-Olha, eu fiz com que ele expelisse água ao redor de seus olhos.- disse o proprietário das mãos gélidas e metálicas que haviam acabado de esmagar a mãe do garoto, enquanto esse nada podia fazer para impedir o que, como seus olhos e mente o diziam, era um ataque divino de ira.
- Ele está chorando. Nós não podemos chorar. Ele está triste. Não podemos ficar tristes.
-E por quê chora? A outra não era ele. Por isso era a outra. Ele pode comer, amar, dormir, transar até morrer.
-Nós não podemos comer. Não podemos amar ou dormir. Não podemos transar... Não podemos morrer.
Eles continuaram a observar o desespero do garoto sem se moverem. O corpo de sua mãe se decompôs, e deu lugar a flores. Anos depois, ele dormia, amava, transava e comia sem grande sinal do que havia acontecido. E então ele morreu. Havia outros. Eles tinham criado-os a partir da carne que crescia do solo, dos ossos das árvores, das almas que voavam junto do vento e das idéias que constituíam as nuvens, para nunca entendê-los. Eles continuaram a criar, pois essa era sua função. A criação continuou a viver, sem função, mas feliz.
Porém, por uma noite apenas, dividiram o mesmo sonho. A criação dormia aconchegada, enquanto os criadores tinham suas mentes invadidas por aquelas mesmas imagens, podendo apenas interpretá-las como reais. Talvez fossem, em espaços diferentes.
O sangue quente fluía pelas veias rodeadas de carne e pele, aquecendo o antes gélido metal que os envolvia. Não com força, pois não era necessário. Não com paixão, pois não a tinha. Mas com delicadeza, enquanto(criador e criação) caminhavam pelo ar, numa busca pelo nada, apenas prolongando o calor do momento. Talvez seus circuitos derretessem, moldando a criação (assim como fazia a cera quente que esses haviam criado, por sua vez). E seriam apenas um.
Acordaram...sem nunca terem dormido.

Um comentário:
Muito interessante, o conto e o desenho
Postar um comentário