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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Noite sem estrelas, uma lenda. (2/2)

Foto por Bruna Pimenta.
por Stefano Manzolli.

três de dezembro de mil novecentos e dezesseis.

O jantar fôra apressiado com espanto, por causa da fartura, e apressadamente, pois as crianças, aqui não incluo Suri, aguardavam anciosamente pela história de terror. Um pouco menos tímidos, Marylane e Harry responderam perguntas e contaram um pouco de suas vidas. Ao término da refeição, um criado levou os pratos para cozinha e Helena Dawis, a nenem para passear pelos cômodos da casa.
Façamos um comentário à parte: quando Sir Dawis chegou à casa com os novos-filhos, Helena havia preparado (sozinha!) cookies tradicionais e um delicioso chocolate-quente. Para as crianças, foi mais fácil adaptar-se com a receptividade sorridente dela, do que com o ar sarcástico e sombrio do pai.
- Doroty, peça aos criados que acendam a lareira. - disse pacientemente Sir Dawis para a governanta de aparência ríspida.
- Sim, senhor. - respondeu, enquanto retirava-se da sala de jantar.
-Desculpe, crianças, com esse frio é melhor ficar dentro de casa.

cinco de dezembro de mil novecentos e dezesseis.

A festa estava maravilhosa.
Mr. e Ms. Chester à porta, junto de outro casal de anfitriões, recebiam os convidados, nobres da sociedade britânica, que enchiam o grande salão do London Royal Club aos poucos. Cada senhora trajava seu mais lindo vestido de baile; seus maridos pareciam todos iguais: paletó preto com cauda bi partida, gravata borboleta branca e camisa de colarinho alto com as pontas viradas. Para um leigo, pouca diferença havia no vestuário dos garçons e dos cidadãos mais ricos de Londres.
Ao longe, um pequeno grupo musical de câmara interpretava sonatas, fazendo um agradável fundo musical. Os canapés de camarão estavam um pouco ressecados, mas nada que um bom champanhe não resolvesse.
"Saber que boa parte do dinheiro arrecadado nessa noite vai pro meu bolso, me deixa ainda mais feliz!", pensou Rose Chester entre um abraço e outro.
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quatro de dezembro de mil novecentos e dezesseis.
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- Não feche os olhos, Marylane! Aproveite ao máximo o passeio!
- Mas... não sei se eu quero passear, está tarde. - retrucou a menina, um pouco apavorada.
- Olhe para o céu, é uma noite serena!
- É uma noite linda, eu sei - sussurou Harry, tentando esquecer a história.
- Eu sabia que não devia ter contado aquela lenda para vocês...
três de dezembro de mil novecentos e dezesseis.
"Crianças, espero que vocês estejam preparadas para uma das mais horripilantes histórias de todo o território europeu. A lenda da noite sem estrelas!".
"Aconteceu anos atrás, numa tarde escura de inverno, enquanto os pássaros negros voltavam para seus ninhos. O vento uivava ao passar pelas árvores e arrancava algumas folhas secas que ainda insistiam em ficar presas aos galhos. No céu, não havia estrelas, como se houvessem jogado tinta azul escura sobre todos os astros -nem lua havia-, era um céu típico de dia de chuva".
"Começavam a cair os primeiros flocos de neve, enquanto Jasmine, uma linda mulher de cabelos cacheados, voltava sozinha para casa - depois de passar horas visitando um tio velho. Ela adorava observar o início das nevascas, quando os pequenos fragmentos de água congelada aquietavam-se sobre seus ombros, mansamente".
"Seria um início de noite maravilhoso, se não fosse por uma miragem cruel. Numa das linda árvores, na estrada de volta, a mulher interpretou a tragédia em duas partes. Primeiro, ao ver metade de um monomotor presa aos galhos, sentiu náuseas e uma vontade imensa de rezar. Depois, ao olhar para o chão, deparou-se com a pior de todas as cenas: a parte da frente do monomotor toda estraçalhada; no meio do aço retorcido, o corpo do piloto meio com vida, meio sem vida - a hélice frontal rompia-lhe o peito. Frente a isso, seu instinto foi correr para ajudar".
"Na manhã seguinte, a polícia encontrou o avião destruído e no meio, entre as ferragens, o cheiro forte de sangue e um ar pesado de morte, o corpo nu de Jasmine. Em sua boca aberta, de desespero, depositaram-se inúmeros flocos de neve e, pelo reflexo da pouca luz daquele dia, pareciam muitas estrelas (as quais não brilhavam na noite anterior). Nunca encontraram vestígios do piloto".

