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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Autor

por Rodrigo Faustini (qualquer coisa, considere o título como deliberadamente sarcástico em sua falta de criatividade)
aaO autor estava sentado em sua cadeira (era personalizada). Ela era acolchoada, de um fino tipo de madeira de nome holandês (a pronúncia deste há tempos havia cometido suicídio em sua memória; lamentável) que exala o mais único dos cheiros; fora manuseada por um genuíno artista, perdido no porão de uma marcenaria nos arredores da cidade, que, naquele móvel banal, engravou parte de seu coração. Aquela cadeira não significava nada. O autor se questionou se suas palavras sofriam do mesmo mal, enquanto digitava cada vez mais delas, suas filhas bastardas. Ele não tinha coragem de associá-las ao seu nome. Rubens Secco era o pai.
aaMarcelo estava em grande perigo no momento. Ele tinha certeza de que o homem de terno e sobrancelhas volumosas que lia desatento um jornal estava naquele trem para matá-lo. A próxima parada era dali a duas horas. Até lá, os constantes olhares investigativos e de suspeita reinariam; o passageiro a seu lado não parava de tossir em seu lenço branco. O autor odiava Marcelo.

-Corajosoaaaaaaaaaaaaaaa-Egocêntrico
-Sagaz aaaaaaaaaaaaaaaaa-Calculista
-Inocenteaaaaaaaaaaaaaa -Infantil
aaMarcelo era o antagonista do autor. Mas como ele o invejava. Por mais imaturas e mesquinhas que fossem suas ações, Marcelo sempre conseguia uma linda mulher como prêmio, para a alegria de seus leitores. E como o autor odiava seus leitores, eternamente confinando-o à sua cadeira. Agora ele está parado, observando enquanto a barrinha de seu Microsoft Word pisca, faminta por letras. Era uma noite fria de Agosto.

aaCarlos não era subjugado esclerose, Carlos podia voar. Olímpio não olhou um segundo para trás após decidir seguir seu sonho. Amanda, armada apenas de sua profissionalidade como repórter e alguns microfones estrategicamente posicionados havia derrubado uma família inteira envolta em corrupção e luxúria. O autor havia sentado bastante tempo em frente de seu computador. O autor muito os invejava. Talvez ele sentisse que as palavras o fizessem companhia.
aa
aaUma brisa de vento passou pela janela entreaberta, forçou seu caminho pela cortina, rodopiou por pura graça, e foi abraçar o rosto do autor, que precisava, gabando-se dos lugares que já havia visitado. Possuía os aromas para prová-lo.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa***
aaO autor aproximou-se de sua estante, pegou uma história em aleatório, e saiu pelo mundo para vivê-la.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa***
aaUm sino indicou que o trem estava perto do ponto. Marcelo levantou-se e seguiu para perto da porta. O homem suspeito foi atrás, em passos inaudíveis, mas em respiração ofegante. Ele tinha péssimas notícias para dar. Marcelo segurou levemente em sua pistola, que se encontrava em seu bolso, sem virar. Era uma noite fria de Agosto.

2 comentários:

Tuma disse...

Brilhante esse texto Faustini. A idéia do conflito entre autor e personagens, a tensão, o mistério...

Mande mais dessa série!

João G. Viana/Pudim disse...

Tuma disse tudo. Tenho a adicionar que eu adoro metalinguagem xD