
Foto: Bruna Pimenta
por Tuma
João acordou com o corpo balofo de Hartman inclinado sobre ele. O rosto do balconista estava molhado de suor, e balançava, ou era o próprio corpo de João que chocalhava, e ele via a cara do outro indo para cima e para baixo. Hartman disse algo como “Vamos embora”, e João o seguiu para fora. O balconista apagou as luzes, trancou a loja e foi caminhando em direção ao seu carro, um chevette azul escuro.
Entraram no carro em silêncio, e logo já estavam na estrada. A escuridão da noite, cortada somente pelos faróis altíssimos, e o ruído do vento lá fora dominavam o interior do carro. Após andarem alguns quilômetros, Hartman disse algo:
- Eu liguei para a polícia, companheiro. Eles não fazem idéia de quem podem ser aqueles tipos estranhos que levaram seu carro, mas estão procurando um veículo parecido com o seu...
João virou o rosto para ele, com uma expressão assustada, e agradeceu murmurando. Deixou os olhos divagarem e voltou-os para a estrada, sem porém concentrar-se em algum ponto. Seu campo de visão flutuava e se dispersava, e nada mais do que ele via fazia sentido. Nem reparou quando Hartman ligou o rádio e aumentou o volume. Somente quando a música começou a tocar, e os acordes foram entrando pelos seus ouvidos, ele reconheceu aquilo que estava escutando. Sobressaltado, subitamente desperto de seu estupor pela música, disse, um pouco mais alto que o necessário, fitando o gordo Hartman com os olhos arregalados:
- Não acredito! Você conhece The Sandmen!?
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário