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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 34

Shade and Darkness - the Evening of the Deluge, J.M.W. Turner

por Tuma

No dia seguinte, Ferdinando acordou cedo. Sentia que tivera uma noite conturbada, de sonhos ruins, mas não se lembrava direito de nada. O casarão estava vazio e silencioso, ele desceu as escadas, pé ante pé para não acordar ninguém, e foi direto para a sala. Assustou-se ao encontrar um desconhecido parado ao lado da porta.

Era um homem quase totalmente careca, com cabelos ralos ao redor da cabeça. Vestia um macacão cinza e levava uma maleta nas mãos. Seu nariz era grande, e Ferdinando teve a impressão de que o olho esquerdo dele era de vidro. Ficaram se encarando, espantados, sem falar, até que Ernest apareceu e encontrou os dois naquela posição.

O mordomo riu-se e disse a Ferdinando ser aquele o encanador, que viera arrumar um problema na pia da cozinha. Os dois saíram e deixaram Ferdinando sozinho, somente os acompanhando com os olhos. O recém-desperto, quando a dupla já desaparecera de seu campo de visão, voltou os olhos para a sala e começou a examinar as paredes.

O aposento era ricamente decorado e mobiliado. Sofás, divãs, poltronas. Mesas de chá, escrivaninhas, cômodas. E, nas paredes, as mais diversas peças de arte. Pinturas de paisagens, retratos, cenas históricas ou mitológicas. Havia de tudo. Dois quadros, em especial, chamaram a atenção de Ferdinando. Um deles mostrava um grande borrão negro sobre algo que parecia ser o mar. O outro, mais misterioso, retratava um homem, aparentemente um pastor, guardando uma mulher e seu bebê do lado de fora de uma cidade em ruínas que esperava por uma violenta tempestade. Ferdinando admirou esses quadros durante algum tempo, mas a luz do sol que entrava pela janela refletiu em um objeto diretamente para dentro de seus olhos e desviou sua atenção.

O objeto que refletira o sol estava logo acima da porta de entrada. Ferdinando, do chão, foi subindo os olhos e acompanhando os traçados da matéria: a maçaneta, os umbrais, a parede, um brasão da família Nápoles... e, elegante e discreto, um punhal. Levado por um impulso que não conseguia interpretar, Ferdinando subiu na cômoda adjacente à entrada e alcançou o punhal. Ele era pesado, mas belíssimo. O cabo era vermelho e sustentava firme uma lâmina sinuosa e brilhante. Ferdinando testou o fio da arma em seu dedo, e viu que ele estava intacto.

Enquanto admirava aquela peça tão bem engendrada, algo revolveu em sua mente. Era um pensamento que borbulhava, um sentimento que preenchia suas veias com uma eletricidade oculta. Levado por esse movimento interior, Ferdinando, ainda olhando para o punhal, esticou o braço, girou a maçaneta, abriu a porta e saiu do casarão para a manhã enevoada.

A Tempestade, Giorgione
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Um comentário:

Nós mesmos disse...

Excelente capítulo, Tuma.
E eu estou gostando do mistério da história, apesar dos comentários ansiosos xD

Pudim