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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 43


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Dias depois da conversa com Tito, os inspetores Fellwin e Spassky apareceram em sua casa. Era domingo, e Ferdinando o estava aproveitando quase nu em frente à tevê. Teve de colocar correndo uma camiseta e uma bermuda (ainda usava as mesmas roupas que comprara com Nino nos primeiros dias de sua estada na cidade) e atendeu à porta com uma expressão um pouco assustada.

Os dois policiais ficaram um pouco preocupados de o terem pego em um mau momento, mas Ferdinando os tranqüilizou quanto a isso. Haviam trazido pão, Ferdinando fez café, e então sentaram-se, na cozinha mesmo, para conversar.

- E então Ferdinando, que tem feito da vida? – era o gordo Spassky que falava.

- Trabalhado, basicamente, vou de segunda a sexta no mercadinho do Lino, e aos sábados fico lá de manhã. – ele respondeu.

- E você está contente com essa vida? – agora a pergunta vinha de Fellwin.

Ferdinando pensou um pouco antes de responder.

- Feliz? Sim, creio que sim... tanto quanto se pode estar feliz vivendo com um gato e trabalhando num armazém. Sim, estou satisfeito vivendo assim. Por que pergunta?

- Veja, Ferdinando, eu e o Bingo aqui estávamos pensando em você, no seu caso, de onde você veio, queríamos saber como você está se sentindo com isso, e, bem...

- O que Spassky quer dizer – interrompeu Fellwin. – é que nós descobrimos algumas coisas sobre o caso do acidente com o Hartman. Pelo que você nos disse, era você mesmo que estava no carro com ele. Mas Hartman vivia sozinho, não tinha família, os vizinhos não sabem de ninguém ter estado na casa dele nos dias anteriores ao acidente.

- Sim, e lá no posto, nós encontramos algumas coisas estranhas. Pelo registro do caixa, somente um cliente passou por lá aquele dia. Acreditamos que seja você, mas não fazemos idéia de como você chegou até lá. Não havia nenhum outro carro além do de Hartman, acidentado na estrada. E pra piorar a história, achamos alguns cartuchos de bala no chão...

Os olhos de Ferdinando foram alvejados por imagens desconexas. Alguém atirando com uma submetralhadora, um carro indo embora, o chão empoeirado. Por uma fração de segundo, essas imagens lampejaram, e então sumiram sem deixar rastro ou lembranças.

- Isso, não me diz nada, desculpem... eu não me lembro. – Fellwin deu um tapinha em seu braço.

- Acalme-se. Nós não viemos aqui pra resolver essa questão do Hartman. Viemos pra saber se você não tem interesse em procurar seu passado, em resgatar sua memória...

Ferdinando ficou encarando o chão por um tempo, como se não tivesse ouvido o que Fellwin falara. Depois, deu um longo e enorme suspiro, e disse:

- Claro que eu tenho, eu quero muito saber o que eu esqueci, descobrir de onde eu venho, quem eu sou, meu passado, mas vocês mesmos disseram, nós não temos pistas, não temos nada. Até alguém vir me procurar ou eu me lembrar das coisas espontaneamente, tudo terá de continuar assim...

Dessa vez, Spassky e Fellwin não tinham resposta pronta. Ficaram num silêncio constrangido, terminaram seu café, e despediram-se de Ferdinando com um longo abraço de cada.

Enquanto via os dois desaparecem na esquina, Ferdinando imaginava se o que falara era sincero, se não ia atrás de seu passado porque não tinha por onde começar, ou se, na verdade, não o perseguia pois tinha medo de descobrir a verdade.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Ufa!
Quase tinha desistido de torcer para o Ferdinando lembrar seu passado de João.