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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Não é proibido sonhar.

por Stefano Manzolli.

Conta-se que muitos anos atrás, num país intolerante, um grupo de militares estúpidos resolveu instaurar uma ditadura. Simples assim: ergueram a voz e os fuzis, numa manhã bonita de outubro, e transformaram a vida daqueles pacatos cidadãos em um inferno. Cheios de uma covardia disfarçada, passaram a criar leis para proibir toda e qualquer forma de protesto branco.
Primeiro, expulsaram os poetas, cantores e filósofos do país, alegando serem esses os bagunceiros do pedaço. Em certa vertente eram, pois se rebelavam frente à hipocrisia dos homens armados; por outro lado, todavia, eram os grandes heróis do povo oprimido, lutando contra o governo autoritário e um tal de sistema.
Mas ninguém, com certeza, sabia o que era o tal sistema. Uns temiam-no, por causa de suas incapacidades de compreendê-lo. Outros achavam que era uma grande arma nuclear, um plano maligno para acabar com a vida no planeta. Os mais esclarecidos entendiam que era apenas uma boa desculpa, à qual eram atribuídos os erros idiotas de dirigentes falhos. De qualquer forma, o sistema era temido e venerado.
O tempo e a inflexibilidade das novas regras deixou o Estado sem nenhum tipo de arte, expressão em massa ou frases de efeito. Os guardas, nas ruas, puniam todo e qualquer indivíduo, que tentasse uma comunicação direta com seu semelhante – conversas nas calçadas, cafés filosóficos, bailes dançantes, galerias de arte, estavam amplamente proibidos. Nas escolas, as aulas eram fiscalizadas por espiões, se alguém ousasse parecer contrário ao ditador, logo desaparecia.
Por medo, as pessoas ficavam quietas.
Com medo, viviam.
No medo, encontravam seus fantasmas.
Aos poucos, uma revolução começou a borbulhar entre os homens e, de forma irracional e pouco pacífica, foram até o prédio-sede do governo, atirar pedras, gritar seus ideais, suplicar pelo fim daquele autoritarismo. As tropas de choque foram confrontá-los e, num ato quase carnívoro, acabaram com a vida de metade dos manifestantes. Quem restou foi expulso da nação, uma nova lei impedia a permanência masculina naquele território.
Nem os idosos foram poupados: com o intuito de serem tratados em belíssimas casas de repouso, um avião velho e aperto levou-os embora. Boatos dizem que o meio de transporte explodiu pouco depois de atingir o oceano, pois ninguém o pilotava.
Os jovens, de ambos os sexos, eram levados forçadamente para campos de treinamento militar. Apenas as meninas grávidas podiam voltar para suas casas; os garotos, em contrapartida, deveriam esquecer o termo liberdade, casa, família, hambúrguer. Quem ficava, mais cedo ou mais tarde, ia para “guerra”.
Mas não havia nenhuma guerra no mundo.
Ninguém sabe para onde eles eram levados.
Eles não voltaram para casa, nunca mais.
Sobraram apenas mulheres, crianças e militares – com mãos sujas de sangue. A escola era a única instituição que funcionava de verdade, porque era de extrema importância criar uma legião de novos pensadores, os quais serviriam para elogiar e espalhar aquele modelo político para o resto do mundo. Por isso, as crianças eram bem tratadas, com boa comida, banho quente e roupas novas a cada mês. Já as mulheres, tinham a estúpida função de chocadeira: grávidas por militares diferentes, a cada nove meses, pariam bebês, como se isso fosse um emprego qualquer, mas não eram remuneradas. Sem dinheiro ou prestígio, viviam de pouco pão e muito sofrimento, como máquinas velhas e enferrujadas.
Numa noite, enquanto a escuridão reinava no céu, as estrelas choravam suas lágrimas brilhantes, o sol escondia-se do outro lado do globo, os lobos uivavam seus sofrimentos; os soldados roubaram as crianças e atearam fogo nas casas, com as mulheres dentro.
Os lobos pararam de uivar naquele momento.
As estrelas pararam de chorar.
Nada era tão chocante e carregado de emoção, como os berros inflamados de tristeza daqueles novos órfãos. Imploravam para ver suas mães, pegar o brinquedo preferido, abraçar seus travesseiros da sorte. Seus gritos rasgaram a madrugada, libertando os últimos fantasmas de Pandora, ainda aprisionados naquela caixa de madeira tosca.
Na manhã seguinte, o cenário era apocalíptico: casas queimadas pela metade; poeira misturada no ar; sangue amargo e seco nas calçadas; armas quebradas e descarregadas, jogadas nas estradas; o sol escaldante e um silêncio estranho. Todas os pré-adolescentes foram levados para os campos de treinamento, antes ocupados pelos seus irmãos mais velhos. Os bebês foram calados com mamadeiras cheias de leite quente e as meninas foram levadas para o mesmo lugar que seus pais. Logo cedo, os mais crescidos receberam instruções sobre como se portar, vestir, falar. Depois, trataram de correr, nadar, pular corda e fazer abdominais.
Começavam a perder suas infâncias.
Suas ingenuidades.
Seus medos do escuro e ladrões.
Ganhavam a chance...
Na verdade, não ganhavam nada.
Desde que nasceram, tiveram apenas suas vidas retiradas aos poucos. Primeiro a liberdade, depois os irmãos, os pais. No fim, quando tudo parecia estar estabilizando-se, mataram suas mães. Cresciam como pessoas sem-pátria, sem-afago, sem-sentimentos, apesar de sentirem todas as dores do mundo – tanto físicas quanto psicológicas.
Desde que nasceram, foram treinados para serem máquinas de calcular, agir e não-falar.
Entre as garfadas fartas daquela sopa estranha de feijão, os garotos lembravam do sabor apetitoso de um bom bife, da batata-frita crocante; das vezes que guardavam um pedaço de torta dentro do bolso, a fim de presentearem suas mães esfomeadas. As lágrimas salgavam ainda mais aquele caldo espesso. Um tapa bem forte na cabeça os fazia engolir o choro. “Onde já se viu, meninão desse tamanho chorando! Comporte-se!”, um soldado advertia. Quando deitados no colchão duro de seus beliches, sonhavam com a cama quente e bem fofa que tinham em suas casas antigas.
Sim, eles sonhavam!
A despeito de toda crueldade, os sonhos não morrem com pancadas, exercícios e aulas de matemática. Os sonhos estão sempre prontos em nossas mentes, basta achá-los. Não há meio de impedí-los de voar. Aqueles meninos de cabeça raspada, corpo magrelo e olhos fundos, viviam e amavam num mundo inventado, cheio de sonhos.
Naquela madrugada, enquanto todo mundo dormia, Joel levantou-se, achou o giz que roubara na sala de aula e, com a força de um passarinho recém-nascido, escreveu na parede do dormitório: “Não é proibido sonhar”. Desfaleceu de fome, com um brilho bonito dentro da alma – chegara a hora de sua redenção.

