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domingo, 19 de outubro de 2008

O Palácio Vitral: I - Férias

por Pudim

“Vocês viram o cartaz no quadro de avisos sobre o concurso de conhecimentos gerais?” Era Renato quem sempre anunciava os eventos extracurriculares, pouco mencionados na escola. “Vai ser nas férias. Parece que quem conseguir uma boa colocação vai ganhar bolsa parcial.” O último anúncio chamou a atenção dos colegas, que o cercaram perguntando por detalhes.
“Pelo que deu para perceber pelo cartaz, uma empresa resolveu patrocinar a idéia do nosso ex-diretor”, continuou Renato, “e transformou o site de enigmas que ele tinha planejado em uma gincana de charadas de verdade, que vai acontecer no Palácio Vitral. A inscrição é cara, mas para quem gosta de enigmas, vale a pena”.
À menção dos jogos de raciocínio, muitos dos que o haviam cercado retornaram a suas atividades e conversas, para a infelicidade da professora inexperiente.
Apenas dois de seus amigos tiveram a reação contrária, animando-se ainda mais ao se tratar de um evento intelectual, exatamente como Renato esperava. Eduardo e Anderson foram à sua casa, à tarde, para buscarem mais informações sobre o evento na Internet. O portal do jogo era simples, tinha um fundo preto com letras cinza, uma breve descrição do jogo e um link para inscrição por ali mesmo, apesar de ser possível fazê-la pela escola. O grupo achou o site pouco atraente e decidiu pela segunda opção.
“A equipe precisa ter cinco pessoas”, disse a secretária anônima, conhecida como Moça da Secretaria. Os meninos ficaram aliviados por poderem dividir a desumana taxa de inscrição com mais alguém. O problema era achar alguém que se dispusesse a investir tanto em algo que, na visão da maioria, a escola já exercitava suficientemente. De fato, ninguém na escola aceitou se juntar à equipe, após um dia inteiro de convites.
O trio, frustrado, observava o portal da competição sem saber o que fazer.
“Podemos achar alguém de outra escola que jogue conosco”, finalmente sugeriu Anderson.
“Não consigo me lembrar de ninguém que goste desse tipo de atividade”, Eduardo já cortou. “Há muito pouco incentivo e a taxa é muito alta, parece que o concurso foi criado no país errado.”
Renato, até então quieto e pensativo, teve outra idéia. “Vamos chamar mais gente pela Internet. Deve existir alguma comunidade ou fórum sobre o torneio, e com certeza alguém vai ter o mesmo problema que nós estamos tendo.”
Ele estava certo. Em cinco dias de anúncios e buscas pelo computador, portanto dois antes do término do período das inscrições, acharam um garoto e uma garota, ambos de cidades próximas à em que estudavam, ansiosos por participar. No dia seguinte todo o grupo se encontrou na escola dos três primeiros participantes para o pagamento da inscrição.
“Mas vocês não trouxeram o dinheiro? Nós não podemos pagar a inscrição com o que temos!” Anderson estava nervoso.
“Acalmem-se, eu volto amanhã e pago junto com vocês, pode ser?” A menina, que tinha uma voz fina e nasalada, era muito baixinha. Seus cabelos, suas unhas muito compridas e o modo como se vestia lhe conferiram o apelido de Witch.
“Eu não posso vir amanhã, alguém vai ter de pagar a minha parte e depois eu acerto.” O outro participante usava óculos que o davam pose de intelectual, compensada pela postura largada. Seu nome era Daniel.
Como combinado, os três participantes iniciais dividiram a parte de Daniel e esperavam a chegada de Witch algumas horas antes do fechamento da secretaria. Pouco tempo depois do almoço, ela chegou com muito ânimo e sem o dinheiro.
“Minha mãe vai trazer, ela deve chegar logo.”
Anderson ficou nervoso, pois queria ter se livrado da inscrição muito antes, mas o grupo aproveitou para conhecer a nova componente. Descobriram que tinha vasta experiência em jogos de enigmas, e consequentemente era muito inteligente. Fazia teatro desde criança, o que a tornava muito articulada ao conversar. Em pouco tempo, convenceu o grupo de que ela deveria liderar, se houvesse a necessidade de um líder. Nesse período, algumas horas passaram enquanto Renato decidia se ela era bonita ou não.
“Se a sua mãe não chegar logo, eu vou molhar as calças.” Anderson alarmou o grupo com sua demonstração de nervosismo. Era o único que não tinha se esquecido do motivo da visita. Em vinte minutos, Moça da Secretaria iria embora e nada da mãe de Witch. Atônito, o grupo ficou em silêncio, e os segundos lentamente passavam. Quinze minutos, dez. Dois. Moça já arrumava a bolsa e vestia o casaco. Ia desligar o computador, mas Renato pediu que ficasse mais um pouco. O garoto estava desapontado com a recente amiga, e Moça, que apesar de fria, era muito bondosa, leu o desapontamento em seus olhos. “Vou ficar mais dez minutos”.
Os dez minutos logo se transformaram em vinte, e aos vinte e cinco já estava escurecendo. Moça olhava para Renato com cara de preocupada, e ele repetia gestos pedindo-a para esperar. Witch estava inexpressiva. Anderson tinha ido ao banheiro. Eduardo demonstrava a mesma frustração de Renato, mas estava mais pessimista. Tanto que nem reparou quando a amiga finalmente se levantou, aliviada e zangada com a mãe pelo atraso. Todos correram para a secretaria, Eduardo e Anderson por último, para fazer a inscrição e dispensar Moça o mais rápido possível. Os alunos, aliviados, saíram da escola e mal se deram conta de que acabavam de entrar em férias.

Foto por Bruna Pimenta

Um comentário:

Nós mesmos disse...

Ficou bom Pudim, continue a história! Você faz bons diálogos...

Tuma