uma alternativa, mas se encontra agora sob perseguição cerrada de associações antipirataria.

Pois bem, o mais indicado na minha opinião para o download de discografias completas, bootlegs, assim como filmes e seriados (em sua maioria americanos e sem legenda) são os programas de torrent.

Através de sites como www.mininova.org ou www.isohunt.com pode-se procurar os arquivos e baixar o torrent, adicionando-o posteriormente a um programa de gerenciamento de downloads como o uTorrent - baixe aqui http://www.utorrent.com/.

Assim como emules e outros programas, é interessante notar a relação entre Seeds e Leechers de cada arquivo, pois isso afetatará a velocidade do download. Não me pergunte como a tecnologia P2P funciona, só saiba que deixando seu computador ligado algumas horas - enquanto você está na escola por exemplo - os arquivos são baixados!

Com o site www.zamzar.com é possível converter músicas raras e vídeos do YouTube para mp3, wmp, mp4 - os quais serão enviadas ao seu e-mail para download.

Provavelmente isso não é novidade alguma para muitos dos sofisticados freqüentadores deste blog, mas todos, a quem eu passei essas dicas, ficaram maravilhados, então espero que seja útil.

O Palácio Vitral: IV - Então era isso?

por Pudim

Foto: Bruna Pimenta

Ainda um pouco vacilante, Eduardo não foi um dos primeiros a atravessar o Pórtico Jacarandá, na extremidade esquerda do hall de entrada do Bosque. Nos batentes, os deslumbrantes desenhos que deram nome ao portal reprimiram um pouco da precipitação com que estava disposto a resolver os desafios inicialmente. Todo aquele cenário suntuoso tornava a competição ainda mais séria e a vitória ainda mais decisiva.
Começara a travessia do corredor.
Percorria lenta e nervosamente cada peça do piso com os pés e cada verso da parede com os olhos. Alguns poemas já conhecia, de outros sequer ouvira falar no autor. Apesar da impaciência, não deixava escapar um acento de seu aguçado senso de correção gramatical.
“Até que é fácil, não?” Eduardo acreditava ter captado algum tom de sarcasmo na tentativa da garota de puxar assunto. Não conseguiu, entretanto, prestar muita atenção. Resmungou algo em resposta e continuou.
A menina não saía do seu lado. Parecia ter algo a dizer, mas simplesmente vasculhava os versos logo atrás de Eduardo, como se procurasse o erro que ele deixou passar. O jovem queria dizer alguma coisa que afastasse a garota sem ser muito ofensivo. Não conseguia achar as palavras. Um silêncio incômodo da conversa em suspenso no ar. Felizmente, uma vírgula perdida entre o sujeito e o verbo o salvou.
“Fácil é pouco.”
Eduardo acelerou a marcha. Por sorte, descobrira tão cedo o que aquele corredor tinha a esconder. Com a certeza de que chegaria antes dos outros, resolveu diminuir a corrida. Valia mais a pena dar algum tempo para admirar as palavras tão graciosamente dispostas no mural revelado por enfraquecidas luminárias.
Foi então que algo o despertou de sua leitura. Um berro fantasmagórico em algum corredor à direita deslanchou olhares e comentários assustados em todas as direções. O garoto apertou o passo e, finalmente, começou a correr. Invadiu impetuosamente o Pavilhão dos Ipês ainda a tempo de quase se chocar com Renato.

Princesa, minha gatinha.

Foto: Bruna Pimenta

por Natália Zamagna Urdangarin

Era uma sexta feira à noite e, como de costume, estava no meu quarto assistindo desenhos no canal Nickelodeon. Ouvi um som diferente, coloquei a televisão no mudo para escutar melhor. Eram gemidos. Abri a porta do quarto e vi que finalmente a hora tinha chegado. A gatinha, que eu adotei há uns dois anos, iria dar a luz. Ela estava com medo, eu podia sentir isso. Minha mãe, que também ouvira os miados, apareceu no corredor. Na minha casa, sempre nos importamos muitos com os animais, é claro que já havíamos deixado um cantinho seguro e aconchegante preparado - para quando esse momento chegasse. Eu coloquei a Princesa na caminha enquanto minha mãe ligava para o veterinário.

-Dr. Eduardo, aqui é a Josy, mãe do Luky. Os filhotes da Princesa vão nascer agora. O que a gente faz?

-Não precisa fazer nada, Dona Josy, ela sabe como fazer tudo sozinha. Está no instinto dela.

- Mas quanto tempo isso vai durar? E se acontecer alguma coisa errada? Não seria melhor eu dar um remédio para ela sentir menos dor?

- Não! Gatos morrem se tomarem remédio para dor, não dê nada a ela. Provavelmente pela manhã todos os filhotes já terão nascido.

-Mas só amanhã?! Pelo amor de Deus, Eduardo! Isso é muito tempo, a coitadinha sofrerá de mais.

- Então traga ela aqui para fazermos uma cesariana.

Com cuidado tirei a Princesa da caminha e coloquei-a virada de barriga pra cima na poltrona da sala. Comecei a massageá-la segundo a mamãe instruiu. Ah, ela estava com uma barrigona! Quantos gatinhos seriam? Talvez três. Quem sabe mais.

Opa já tinha aparecido alguma coisa ali! Seria um rabinho? Teoricamente não era para a cabeça sair primeiro? Minhas recordações das aulas de ciências estavam embaralhadas.

-Pituca, pegue a caminha, coloque a Princesa dentro e entre no carro. Vamos para o veterinário.

Eu obedeci imediatamente carregando minha gata até o carro. Demoramos cerca de quinze minutos para chegar a clínica, mas a essa altura o gatinho já tinha nascido. Lembro-me com detalhes, pois foi ali, em meus braços que o Félix chegou ao mundo. (ou seria o Carvão? Recém- nascidos eles eram quase idênticos.)

Foi um pouco contra minha vontade que deixei a Princesa e o novo gatinho ali. Eles teriam que passar a noite. Agora quem estava com medo era eu. Estava receosa a respeito da operação. Para complicar ainda mais, meus pais decidiram aproveitar a ocasião para castrar a coitadinha. Tive que voltar para casa e confesso que só dormi aquela noite devido ao cansaço da rotina - pesada para uma menina de dez anos.

Na manhã seguinte eu, acompanhada pela minha irmã e minha melhor amiga, voltei à clínica veterinária para trazer para casa os novos membros da família. Estava muito ansiosa. Quando chegamos lá, vimos que tudo ocorrera perfeitamente bem e que agora eu tinha cinco gatinhos novos, sendo apenas um o herdeiro das listras da mãe. Todos tão pequenos e delicados. Que alegria! Com toda certeza foi uma experiência incrível que me fez apreciar ainda mais esses felinos fantásticos.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 5

Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

A primeira reação de João foi ficar sem reação nenhuma. Ficou encarando o rosto balofo de Hartman, tentando depreender algum sentido daquelas últimas palavras. De repente, num clique, todo o sentido que elas carregavam desabou sobre ele, e antes mesmo de olhar para fora já estava correndo, abrindo a porta da loja e saindo para o dia.

Eram três homens que se juntavam ao redor da caminhonete. Todos os três vestiam macacões pretos opressivos para um dia como aquele, grandes óculos escuros, bonés vermelhos e tênis de lona. Um deles já conseguira abrir a porta do passageiro, e sentava dentro do carro, quando João saiu da loja gritando e correndo.

Aparentemente assustados, os três se voltaram para ele, e começaram a trabalhar mais rápido. Um segundo homem já abrira a porta do motorista e ligava a caminhonete, enquanto o terceiro pulava para a caçamba. Antes que pudesse se aproximar, João via a caminhonete sair arrancando. Tentou correr mais rápido, para alcançá-la, mas o homem da caçamba tirou uma submetralhadora deus-sabe-da-onde e começou a atirar em sua direção. João jogou-se no chão e engoliu um pouco de areia, enquanto via seu carro sumindo na estrada.

Levantou-se meio pálido, amaldiçoando a sorte, e sentindo vontade de chorar começou a voltar para a loja. Mas Hartman já saíra lá dentro, e João pôde ver que também suas calças eram muito pequenas para ele. O balconista ficou encarando-o, como se analisasse o que acontecera, cuspiu no chão, e com um leve sorriso, gritou para João:

- Bem, parece que você vai precisar de uma carona.
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lágrimas de chuva.

por Stefano Manzolli

Chovia forte, era uma destas tempestades de verão. Como de costume, eu havia esquecido meu guarda-chuva em casa. As gotas violentas molhavam toda a minha roupa, podia senti-las como pequenas bolas de fogo - ardiam ao encostar em minha pele.

Parecendo um competidor de maratonas, corri desesperadamente. Em vão, é claro. Nessas horas, quando você precisa muito de alguma coisa, a lei de Murphy parece a maior de todas as verdades: nada dá certo. Corri, corri, corri, mas não cheguei a lugar nenhum. Via as vitrines trancadas, as portas fechadas e nenhuma alma viva - era um típico fim de domingo.

As ruas pareciam compor um gigante labirinto cinza. As árvores, sem flores e folhas, grandes monstros dos sonhos infantis. Elas me observavam, invocando as angústias da minha infância. Em cada esquina, via surgir os fantasmas quase esquecidos de minha memória. Minhas pernas tremiam de frio, cansaço e medo - um medo ingênuo das ínfimas labaredas que jorravam das nuvens.

Podia escutar um canto longínquo ecoado pelo vento: vozes ancestrais cravando dúvidas na minha estúpida razão, lapidada pelos livros teóricos de Thomas More e Friedrich Nietzsche. Participava de duas lutas: uma era visível, mas a outra estava oculta dentro dos meus olhos molhados e partidos.

Chovia forte ainda.

Cada pedra portuguesa segurava meus pés, a fim de aumentar o sofrimento da minha alma. A solidão era minha única companheira - dançávamos o minueto dos deuses, enquanto gemia trovões de Zeus e eu caía sobre meus movimentos brutos e pouco ensaiados.

De repente, avistei uma menina sozinha, entre uma lixeira e uma casa, vestida por um guarda-chuva. Seus cabelos loiros e o vestido azul claro contrastavam com a opaca realidade. Parecia um anjo sem suas asas de plumas ou coroa brilhante.

Aproximei-me.
Ela não notou meus sapatos encharcados.
Estava concentrada vendo reflexos turvos em uma poça suja.
Agachei ao seu lado.

Chovia forte ainda.

- Ei, menina!
- Oi, seu moço.
- Onde eu consigo um desses aí?
- Um guarda-chuva? Estava por aí e eu peguei.
- Ah, sim. Digamos que você roubou, então.
- É, pode ser isso sim.

Abriu um sorriso irônico e, depois, uma risada gostosa.
Seus olhos tinham um brilho lindo.
Sua boca não tinha dois dentes-de-leite.

- E está fazendo o quê, aqui, sentada sozinha?
- Estou esperando.
- Quem?
- Meu pai.

Guardou a risada e toda aquela alegria.
Parecia ser muito mais velha agora.
Procurou palavras de consolo, mas o vento estava quieto.
Costurou uma porção de lágrimas dentro do bolso-coração.
E tentou sorrir, mas seu sorriso não estava mais tão bonito.

- E ele volta quando? Daqui a pouco?
- Não volta. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca. Minha mãe, às vezes, me diz que ele está numa viagem de negócios, mas eu sei que ele foi morar com meus avós... lá no céu. Minha professora disse que depois da morte, a gente vira estrela, mas eu sei que é mentira. Tenho certeza que meu pai tá lá em cima me observando.

Chovia forte ainda.

As minhas palavras desgovernadas calavam quentes dentro da boca. Eu, com o triplo da idade daquela garota, sofria por bobeiras da meninice; mas ela, tão frágil e meiga, sorria em meio a tempestade.

- Como você sabe disso?
- Posso te contar um negócio, seu moço?
- Pode.

Com um gesto doce, pediu que eu chegasse mais perto.
Jorrou a mais linda verdade dentro do meu ouvido.

- Eu sei que meu pai tá aqui, porque nos dias mais feios do mundo, quando a vida parece cor de sapato velho e o nosso coração, bater menos sentimentos; ele chora um montão de lágrimas pra dizer que está com saudade de mim. Não conta pra ninguém, seu moço: esse é o nosso segredo. Você precisa ir embora, minha mãe não gosta que eu converse com estranhos. Ela nem sabe que eu estou aqui fora.

Fechou os olhos, o coração, a alma, o sorriso.
Voltou a procurar reflexos turvos na poça suja.

- Pode deixar... esse é o nosso... segredo.

Fui embora, com um segredo debaixo do braço e um guarda-chuva de sentimentos lindos sobre meus cabelos molhados. As lágrimas fingiam ser gotas de paz e banhavam meu corpo, minha alma, minha consciência torpe.

Chovia forte ainda.

Foto por Bruna Pimenta

Através do espelho obscuro, capítulo 4

Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Hartman, o balconista (e presumivelmente dono) do posto de beira de estrada, encarava João nos olhos. Este já estava quase se esquecendo de responder a pergunta do outro, mas lembrou-se a tempo.

- Eu queria algo pra beber.

- Álcool? – perguntou o gordo bigodudo.

- De preferência. – respondeu João.

- Cerveja?

- Pode ser.

O balconista afastou-se do balcão e deu alguns passos até o fundo da loja, onde abriu a geladeira e retirou de lá uma pequena garrafa. Trouxe-a até João e colocou-a na sua frente. Cansado de dirigir e castigado pelo calor e pelas lembranças, ele pegou a garrafa e virou-a de uma vez, bebendo o líquido até a última gota. Observando a atitude sedenta do forasteiro, Hartman perguntou:

- Ei... que veio fazer por essas bandas? - João respondeu:

- Que “bandas” são essas? Onde estou?

- Dez quilômetros atrás, você acabava de entrar em Miranda, a cidade mais indecisa do Oeste. Mas o que veio fazer por aqui, está fugindo de algo ou procurando alguma coisa? – a essa pergunta, João não respondeu de imediato. Desviou os olhos, deixou seu olhar passear pelo chão sujo... sim, o que viera fazer ali? Não tendo certeza se aquela era a resposta correta, disse:

- Estou procurando meu pai. – o gordo o encarou com um olhar múltiplo, desconfiado, malicioso, de indiferença, e disse:

- Seu pai é? Hmm, se o achar, boa sorte, depois venha me contar. – e também desviou o olhar, lançando-o porém não para o chão, mas através do vidro da loja, para o dia quente e cansativo que transcorria. Algo chamou sua atenção, e suas sobrancelhas se juntaram sobre o nariz, e tossiu uma vez, e voltou-se novamente para João, e disse, num tom de leve deboche:

- Ei, companheiro, acho que estão roubando seu carro.
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O Palácio Vitral: III – Muito além da Taprobana

por Pudim

Para qualquer outro participante, a separação era um incentivo: o de chegar à sala seguinte com a tarefa cumprida antes dos companheiros. Apenas o que os trouxe até ali sentia o desamparo dos parceiros. Renato não conseguia manter a concentração, era simplesmente impossível olhar para as paredes somente procurando erros de gramática.
Sua estatura era mediana, mas tinha que elevar o olhar para ler as agradáveis inscrições. Seus autores eram como heróis da infância. Deteve-se em certo ponto, do qual podia ver a estrofe de abertura de Os Lusíadas:

As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram


Renato permaneceu por alguns instantes observando o “Taprobana” grifado. Antes que pudesse tirar qualquer conclusão, outros alunos o alcançaram, e ele achou melhor fingir que não havia nada especial naquilo.
Aliás, como era difícil trabalhar com aquela quantidade de gente em volta!
Renato ia continuar a busca, mas se surpreendeu ao fim do corredor. Tinha se perdido tanto nos jogadores em volta que esqueceu de cumprir a tarefa. Irritado, percorreu o lugar no sentido contrário.
Os concorrentes o atrapalharam novamente.
Só na segunda vez em que seguia na direção da sala Renato pôde assimilar o verdadeiro problema. O texto da tarefa, ainda reproduzindo em sua memória, não explicitava se cada corredor teria um erro gramatical. Sentiu-se feliz por tê-lo percebido antes dos que estavam vasculhando as paredes à sua volta. Confirmou, ao fim, que não havia nada escrito errado naquelas paredes.
Foi então que um grito estridente, como de uma menina quando se assusta com um inseto, sobressaltou o garoto.
Renato disparou ao encontro dos amigos no próximo recinto. Algum deles teria experimentado uma busca bem mais interessante.