Foto por Bruna Pimenta.

10 comentários:

ﯜǿҜєЯร™.Lucas.. disse...

O texto e a foto estão muito bons! mesmo!
Mas acho que o o blog está ficando muito chato e pouco "jovem".
O blog está fugindo do seu objetivo.(só tem 2 posts ainda =P

Nós mesmos disse...

O blog não é direcionado apenas a jovens.
É direcionado a todos, jovens ou não, que querem saber se nós podemos produzir coisas boas.
O que importa aqui é produzir arte, não precisa ser na linguagem de ninguém, precisa ser na linguagem de "Nós Mesmos".

Unknown disse...

Aff!
O publico principal que vocês tem que atingir é o adolescente!
com Opniões sobre os sentimentos adolescentes,amizade, internet e etc...
Se não pouca agente vai quera acessar!
Não to falando que o blog ta ruin mais os assuntos deveriam ser mais adolescentes

Ri Alto disse...

É o seguinte..Se for pra ler algo intelectual eu entro num blog estilo do Tuma e pá..Eu pensei q isso ia ser pra jovens e tal..Mas seis que sabem, só que se ficar na pegada cult intelectual vai ter 10 acessos, se vocês abraçarem a idade de verdade vai ter acesso de verdade também..

Falei!

tati fadel disse...

a linguagem "jovem" pode ser construída por todos os que estao comentando aqui também. O espaço é aberto a todos que queiram. Por coincidência, as primeiras postagens foram mais "cult". Nada impede que aqueles que estão achando isso muito pesado transformem lindamente a cara do blog.
beijos

Paloma Jackson disse...

sinceramente, jovenzinhos que gostam apenas de baladas, shoppings e orkut, são vazios, quantos de vocês leram um livro por conta própria sem ser Harry Potter? É questão de gosto, vai ler gossip girls se acha mais "adolecente"
Gostei muito do texto, continui assim, vizitarei sempre

obs.: não estudo no anglo

Tuma disse...

Acho que não existe uma linguagem "jovem", isso é outra cara do tal estereótipo, tipo fazer uma revista "jovem" que todo mundo fala irado ou coisa do tipo. Linguagem jovem é aquela que o jovem fala, e estamos aqui pra isso.

Monica disse...

Achei ótimo. Tava na hora de aparecer uma moçada mais conectada, menos vazia, sabendo o que tem pra dizer...Fotos ótimas.

Unknown disse...

Eu acho que deve variar. Desde o "cult" até os "assuntos jovens".
Ficar só em um tema e só em uma linguagem é chato.

Unknown disse...

O texto reflete demais, é impressionante. E a linguagem é o estilo, parabens! é para qm discorda que adolescente sabe escrever hehe
beijos a todos e a prof tati que indicou o blog =]

obs. tou no 3° do taquaral