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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Noite sem estrelas, uma lenda. (1/2)

(Rose Chester, à epoca dos acontecimentos).
Foto por Bruna Pimenta



por Stefano Manzolli


três de dezembro de mil novecentos e dezesseis.

Camile, a cozinheira de ancas fartas, estava afoita com o comunicado que acabara de receber: dali quatro horas, um nobre inglês iria almoçar com Rose e seu marido, Mr. Chester - a fim de tratarem de uma reforma no orfanato e de três adoções ("Três, três, três adoções! Imaginem isso!", gritava Ms. Chester pelos corredores). Nessa época, por escassez de concorrência, muitos procuravam os serviços do orfanato Casa Rose Chester.

Como muitas mulheres ricas, para não perderem suas cinturas magérrimas, adotavam crianças, Mr. Chester passava horas de seu dia andando nas ruas inglesas, procurando os órfãos mais bonitos - branquelos, de olhos azuis e cabelos loiros, se fosse possível. Ele sabia, assim como todo mundo, que ter filhos parecidas com polacos estava na moda; por isso, esse tipo de criança valia mais. Se Mr. e Ms. Chester queriam estar entre os melhores do ramo da adoção, deveriam ter os melhores produtos.

Outra coisa que todo mundo sabia, mas a polícia não conseguia (ou não queria) provar, era que os orfanatos ganhavam comissão por cabeça adotada. Essa informação corria de boca em boca, mão em mão, mas nenhum cidadão tinha coragem de (e nem podia) averiguar os fatos.

Naquela manhã, pouco antes do Sir Dawis chegar, Eliot encontrou a mais bela de todas as órfãs do território britânico, quiçá europeu: pele clara, bochechas rosadas e grandes, olhos azuis (pálidos de tão azuis), cabelos ruivos cacheados à altura dos ombros, dentes amarelados, porém totalmente alinhados, pequena, frágil e com um pouco de sotaque irlandês. Estava sozinha, sentada na calçada, perto de uma barraca de feira, observando as maçãs empilhadas - havia fome estampada em sua testa e um ronco estranho de barriga pairando no ar.

- Menina, cadê seus pais? - indagou o velho homem de barriga arredondada e barba muito bem feita.
- Hum... hã... meus pais morreram, senhor.
- Qual o seu nome?
- Marylane, senhor.

Após contar-lhe maravilhas sobre o orfanato e explicar detalhadamente as quatro refeições diárias, a pobre menina não achou forma de recusar ao convite de juntar-se aos outros órfãos da Casa Rose Chester.

Durante o caminho de ida, mãos dadas a Eliot e milhares de histórias, contou-lhe parcialmente sua vida sofrida, a perda dos pais (assassinados por causa de dívidas), o fascínio por histórias de terror, a vontade de participar do grupo de teatro municipal e a saudade de comer almôndegas.

Durante o almoço com George Dawis, Mr. e Ms. Chester souberam medir suas palavras, falando pouco e objetivamente sobre os projetos de caridade e as expectativas de aumento do prédio do orfanato para o ano de 1917.

Enquanto isso, Marylane, que não conhecia nenhuma outra criança, sentada perto da parede, cantava uma antiga canção de ninar. Apesar da retórica bem ensaiada, Sir Dawis não prestou muitíssima atenção no casal simpaticamente bem vestido, pois não conseguia desviar os olhos da garotinha.

- Por mim - disse George - tanto faz. A reforma do prédio será paga por mim... quanto às crianças, já estão escolhidas. Quero aquele loirinho, com sardas; aquela nenem de pernas gorduchas e olhos azuis; e aquela ruivinha ali - apontou para a direção de Marylane -, a mais afinada de todas as meninas inglesas... quando podem ir para casa?
- Muito obrigado pelo apoio, Sir Dawis - afoita, Rose saiu falando em um tom de voz exagerado -, faremos o nosso melhor para honrar o seu patrocínio! - diminuiu a voz ao tom de um sussurro - As adoções... precisam... hã... é, por que sua esposa não veio com o senhor?
- Ela vinha, mas sua mãe está doente... bom, mas se vocês acham que estou mentindo, posso procurar outro orfana...
- De maneira alguma! Sabemos de sua vida privada e pública, era apenas curiosidade. Enfim, as crianças serão suas após o acerto de... hum... das... contas, entende?
- Perfeitamente - respondeu -, pago agora.
- Mas...
- Pago o dobro, se for necessário.

Intervalo silenciosamente apreensivo.

- Feito, camarada. - sorriu Eliot, assim que terminou de deglutir o último pedaço de seu pernil de carneiro (sem perceber que havia um fiapo grosso de carne entre seus dentes). - Quase esqueço de lhe convidar! No final de semana, senhor George, faremos um jantar filantrópico, e seria uma honra tê-lo entre nossos convidados.
- Seria um prazer imenso.

Depois de horas conversando sobre a Primeira Guerra Mundial, as crises britânicas e todas as óperas que entrariam em cartaz em Londres, o Big Ben badalou cinco horas - estava na hora de fecharem negócios. Enquanto assinavam papéis e tomavam o famoso chá com leite, Sir Dawis teve o primeiro contato com os três orfãos escolhidos, os quais aceitaram calados a decisão de serem, praticamente, comprados pelo burguês estéril.

- Digam adeus à Casa Rose Chester e um caloroso olá ao novo pai de vocês, George.

Não houve resposta, e assim passaram todo o caminho de volta para a grande casa dos Dawis: calados, apreensivos pelo futuro em família - nenhuma das crianças lembrava, com certeza, o que era uma família. As ruas pareciam ser eternas e o sol punha-se entre as grandes árvores.

- Conta uma história pra gente? - Marylane, a única que sabia quão ruim era viver em silêncio e sem ter com quem conversar, tentou quebrar a falta de comunicação entre eles.
- Que tipo de história vocês gostariam de escutar?
- Daquelas que dão medo! - Harry, o garoto loiro com sardas, berrou estridentemente.
- Isso mesmo! Conte uma história de terror! - Marylane concordou com seu novo irmão e pôde perceber que, caso não estivesse enganada, seriam grandes amigos. "Pelo menos gostamos do mesmo tipo de história!", refletiu.
- Já estamos chegando em casa... mas depois do jantar vamos acender uma fogueira no quintal e eu vou contar para vocês uma lenda fascinante...
Os três pares de olhos o observavam (até a pequena Suri, que não entendia o que estavam falando, ficou assustada com a expressão diabólica feita por George para falar o nome do causo).
- A lenda da noite sem estrelas...


segunda parte? clique aqui

3 comentários:

Anônimo disse...

cadê a segunda parte?????!
muuito bom, tefo!

bjs, gaby

Unknown disse...

ai que bosta, agora eu quero ver a segunda parte.

tá muito bom.

Gabriella disse...

vc nem escreve bem não...
HUYSADUDHSA
incrivel ;D
beeeijo, gabi (fontes)