Foto: Guilherme Carnaúba

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 3

Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Voltado para a estrada, o rosto de João transparecia sua angústia. As mão agarrando forte o volante já não tremiam mais, mas o canto de seus olhos ainda vibrava, quase imperceptivelmente. O painel do carro mostrava o ponteiro (que também tremia), indicando indeciso velocidades entre cem e cento e vinte quilômetros por hora. João corria, na maior velocidade que seu carro alcançasse, de tudo que ia ficando para trás na estrada. Corria tanto que quase poderia dar a volta no mundo.

Os sinais e placas passavam rápidos, espocando frente aos olhos de João e logo desaparecendo; mas a lembrança do que acontecera no dia anterior vinha lenta, e se postava à frente de João, e ficava ali parada. O que era ontem agora no tempo se tornara para sempre hoje na memória de João, um presente amargo e que fazia doer por dentro.

Tentando se livrar, ao menos por um instante, das memórias que o assombravam, João sacudiu a cabeça, logo antes de um posto de gasolina aparecer no seu campo de visão. Decidido a afogar as lembranças em um drinque qualquer, diminuiu a velocidade e entrou no terreno poeirento do posto.

Uma espécie de areia fina cobria o chão, e uma nuvem de poeira parecia definitivamente suspensa, como uma névoa rala, ao redor do lugar. Os mostradores das bombas (eram somente duas) estavam ilegíveis, cobertos por uma crosta de sujeira, e o vidro da loja de conveniências só permitia uma visão parcial do interior. Sem pestanejar, entretanto, João entrou.

O interior do lugar era escuro, mas o exterior era surpreendentemente mais visível do lado de dentro. Apoiado num balcão adjacente à porta, um homem gordo e de cabelos ralos lia uma revista. João se aproximou, e o homem levantou o rosto. João pôde ver seu bigode espesso e os olhos miúdos. A camiseta do homem estava grudada no corpo devido ao suor, e parecia muito pequena para ele. Após um pequeno instante de reflexão, João se apresentou.

- Olá, meu nome é João.

- E o meu é Hartman - respondeu o balconista, com voz possante –, o que posso fazer por você?
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terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Palácio Vitral: II – W.E.I.R.D.

.
por Pudim
Foto: Guilherme Carnaúba


A viagem de três horas ao Palácio Vitral ajudou os membros da nova equipe a se entrosarem, especialmente Daniel.
“Qual vai ser o nome da equipe?” sugeriu Witch.
Renato respondeu imediatamente. “W.E.I.R.D. São as nossas iniciais.” Ele já havia pensado no assunto antes.
“Anderson é o segundo nome”, completou Eduardo em seguida. “Ele não gosta do primeiro.” Daniel divertiu-se percebendo que não lembrava de nenhum nome comum que começasse com “I”.
O saguão de entrada do Palácio Vitral foi uma convincente explicação do preço da inscrição para muitos dos participantes do jogo. Aquele era o piso térreo mais alto que já tinham visto. Apenas a parede do fundo do saguão não era de vidro. As outras eram compostas por vitrais com desenhos em azul, verde, roxo e cor de vinho, sustentados por grossas armações em metal cuidadosamente trabalhadas para dar um tom de antiguidade ao ambiente. O assoalho era uma espessa e muito polida camada de vidro sobre um piso branco. Nenhum dos visitantes, porém, percebeu a cor, pois a luz do sol que atravessava os vitrais coloria calculadamente todo o chão, um quadro encantador. Os alunos do colégio a três horas dali logo reconheceram seu antigo diretor. Após as devidas apresentações e cerimônias de abertura, o senhor pediu silêncio e discursou:
“Sejam bem-vindos ao Primeiro Desafio Brainstorm. É um prazer saber do interesse de 245 estudantes do Ensino Médio em testar e multiplicar seus conhecimentos gerais. Vamos direto ao ponto. Cada equipe de cinco membros deve escolher um nome e eleger um líder. Há dois caminhos possíveis para iniciar a competição, Bosque e Estrada. Os líderes devem vir até esta urna e retirarem um cupom. São 25 cupons para cada caminho. Temos quarenta e nove equipes. O monitor ao meu lado, então, vai retirar o último papel e ler em voz alta o nome que sobrou. No caminho anunciado, colocaremos um professor para ajudar no começo. Após cada etapa, os participantes poderão consultar o ranking com pontuação e hora de sua finalização. Esta é a primeira fase do concurso, e ocorre no piso térreo. Os times que completarem todas as etapas antes das vinte horas estarão classificados para a segunda rodada de desafios, que acontece no primeiro andar. Seus componentes ganharão hospedagem neste palácio até a próxima fase! Em caso de dúvida, consulte um monitor. Boa sorte a todas as equipes e divirtam-se!”
Renato, Eduardo, Anderson, Witch e Daniel nunca estiveram tão ansiosos e agitados. Só queriam começar a jogar logo. Witch chegou triunfante, como se o grupo já estivesse entre os participantes da segunda fase.
“Vamos pelo Bosque!”
Eles não seriam ajudados por um professor.
Tão rápido quanto possível, os jogadores leram as instruções para o começo das disputas.


Bosque, primeira etapa.

O início do caminho do Bosque divide-se
em cinco corredores, as Alamedas Literárias. Em suas paredes, encontram-se
inscritos versos conhecidos de poetas famosos da língua portuguesa. Os jogadores
devem achar cinco erros gramaticais nos cinco corredores e reportarem ao monitor
que os aguarda na sala a seguir, para onde congruem as Alamedas. Há uma dica
para a Grande Final escondida na área, será de grande importância para as
equipes encontrá-la. Boa sorte.

