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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sonata noturna [8]

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Noite (8/10)


Por Pudim (e Tuma)
Foto: Bruna Pimenta


A ganância ainda vai destruir o mundo, filho, disse o pai para o menino de olhos arregalados e nariz escorrendo sentado no assoalho frio da pequena casa que a família alugava do mais poderoso dono de terras da região. As galinhas corriam e cacarejavam de olhos arregalados ao redor dos dois o sol fustigava a poeira havia uma meia luz envolvendo tudo um calor que aderia à pele um cansaço de fim de tarde e fim de semana suportado pela suposta leveza de uma manhã de terça-feira.
Os homens querem todo o ganho para eles, e não sabem dividi-lo com os outros, o pai agarrando seus ombros olhando bem fundo em seus olhos, tentando achar ali algum resquício de malícia. O garoto permanecia quieto, sem piscar, olhos erguidos para o rosto enorme feito pedra daquele homem grande e firme que sempre chamara de pai.
Leonardo, você está me ouvindo? Sim ele estava. No carro ao volante girando e volvendo e revolvendo e entrando pelas ruas e singrando avenidas caóticas ele ouvia de novo e de novo as palavras do pai e não sabia se sentia-se bem ou mal por tudo o que fizera. Decidiu-se pela dúvida.
Dissera a Noah logo que este lhe contou que iria deixar as patentes para ele. Primeiro sentiu-se feliz mas logo depois os olhos do pai apareceram à sua frente e sua consciência estremeceu e ele percebeu que enorme chance era aquela de cumprir sua missão na terra. Iria abrir a patente, deixar que a vacina fosse produzida no mundo todo livremente, alcançar a todos os doentes livremente.
Agora imaginava se aquilo não havia destruído tudo. A patente aberta, alguém poderia ter incluído no processo um jeito de um incluir algum agente nocivo que não fosse perceptível. Mas seria mesmo? Noah afirmava que o mal estava na própria vacina, mas para Leo qualquer opção era terrível... o que contava a favor da tese do colega era que Leo, assim como as outras cobaias, não haviam desenvolvido ainda nenhum dos sintomas do Mal. Mas ele estava com medo, e ansioso.
Ele tentava noite após noite descobrir o que no que haviam criado poderia causar aquilo, ou que tipo de vírus, bactéria ou aberração poderia causar aquele efeito horrendo nas pessoas. Mas ele não encontrava. Noite após noite, Leo tentava e não chegava a lugar algum, e as palavras de seu pai, sempre as mesmas, continuavam a ressoar em seus ouvidos, um sussurro baixo e insuportável que parecia sugerir que o significado do que aquele velho lavrador dissera era muito diferente do que Leo sempre imaginara.

*** *** ***

Nikole se recolhera num canto do barco, os dedos ferindo-lhe as mãos de tanto apertar, os dentes tremendo e batendo, olhos olhando frenético para os lados, com medo de que alguém a tomasse por descorada sob a luz plácida da lua cheia.

*** *** ***

Noah recebera a visita de um agente do governo aquela tarde. Ele dissera que por enquanto a versão oficial era mesmo algum tipo de ato terrorista, as vacinações já haviam sido suspensas no mundo todo. Alguns governos estavam loucos para acusar o país de espalhar a vacina pelo mundo, mas ele não precisaria se preocupar, o mais importante era que ele descansasse e ficasse em segurança. Uma junta de pesquisadores já estava empenhada em monitorar os infectados e descobrir se havia outras maneiras do agente nocivo ser transmitido além na inoculação. Quando ele foi embora já era noite, e Noah ficou bebendo e rindo sozinho, pensando em como a opinião do governo, e do mundo, era a menor de suas preocupações.

*** *** ***

As festas no Nocturnal Sonata atravessavam madrugadas, e os passageiros remanescentes entregavam-se aos bacanais impetuosamente. Os que haviam tido mais contato com os infectados permaneciam isolados, mas só a tripulação se lembrava deles. Os outros passageiros festejavam noite e dia, enchendo os corpos de álcool e outras drogas psicotrópicas para apagar qualquer resquício, qualquer lembrança de que havia um mundo agonizante lá fora, e de que ele havia penetrado no paraíso deles, e de que eles o haviam purgado sem piedade, afundando-o à força na mortalha do mar.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Muito massa, Tuma. Agora estou especialmente curioso pra saber se voce resolveu aceitar minha sugestao pros dois ultimos capitulos xD