INFORMATIVOS:

1) Agora dá para ler as postagens do blog por Categoria. Basta clicar no tema do seu interesse no menu ao lado e gastar horas lendo bons textos. Caso queira, em Home poderá ler todos os posts sem nenhuma interrupção.

2) Os comentários estão liberados, agora! Caso você não tenha uma conta Google, comente na opção Anônimo, mas não se esqueça de assinar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 41


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Ele demorou um pouco para se adaptar à nova vida. Sua casa era grande, como o prometido, mas parecia parada no tempo. A mobília era velha e gasta e, embora fosse confortável, transmitia uma desagradável sensação de não-pertencimento, como se destoasse do “plano de existência” em que Ferdinando, e a própria casa, viviam.

Durante algum tempo, Ferdinando permaneceu solitário e exilado. Nino lhe deixara algum dinheiro, então ele pôde se dar ao luxo de não trabalhar nos primeiros dias. Ficava trancado em casa quase sempre, com as janelas fechadas e a poeira acumulando nos móveis e em sua pele. Só saía pra comprar comida para si e para o gato.

O gato, Ferdinando só o chamava de gato, como seu dono anterior – não achava necessário nomear-lhe por coisa alguma. Viviam numa estranha sociedade. Frequentemente ficava com o gato no colo o dia todo, até que esse ficasse com fome e fosse até seu pratinho comer. Ferdinando então acordava de sua vegetação, tomava um banho e passava o resto do tempo olhando a rua.

Por vezes, sentia que havia mais alguém além dele na casa. Ouvia risadas e sussurros em sua cabeça, e se metia a procurar de onde vinham, mas não encontrava nada, nem ninguém. Com o tempo, começou a acreditar que o fantasma de Kaspar Hauser o assombrava. Eram os dois, Ferdinando e Hauser, os donos vivo e morto do gato que Schrödinger legara.

Só o que tirava o desmemoriado de seu estado apático eram as visitas ocasionais de alguns conhecidos seus da cidade. Fellwin e Spassky vinham tomar café, às vezes, e um ou outro morador simpático da rua o visitava para ver como ele ia levando a vida.

Finalmente, Ferdinando resolveu fazer alguma coisa. Já fazia quase um mês que Nino partira, e ele percebeu que precisava começar a trabalhar. Conversou com os policiais, perguntou o que eles sugeriam, e acabou sendo contratado para vendedor de um mercadinho que ficava a dois quarteirões de sua casa. Rapidamente, Ferdinando subiu de posto, e dois meses depois de sua chegada a Miranda ele era o conhecido e sério gerente do armazém do bairro.
.

Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

O gato de Schrödinger xD
Finalmente Ferdinando sobe na vida!
Vamos ver o que está por vir...