Através do espelho obscuro, capítulo 2

Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Quando acordou, no dia seguinte, João imediatamente começou a pensar em tudo que não pensara, ao adormecer, na noite anterior. A primeira coisa que chamou sua atenção, ainda turva pelo sono, foi o som da música. Adorara The Sandmen desde a infância, mas não era obrigado a ouvir aquilo logo após acordar. Foi até a vitrola e a desligou, interrompendo o ciclo interminável de começar-e-acabar-disco que devia estar girando há muitas horas. Depois, foi até a porta, e fechou-a sem estrondo.

A poça de água que rodeava seus pés chamou sua atenção. Lembrava-lhe algo vagamente... Então, como se uma corrente elétrica tivesse passado por ela, ele despertou imediatamente, e começou a olhar ao seu redor. Num átimo, tudo que acontecera no dia anterior voltava a sua mente, e ele começava a se desesperar outra vez. Fez uma ronda pela casa, mas de novo não encontrou ninguém. Dessa vez, porém, lembrou-se do telefone, e correu a tentar ligar para o seu pai. Tentou o trabalho, o celular, mesmo o celular de sua irmã. Nenhum deles atendeu. Por alguns instantes, ficou forçando a memória, procurando se lembrar de mais alguém com quem seus familiares pudessem estar, mas foi inútil.

Desolado, deixou o telefone escorregar de suas mãos e foi até o banheiro. Lavou o rosto, e passou seus dedos em todos os contornos da face de maneira lenta e profunda. Depois, levantou o rosto e mirou-se no espelho. A meia-luz dominava o lavabo, e o espelho velho estava embaçado. Pôde ver claramente, porém, seus olhos, enfiados nos buracos profundos em que suas órbitas se haviam tornado. Sem olhar uma segunda vez, saiu do lavabo, da sala, e da casa. A porta do carro continuava aberta, todo o interior estava encharcado. Não se dando nem mesmo o direito de pensar nisso, João pôs a chave na ignição, ligou o carro, e voltou para a estrada.
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Richie Kotzen

por Lucas Servidoni

Foto achada no Google

Não vou deixar só o Orsi ficar falando de musica por aqui, mas vamos continuar com rock'n roll.

Richie Kotzen é um excelente guitarrista, cantor e compositor. Apesar de não ser muito conhecido, principalmente no Brasil, Kotzen já passou pelas bandas
Mr. Big, Poison e Forty-Deuce, mas se destaca pelo seu ótimo trabalho solo.

Conheci a banda a partir de um amigo, e estou repassando porque vale a pena escutar, não sei exatamente que rótulo essa banda recebe, mas se trata de um rock'n roll dos bons, com uma pegada mais romântica mas também com muitos solos fazem com que as musicas sejam viciantes.

Bom, para conhecer melhor a banda e entender o que estou falando é melhor escutar! Vou deixar o link para baixar o CD Into the black de 2006 e o vídeo do ultimo clipe dele, uma musica mais lenta chamada Chase it.

Links para download:
http://rapidshare.com/files/7256264/Richie_Kotzen_-_Into_The_Black__2006_.rar.html

Vídeo:

Através do espelho obscuro, capítulo 1

Foto: Bruna Pimenta

.por Tuma

Chovia como se o mundo estivesse prestes a acabar. Ao longe, ouvia-se o sibilar de um carro, o rugir de um motor trabalhando a muitos quilômetros por hora. Vindo pela auto-estrada deserta, uma caminhonete passou zumbindo. O motorista, João, a dirigia como se nada mais importasse. As lágrimas que escorriam de seus olhos se confundiam com a chuva. As veias de sua mão pareciam prestes a explodir, tão forte ele apertava o volante. O vento, entrando pela janela aberta, fustigava seu rosto.

Quando achou o conhecido desvio entre as árvores, virou o volante rapidamente, e entrou com violência pelo portão da casa do pai. Parou o carro de qualquer maneira, abriu a porta, e saiu correndo na chuva até o toldo que protegia a entrada. Antes mesmo de abrir a porta, já gritava pelo pai. “PAI! PAI!”. Na sala de estar, uma vitrola tocava o disco “Through a Glass, Darkly”, do The Sandmen, com o volume no máximo. Desesperado, João começou a correr pelos aposentos da casa, procurando alguém, alguma alma viva, tangível, mas não encontrou. Sequer os empregados estavam em seus aposentos.

Correu por toda a propriedade, mas ninguém deu-lhe o deleite de estar por ali. Esgotado, ele desceu as escadas (estivera no quarto de seu pai, e lá também não havia ninguém) e vagarosamente caminhou (sua perna doía) até o sofá (que estofo macio!). E então, sem pensar na chuva que já escorria pela porta escancarada, ou no telefone que repousava a seu lado, ou no carro que permanecera aberto, ou nas lágrimas que grudavam em seu rosto, ou mesmo na música que tocava alta, adormeceu.
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domingo, 19 de outubro de 2008

