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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 3

Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Voltado para a estrada, o rosto de João transparecia sua angústia. As mão agarrando forte o volante já não tremiam mais, mas o canto de seus olhos ainda vibrava, quase imperceptivelmente. O painel do carro mostrava o ponteiro (que também tremia), indicando indeciso velocidades entre cem e cento e vinte quilômetros por hora. João corria, na maior velocidade que seu carro alcançasse, de tudo que ia ficando para trás na estrada. Corria tanto que quase poderia dar a volta no mundo.

Os sinais e placas passavam rápidos, espocando frente aos olhos de João e logo desaparecendo; mas a lembrança do que acontecera no dia anterior vinha lenta, e se postava à frente de João, e ficava ali parada. O que era ontem agora no tempo se tornara para sempre hoje na memória de João, um presente amargo e que fazia doer por dentro.

Tentando se livrar, ao menos por um instante, das memórias que o assombravam, João sacudiu a cabeça, logo antes de um posto de gasolina aparecer no seu campo de visão. Decidido a afogar as lembranças em um drinque qualquer, diminuiu a velocidade e entrou no terreno poeirento do posto.

Uma espécie de areia fina cobria o chão, e uma nuvem de poeira parecia definitivamente suspensa, como uma névoa rala, ao redor do lugar. Os mostradores das bombas (eram somente duas) estavam ilegíveis, cobertos por uma crosta de sujeira, e o vidro da loja de conveniências só permitia uma visão parcial do interior. Sem pestanejar, entretanto, João entrou.

O interior do lugar era escuro, mas o exterior era surpreendentemente mais visível do lado de dentro. Apoiado num balcão adjacente à porta, um homem gordo e de cabelos ralos lia uma revista. João se aproximou, e o homem levantou o rosto. João pôde ver seu bigode espesso e os olhos miúdos. A camiseta do homem estava grudada no corpo devido ao suor, e parecia muito pequena para ele. Após um pequeno instante de reflexão, João se apresentou.

- Olá, meu nome é João.

- E o meu é Hartman - respondeu o balconista, com voz possante –, o que posso fazer por você?
.

2 comentários:

ﯜǿҜєЯร™.Lucas.. disse...

E o pai? cade ele?

João G. Viana/Pudim disse...

Muito legal mesmo, Tuma, suas descrições são incríveis!