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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 32


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Ferdinando, assumindo ao mesmo tempo a postura tradicional dos dormentes que encontram alguém em seu quarto à noite e dos desmemoriados que encontram alguém de seu passado a qualquer hora, começou a despejar sobre o estranho uma torrente de perguntas desesperadas – quem eu sou quem é você qual o meu nome qual o seu nome o que aconteceu comigo de onde você me conhece o que está acontecendo? -, mas ele permaneceu em silêncio.

Ferdinando adiantou-se na cama, aproximando-se do homem e prestes a saltar para o chão e ir agarrá-lo, mas o caolho ergueu uma das mãos e o impediu:

- Pare. Não temos tempo para esse tipo de bobagem. Quem eu e você somos agora não importa.

Ferdinando, boquiaberto, o encarava descrente.

- O que é realmente importante aqui – continuou o estranho – é que você faça a pergunta certa, para que, assim, eu possa dar a resposta certa a você.

Ferdinando já não sabia mais o que dizer ou como agir. Sentia-se compelido a tirar à força do estranho as respostas que queria, mas o modo de falar daquele vulto de tapa-olho era bem eficaz em convencê-lo de que talvez aquelas não fossem as respostas de que precisava.

Confuso, Ferdinando sentiu passarem por sua mente todos os momentos que vivera desde que acordara do acidente dois dias atrás. O esforço para sair do carro, a longa jornada dia afora, a chegada em Miranda, o encontro com Kaspar Hauser, o desmaio, a descoberta em Nino de um protetor, o recebimento de um novo nome, o depoimento para os inspetores, a história do The Sandmen, a conversa com Ernest, o passeio pela cidade, o encontro com Kaspar Hauser... à medida que as imagens passavam diante de seus olhos, Ferdinando parecia entender que tudo que acontecera com ele até então estava interligado, conectado por um único fio.

Um último lampejo espocou em sua consciência, e ele pôde compreender por completo. Agora, tudo se descortinava: todos os significados, todos os motivos. Confiante, assim, de que encontrara a pergunta certa, aquela que daria a resposta para o torvelinho em que sua mente afundava, Ferdinando olhou diretamente para o rosto do estranho e, sem pressa, proferiu a pergunta encantada:

- O que é preciso para matar um mendigo sem coração?
.

Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Aguardando desesperado a resposta encantada