O Palácio Vitral: I - Férias

por Pudim

“Vocês viram o cartaz no quadro de avisos sobre o concurso de conhecimentos gerais?” Era Renato quem sempre anunciava os eventos extracurriculares, pouco mencionados na escola. “Vai ser nas férias. Parece que quem conseguir uma boa colocação vai ganhar bolsa parcial.” O último anúncio chamou a atenção dos colegas, que o cercaram perguntando por detalhes.
“Pelo que deu para perceber pelo cartaz, uma empresa resolveu patrocinar a idéia do nosso ex-diretor”, continuou Renato, “e transformou o site de enigmas que ele tinha planejado em uma gincana de charadas de verdade, que vai acontecer no Palácio Vitral. A inscrição é cara, mas para quem gosta de enigmas, vale a pena”.
À menção dos jogos de raciocínio, muitos dos que o haviam cercado retornaram a suas atividades e conversas, para a infelicidade da professora inexperiente.
Apenas dois de seus amigos tiveram a reação contrária, animando-se ainda mais ao se tratar de um evento intelectual, exatamente como Renato esperava. Eduardo e Anderson foram à sua casa, à tarde, para buscarem mais informações sobre o evento na Internet. O portal do jogo era simples, tinha um fundo preto com letras cinza, uma breve descrição do jogo e um link para inscrição por ali mesmo, apesar de ser possível fazê-la pela escola. O grupo achou o site pouco atraente e decidiu pela segunda opção.
“A equipe precisa ter cinco pessoas”, disse a secretária anônima, conhecida como Moça da Secretaria. Os meninos ficaram aliviados por poderem dividir a desumana taxa de inscrição com mais alguém. O problema era achar alguém que se dispusesse a investir tanto em algo que, na visão da maioria, a escola já exercitava suficientemente. De fato, ninguém na escola aceitou se juntar à equipe, após um dia inteiro de convites.
O trio, frustrado, observava o portal da competição sem saber o que fazer.
“Podemos achar alguém de outra escola que jogue conosco”, finalmente sugeriu Anderson.
“Não consigo me lembrar de ninguém que goste desse tipo de atividade”, Eduardo já cortou. “Há muito pouco incentivo e a taxa é muito alta, parece que o concurso foi criado no país errado.”
Renato, até então quieto e pensativo, teve outra idéia. “Vamos chamar mais gente pela Internet. Deve existir alguma comunidade ou fórum sobre o torneio, e com certeza alguém vai ter o mesmo problema que nós estamos tendo.”
Ele estava certo. Em cinco dias de anúncios e buscas pelo computador, portanto dois antes do término do período das inscrições, acharam um garoto e uma garota, ambos de cidades próximas à em que estudavam, ansiosos por participar. No dia seguinte todo o grupo se encontrou na escola dos três primeiros participantes para o pagamento da inscrição.
“Mas vocês não trouxeram o dinheiro? Nós não podemos pagar a inscrição com o que temos!” Anderson estava nervoso.
“Acalmem-se, eu volto amanhã e pago junto com vocês, pode ser?” A menina, que tinha uma voz fina e nasalada, era muito baixinha. Seus cabelos, suas unhas muito compridas e o modo como se vestia lhe conferiram o apelido de Witch.
“Eu não posso vir amanhã, alguém vai ter de pagar a minha parte e depois eu acerto.” O outro participante usava óculos que o davam pose de intelectual, compensada pela postura largada. Seu nome era Daniel.
Como combinado, os três participantes iniciais dividiram a parte de Daniel e esperavam a chegada de Witch algumas horas antes do fechamento da secretaria. Pouco tempo depois do almoço, ela chegou com muito ânimo e sem o dinheiro.
“Minha mãe vai trazer, ela deve chegar logo.”
Anderson ficou nervoso, pois queria ter se livrado da inscrição muito antes, mas o grupo aproveitou para conhecer a nova componente. Descobriram que tinha vasta experiência em jogos de enigmas, e consequentemente era muito inteligente. Fazia teatro desde criança, o que a tornava muito articulada ao conversar. Em pouco tempo, convenceu o grupo de que ela deveria liderar, se houvesse a necessidade de um líder. Nesse período, algumas horas passaram enquanto Renato decidia se ela era bonita ou não.
“Se a sua mãe não chegar logo, eu vou molhar as calças.” Anderson alarmou o grupo com sua demonstração de nervosismo. Era o único que não tinha se esquecido do motivo da visita. Em vinte minutos, Moça da Secretaria iria embora e nada da mãe de Witch. Atônito, o grupo ficou em silêncio, e os segundos lentamente passavam. Quinze minutos, dez. Dois. Moça já arrumava a bolsa e vestia o casaco. Ia desligar o computador, mas Renato pediu que ficasse mais um pouco. O garoto estava desapontado com a recente amiga, e Moça, que apesar de fria, era muito bondosa, leu o desapontamento em seus olhos. “Vou ficar mais dez minutos”.
Os dez minutos logo se transformaram em vinte, e aos vinte e cinco já estava escurecendo. Moça olhava para Renato com cara de preocupada, e ele repetia gestos pedindo-a para esperar. Witch estava inexpressiva. Anderson tinha ido ao banheiro. Eduardo demonstrava a mesma frustração de Renato, mas estava mais pessimista. Tanto que nem reparou quando a amiga finalmente se levantou, aliviada e zangada com a mãe pelo atraso. Todos correram para a secretaria, Eduardo e Anderson por último, para fazer a inscrição e dispensar Moça o mais rápido possível. Os alunos, aliviados, saíram da escola e mal se deram conta de que acabavam de entrar em férias.

Foto por Bruna Pimenta

sábado, 18 de outubro de 2008

Como é que é? (2)

Todos nós sabemos da famosa “putaria” existente em Porto Seguro durante a viagem de formatura. Imagine que você tenha um filho, e que ele queira fazer tal viagem. Você deixaria? (responda sinceramente)
por Lucas Servidoni

Sim, deixaria sem problemas.

Não.

Eu deixaria apenas se meu filho fosse homem, por saber da "pegação" que tem durante a viagem.

Eu apenas deixaria se fosse mulher pelo mesmo motivo da alternativa anterior.

Deixaria se fosse homem, mas se fosse mulher ficaria na dúvida.