"Desde então, o parque onde tudo isso aconteceu é chamado de Jasmine's Garden e todos tem medo de relembrar a fatídica história".

Silêncio assustador.
Marylane foi a primeira a dar risadas, depois Harry a acompanhou.
- Quer dizer que tudo isso aconteceu no parque que fica aqui perto de casa? - disse a menina.
- Claro, por que você acha que há um monumento em forma de avião lá?

Silêncio intrigante.

- Nos leve até lá, quero ver essa árvore! - Harry, apesar de um pouco amedrontado, queria parecer extremamente corajoso - Amanhã, quando estiver escurecendo, nós iremos. Você, Marylane, se estiver com medo, não precisa vir...
- Fica quieto! Eu sou mais velha, não me assusto com esse tipo de coisa - retrucou, mesmo estando com uma sensação estranha de fragilidade.

quatro de dezembro de mil novecentos e dezesseis.

O percurso até o parque pareceu um passeio como outro qualquer. Depois de uma noite inteira de pesadelos, Harry e Marylane estavam mais confiantes quanto à travessia do parque.

- Sabe, meninos... a história, que eu contei ontem, é verídica: aconteceu meses depois que eu cheguei de Nottingam para morar em Londres... a lenda é outra, talvez bastante assustadora. Dizem que órfãos, quando passeiam por dentro do bosque, em noites sem estrelas, desaparecem.
Se pudéssemos escutar, acharíamos os três corações batendo mais forte.
- Mas... não há o que se preocupar, não passa de uma lenda boba! - Harry não estava tão confiante, como suas palavras demonstravam
- E mesmo que houvesse alguma coisa, eu protegeria vocês, meus pequenos. - George tentou encontrar algum instinto paterno.

Era uma noite sem estrelas.

cinco de dezembro de mil novecentos e dezesseis.

O leilão de quadros, após o jantar de gala, estava rendendo mais lucros que Mr. Chester imaginava. Daria para fazer uma reforma no orfanato e embolsar todo o dinheiro do Sir Dawis, sem que notassem a trapaça.

Um garçom, de corpo esguio e cavanhaque bem feito, repousou sobre a mesa do casal Chester um bilhete - era de Helena Dawis e a marca de lágrimas eram evidentes no papel. Rosa, que já havia notado a falta dela e do marido, apressou-se em ler.

"Caros Chester,

Aconteceu uma coisa terrível! Assim que puderem, venham falar comigo - não sei se tenho condições de criar Suri sozinha...

Com amor,
Helena."

seis de dezembro de mil oitocentos e oitenta e quatro.

O pequeno Richard Stolen, depois de nove meses de seu nascimento, foi adotado pelo Conde Campbell Dawis e sua esposa, Condessa Nancy Dawis.
- Daqui pra frente, - disse Nancy para o novo filho - será chamado de George Dawis e jamais saberá que, um dia, foi orfão.



FIM.

4 comentários:

Veri. disse...

Voce me espenta.
Maravilhoso.
Da sua fa
HAHAHAHAHA

Unknown disse...

muito muito bom.

João G. Viana/Pudim disse...

hsashoaiusaoih, que medo oO
Muuuito bom

Anônimo disse...

SEMPRE o melhooor!

bjos, ná