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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 47


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

De um dia para o outro, o espírito de Ferdinando havia sido tomado por uma tormenta. A morte do gato arrastara com rumor a ausência de Nino para dentro de suas preocupações, e essa preocupação esmagou todas as outras. Onde Nino estaria, o que havia sido feito dele, o que ele mesmo fazia de si próprio... essas coisas vinham e revinham aos seus pensamentos, seguidamente, sem cessar.

As últimas palavras de Nino ardiam na mente de Ferdinando, assim como a carta pela qual elas haviam ido até ele ardera tantos anos antes. As palavras saltavam das cinzas daquela lareira primordial e se aglutinavam sobre sua cabeça, formando uma nuvem cada vez mais negra.

De tempos em tempos, a nuvem cedia, e uma tempestade se abatia sobre sua alma, encharcando-a de culpa, ansiedade e medo. Os relâmpagos que ofuscavam sua visão vinham acompanhados de trovões, e os trovões gritavam em seus ouvidos imagens assustadoras.

Nino magro e doente, perdendo aos poucos a vida para a neve que quase o cobria. Nino febril e desesperado, urrando de delírio numa cama desconhecida. Nino quieto e triste, paralisado em uma cadeira por algum acidente grave. Nino de olhos fechados e apagado do mundo, os ossos repousando sete palmos abaixo da terra. E, entre cada uma dessas imagens, o rosto antigo de Ernest Schrödinger o acusando silenciosamente.

Não agüentando mais essa tormenta, Ferdinando recorreu à mulher, e ambos decidiram que seria melhor para ele ir atrás do irmão, descobrir por onde ele teria andado. Ferdinando ainda hesitou durante um tempo, mas logo reconheceu que aquela era sua única chance, seu último recurso, e caso não recorresse a ele seria assombrado pela culpa durante o resto de seus dias.
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