Se fosse mulher eu deixaria, agora, se fosse homem, pensaria mais a respeito





Sonhando no Mundo


Desenho: João Paulo Ferreira e Rodrigo Ciampi

por
Bruna Ferri

Sinto-me confinada em um mundo onde todos deveriam ser livres, presa em minhas idéias, valores e pensamentos os quais vivem em exílio por não conseguirem ser ainda minhas ações.

O mundo esta passando diante de meus olhos, e ainda a única coisa que faço é me lamentar por tudo estar assim, algo tão belo que deveríamos preservar e dizer obrigada por existir, está sendo destruído.

Poderiam me dizer qual é o pensamento que esta adentrando as pessoas ultimamente? O que as faz perder os sentidos? Será que realmente se importam com isso?

É preciso parar para pensar apenas por alguns minutos e parar de protelar o que pode ser feito agora, pois aqueles simples momentos em que dizemos “A não faz mal” esta se refletindo mundialmente, e com certeza o meio ambiente agradeceria se você mudasse essa sua frase.

Não é só porque nos locomovemos ou temos uma inteligência desenvolvida que podemos nos sentir os melhores dos seres vivos, pequenas bactérias conseguem realizar funções que jamais conseguiríamos, as plantas conseguem ajudar no controle do CO2 na atmosfera, e nós? Desmatamos, poluímos, temos uma grande função não acham?

Deveríamos realizar juntos cada um o seu trabalho como em uma grande comunidade, sabermos que não somos melhores ou piores do que quaisquer outros seres vivos.

Somos ligados por uma grande corrente que se consiste em amor, carinho, preservação, igualdade, paz, harmonia, positividade, todos são dependentes uns dos outros, e homem nenhum é capaz de viver sozinho, e só agora fomos perceber isso, quando todo o planeta já esta desprendido.

Ainda bem que existem pessoas que não gostam de se sentir um simples inútil no mundo e mostram que possuem seus valores e princípios, por isso tenho total certeza de que deveríamos utilizar nossa boa retórica para tentar mudar esses pensamentos, fazerem todos perceberem que não estão no mundo à toa, estamos destinados a uma missão e se acreditarmos em nós mesmos vai acontecer uma grande mudança.

A mudança que jovens rotulados como incapazes e sem personalidade proporcionaram para todos.

O dia em que pequenos jovens se tornaram grandes salvadores, e podem pensar que isso é um sonho muito grande, mas estou cansada de realizá-los apenas à noite enquanto estou dormindo nas nuvens, esta na hora de colocar os pés no chão vivendo esse sonho com o sol brilhando em nosso corpo e agora dizer: Nós conseguimos.

Quero acabar com as crises mundiais, quero poder limpar o ar, quero fazer uma família africada chorar, mas agora de tanto rir, quero poder explicar o que é amar ou ser amigo, quero poder mostrar para todo o mundo que somos de uma única tribo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Como é que é? (1)

Qual o melhor comentário para o jogo Brasil x Colômbia?
por Stefano Manzolli

O time da terceira-idade (do meu avô) joga melhor.

Aquilo era pra valer? Putz, achei que era treino.

Como jogadores, eles são ótimos em piada.

Foi uma ótima disputa de BASE QUATRO.

Ser vaiado no Maracanã: não tem preço!

ÃO, ÃO, ÃO, SEGUNDA DIVISÃO.

No time do Brasil só tem PATO.

No ontem, a base do hoje que tornar-se-á amanhã

por Rodrigo Frizzi


Ainda ontem, nós todos, éramos crianças. Já amanhã, nós todos, seremos adultos. E o que somos nós, no hoje? O alvo de uma economia emergente, carente e decadente. O alvo de pais nostálgicos, com olhos mareados pelos dias que já vivemos, e com os mesmos olhos mareados pela preocupação do amanhã, pelos dias que hão de vir. Mas e nós, os adolescentes, o que somos para nós mesmos? Como é a existência de seres tão importantes para os outros, mas tão sem sentido em nosso âmago?

“Compre, beba, use, veja, leia, vote, não se esqueça”. Gritos, hinos, pedidos, promessas. A faculdade, a profissão, a família, os amigos, a viagem, as férias, a festa, o peso da responsabilidade. Não nos vêem como crianças, nos cobram como adultos, mas, e nós, o que somos realmente?

Uma massa movida por desejos amargurados, muitas vezes libertos, mas que são constantemente julgados. Uma massa que se move como o faz um enxame: em volume. Várias tribos, várias crenças, mas na mente, a única certeza: há de se viver o hoje.

Quantas vezes lemos em camisetas os célebres dizeres de “carpe diem”, e quantos jovens vemos realmente o fazendo. Desmedidos, sem arrependimento, matam-se aos muitos por viverem os desejos mais primatas.

Em todas as classes, em todas as cidades, em todos os países, as notícias não param. Jovens assassinados à troco de dívidas irrisórias, que deveriam ser pagas com um aperto de mãos. Meninas que se vendem pelo consumo. Universitárias que se deixam explorar em troca de dinheiro abundante.

Em contrapartida, quantas histórias de sucesso. De jovens também carentes, de meninas também universitárias, que apostaram suas fichas num sonho, e o fizeram real. Acreditaram em si, quando a sociedade os taxava apenas de adolescentes. Começaram cedo, acordavam cedo, trabalhavam muito, estudavam mais. Centenas de jovens calados pelas mesmas notícias ruins dos noticiários.

A hora é agora! O amanhã... já chegou! O ontem? Já foi. O hoje: foi ontem e já é amanhã.

