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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 48


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Começou a preparar-se para ir atrás do irmão. A última carta de Nino, junto às conversas que tiveram quando ainda estavam juntos, deixara algumas indicações de para onde ele iria primeiro. Assim, Ferdinando deixou todas as coisas ajeitadas para a partida. Sua mulher ficaria cuidando do mercadinho, e os vizinhos ajudariam no que fosse necessário durante sua ausência.

Ele partiria dali a três dias. A despeito do pedido de Nino para não ser seguido, Ferdinando sabia ser necessário fazer essa busca. Necessário para ambos. Ferdinando precisava retirar o peso dos ombros, e Nino talvez precisasse saber que alguém se importava com ele, e que Ferdinando poderia sim ser seu irmão, sólido e real como qualquer outro.

Mas então, veio a notícia. Era o último dia de trabalho de Ferdinando no mercadinho, quando um homem entrou pela porta e veio andando, um pouco indeciso, até ele. Ferdinando demorou um pouco para reconhecê-lo, o rosto lhe parecia familiar, mas ele não lembrava de onde o conhecia. Um segundo antes do homem alcançá-lo, Ferdinando o reconheceu, e a identidade foi confirmada pelas palavras do antigo estranho.

- Lembra-se de mim? Sou advogado da família Nápoles.

Sim, Ferdinando se lembrava.

- Tenho algumas notícias ruins para te dar...

Ferdinando se concentrava no movimento dos lábios do advogado, e no som que dali saía.

- O senhor Antonio, ele morreu dois meses atrás.

Os lábios, o som, o mercadinho: de repente tudo ficou embaçado.

- De pneumonia, como o irmão, e na mesma cidadezinha também...

As palavras já começavam a se confundir.

- Pobres os dois, tinham pulmão fraco...

Pobres. Irmãos. Pulmão Fraco.

- O senhor Antonio gastou muito dinheiro em suas jornadas...

Pobres.

- O pouco que sobrou, porém, fica para você, que é o mais perto de um parente legal que ele tinha... assine aqui.

Irmãos.

- Coitado dele, tinha tanta esperança de encontrar o irmão de alguma forma... só Deus sabe o que ele encontrou, antes da pneumonia o levar embora...

Pulmão fraco.

- Adeus, senhor Ferdinando, qualquer coisa me ligue, aqui está meu cartão. Adeus.

O advogado ia embora, Ferdinando ficava. Nino ia embora, definitivamente agora, mas a culpa permanecia. E, não importava o quanto Ferdinando chacoalhasse a cabeça, o olhar acusador de Ernest e o olhar compreensivo de Nino não saíam dali... não mais.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Estou me agarrando na cadeira e olhando de lado pro computador de ansiedade, só posso dizer isso.
Desculpe não comentar ontem, não tive mesmo tempo de ler...
Mas está incrivelmente bom!