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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

SOS Pedaços de infância e natureza


Foto por: Bruna Pimenta
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por Adriana Yamamoto.
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Tem um lugar no fundo da minha casa que foi cenário de muita brincadeira. Dias em que os primos vinham pra cá e as tardes eram fazer casinha na árvore, fogueira, chá de maçã com frutas embaixo da goiabeira. Uma árvore em especial tinha um grande galho aberto, que parecia um braço esticado, eu a chamava de parque de diversões: dava pra pular naquele galho e se pendurar de cabeça para baixo.
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Na horta, havia um conjunto de bananeiras, as quais eu chamava de palácio. Eu pegava folhas caídas da própria bananeira, forrava o mato e deitava. Esse era o meu palácio! Estirada naquelas grandes folhas (pra mim aquilo tudo era enorme), sentia o frescor do chão e, de vez em quando, pisava na casa de formiga e saía correndo pra mergulhar o pé na piscina.
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Meus primos faziam minha alegria. Eu, como filha única, vivia nessa casa de dois andares e corredor com quartos no fundo, com um quarto pra mim e meus ursinhos, roupas que eu escolho desde que aprendi as cores, eu que brincava de Barbie sozinha. Secretamente invejava minha prima que morava em São Paulo num apartamento pequeno, mas tinha dois irmãos e amigos no prédio pra brincar e ainda a invejo pelo fato dela morar em SP, com o mundo embaixo de seu nariz. Eu, todavia, fui criada em casa cheia de árvore, são dois modos diferentes de viver e amo isso aqui!
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Ao lado do palácio das bananeiras, um abacateiro me dava frutos pra fazer vitamina ou comer com mel, limão e açúcar; adorava lamber o prato depois. Lembro-me, também, de quando comia cana, porque a dona Teresa descava pra mim. E também tinha uma goiabeira que era a casa principal, o cajueiro em que eu, P. , A. e M. escrevemos nossos nomes. O cajueiro nunca deu frutos, mas eu não deixava meu pai mandar cortar (eles pensavam em plantar outra árvore), porque aquele tinha valor sentimental. Anos atrás, pendurara lá uma corda e balançava a tarde, no cajueiro me exibia fazendo cambalhotas no galho que tinha meu nome.
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Foi triste quando cheguei em casa, depois de um final de semana fora e ele estava lá derrubado, em pedaços. Meu deus, doeu! Não era só o cajueiro, podaram várias árvores e o quintal era só galhos caídos. Meu cajueiro tinha sido destruído, pois estava velho e doente - ninguém me avisou, nem falaram nada, foi sem despedida. Também foi chato com as bananeiras. Certo dia, eu olhei pela janela do corredor e elas não estavam mais lá e nenhum vestígio do meu palácio restava.
Com o abacateiro foi pior, tamanha violência, feio de ver, algum besta tocou fogo nos fundos e pegou o abacateiro, só um galho no alto ficou verde, o resto queimou. Ele, antigo e forte, sobreviveu, mas numa segunda vez pegou fogo. Minha mãe chamou o bombeiro duas vezes, ela e a dona A. ficaram tentando acabar com o fogo e nenhum bombeiro veio. Cheguei em casa e estava tudo preto, cheio de fuligem. O chão era preto, a piscina era preta, as roupas eram pretas, as flores, tudo era preto, o abacateiro morreu. Como pode uma árvore tão linda morrer desse jeito? O abacateiro, a cana, a goiabeira principal, as bananeiras, o cajueiro e toda a minha pequena selva acabou.
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Os anos se passaram e eu não percebi quando cortaram as bananeiras, quando foi que derrubaram meu palácio, quando foi que a horta de verduras daqui de casa se transformou num lugar de entulho, quando foi que parei de brincar com a minha cachorra, quando me tranquei em casa e fiquei vendo TV. Quando eu esqueci que era gostoso possuir árvores na minha infância. Meus primos se formam, eu sairei de casa e meus pais vão acabar vendendo essa casa, vão ter que abandonar esse lugar que não tem rua asfaltada e tem árvore de limão, romã, jabuticaba, lixia, mexerica, ceriguela, orvalho, goiaba, pera, maracujá, amora, nozes, nêspera, manga ...
Tem tudo isso na minha infância e são coisas que meus primos mais novos talvez não tenham, não tenham tantos primos com a mesma idade e árvores, as famílias diminuem e as árvores também: é o progresso.
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6 comentários:

ﯜǿҜєЯร™.Lucas.. disse...

Muitoo bom! =)
...

Because life is like a circle!

Unknown disse...

Ah, eu adorei. Ficou muito bom. :D

Tuma disse...

Drica, você escreve muito bem! Suas lembranças, como sempre, misturam aquele tanto de melancolia e aquele ta nto de alegria... a nostalgia pelas coisas que se foram. Beijo!

João G. Viana/Pudim disse...

Lindo demais, Drica, gostei muito.

Unknown disse...

gostei ,drica! e achei com um ar de "meu pé de laranja lima".

tati fadel disse...

lindo demais. quase chorei.
lembrei da minha infância cheia de primos, mangueiras e jabuticabeiras. Os primos viraram capitalistas selvagens no mercado financeiro do mundo, e mandaram cortar as árvores centenárias (eram grandes quando meu pai era criança) pra fazerem um estacionamento.
você é muuuuito hábil nessa evocação de memórias