Dentro de cada adolescente moram os sonhos dos louros de uma vida tranqüila. Dentro de cada adolescente, indiferente seja sua condição, habita desejos nunca antes revelados por jornal, revista, propaganda, produto ou comercial: o desejo de ser ele mesmo, livre, sem amarras, sem censura. O desejo de ser apenas adolescente. E esses desejo jamais será expresso porque quem o desenha hoje já é adulto, e quem o sonha, ainda é adolescente, e o adolescente ainda não consegue expressar que no final de tudo, o que ele quer, é permanecer assim, parado no tempo, e curtir sua adolescência... até o amanhã, quando ele já será adulto. E o pensamento retoma ao princípio.


Foto por Bruna Pimenta

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Reunião com maçãs e milho.

por Stefano Manzolli

Rendi-me ao Applebee's nesse sábado último. Fui preparado para ser surpreendido e tecer trilhões de elogios sobre o ambiente, comida, atendimento e conforto das poltronas; confesso, todavia, que a minha impressão não foi tão otimista (como esperada).

Para começar, a decoração é extremamente parecida com a do Friday's que, por sua vez, lembra muito pubs americanos. Com muito pouca originalidade, criou um universo extremamente americano, salvo por poucos painéis (um tanto quanto fora de órbita) ilustrando aspectos socio-culturais de Campinas. Relevando isso, a decoração proposta é bem feita, há um mural para você deixar seu recado e as poltronas são realmente muito confortáveis.

Não poderia deixar de comentar o tamanho desnecessário das facas - aquilo mais parece uma invenção de Itu que um artefato de corte. Você que já foi lá, não sentiu-se como um estranho serial-killer, enquanto dilacerava a sua comida com aquele facão imenso? Pode e deve parecer engraçado, mas tenha medo desses devaneios psíquicos.

O atendimento não foi ruim, porém não excedeu a média. As recepcionistas eram simpáticas, tentando entreter com piadinhas prontas, como "Ninguém vai beber hoje, né? Vocês são todos DE (de!) menor". A gente riu, fingiu encontrar uma graça, até porquê as moças só queriam entreter. O garçom, por sua vez, tinha um olhar ranzinza; não fez nenhum comentário bem-humorado, apesar de cumprir em tempos ótimos uma de suas funções, encher os copos dezenas de vezes com refrigerante. Depois dos pratos, enquanto conversávamos (comendo batata-frita), ele deixou transparecer seu lado ranzinza, jogando olhares maléficos sobre nós, esperando que fôssemos embora.

Achei, também, o cardápio pouco objetivo. A ânsia por economizar papel, deixou as informações espremidas e, por conseqüência, eu meu perdi na hora de fazer o pedido. Para não variar, os nomes dos pratos são em inglês, todavia os garçons não sabem, ao certo, pronuncia-los. Na nossa mesa, metade das pessoas haviam morado na Inglaterra, por isso são extremamente fluentes na língua. Na hora de pedir, o garçom não entendeu o que elas disseram e tivemos que usar o velho método de apontar: "Moço, eu quero esse aqui, ó".

Obviamente, não cronometrei quanto tempo levou para chegarem os pratos, mas creio que não foi uma eternidade. Quando vieram, meu primeiro pensamento foi "Moço, nós não estamos no Friday's", devido a semelhança entre os petiscos. Havia apenas uma notória diferença: uma espiga de milho! Como assim? Eu estou comendo frango empanado, batata-frita e MILHO COZIDO? Vá lá, talvez não fosse má idéia, mas aos primeiros grãos, um sabor doce de cural invadiu minha boc. Lembrei porquê odeio milho puro.

O meu prato tinha cara de "Meus pais foram viajar e eu preciso fazer janta". Merrecos pedaço de 'nuggets' e batata-frita com CASCA! Que bonito, que gostoso, que beleza. O outro prato escolhido era uma massa com frango empanado. Não comi o macarrão, mas o frango estava gostoso e bem macio - enfim um acerto gastronômico. Por não saber da qualidade péssima, pedimos duas porções de fritas, esperando algo parecido com as do Outback. Ao passo que chegaram, lembrei de um carrinho de esquina vendendo o aperitivo às sete da noite, usando o óleo da manhã inteirinha. Além de mal apresentadas - numa vasilha furreca de vender pastel, estavam murchas, tal qual comida requentada.

Prefiro pensar que fizemos escolhas erradas a generalizar todos os pratos como ruins. Não pode-se negar que estava bem temperado e gostoso. Faltou, apenas, um pouco mais criatividade na hora de montar o prato - tudo parecia ter sido jogado na porcelana branca.

Depois de tantas bebidas, precisei ir ao banheiro. Se não estivesse tão desesperado, nem faria lá. Um lugar apertado, com três ou quatro caras na fila de espera, poucas pias, um enorme espelho, no qual fica refletido o infeliz que está urinando no mictório. Sem contar que esse, fica ao lado da porta! Você mal entra, já dá de cara com gente excretando. A privacidade é pouca: enquanto você faz, tem outro de plantão, querendo que você seja o mais rápido possível.

Bom, na hora de vir a conta, eles são craques: além de enfiarem aquela faca imensa (do começo do texto) no seu peito, trazem uma calculadora, para você ter certeza que os nabo é realmente daquele tamanho. Uma enorme felicidade: comi pouco eu paguei muito. Foi nessa hora que eu desejei ter jantado na Praça de Alimentação.

Essa foi a minha primeira impressão do local. Talvez ela mude com o tempo, talvez piore. Por enquanto, tenho a dizer duas coisas: eu vou voltar lá para experimentar os badalados mini-hambúrgueres e, se você conhecer o dono da franquia, peça para passar sal e manteiga na espiga de milho, fazendo o favor!