Para qualquer outro participante, a separação era um incentivo: o de chegar à sala seguinte com a tarefa cumprida antes dos companheiros. Apenas o que os trouxe até ali sentia o desamparo dos parceiros. Renato não conseguia manter a concentração, era simplesmente impossível olhar para as paredes somente procurando erros de gramática.
Sua estatura era mediana, mas tinha que elevar o olhar para ler as agradáveis inscrições. Seus autores eram como heróis da infância. Deteve-se em certo ponto, do qual podia ver a estrofe de abertura de Os Lusíadas:
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram
Renato permaneceu por alguns instantes observando o “Taprobana” grifado. Antes que pudesse tirar qualquer conclusão, outros alunos o alcançaram, e ele achou melhor fingir que não havia nada especial naquilo.
Aliás, como era difícil trabalhar com aquela quantidade de gente em volta!
Renato ia continuar a busca, mas se surpreendeu ao fim do corredor. Tinha se perdido tanto nos jogadores em volta que esqueceu de cumprir a tarefa. Irritado, percorreu o lugar no sentido contrário.
Os concorrentes o atrapalharam novamente.
Só na segunda vez em que seguia na direção da sala Renato pôde assimilar o verdadeiro problema. O texto da tarefa, ainda reproduzindo em sua memória, não explicitava se cada corredor teria um erro gramatical. Sentiu-se feliz por tê-lo percebido antes dos que estavam vasculhando as paredes à sua volta. Confirmou, ao fim, que não havia nada escrito errado naquelas paredes.
Foi então que um grito estridente, como de uma menina quando se assusta com um inseto, sobressaltou o garoto.
Renato disparou ao encontro dos amigos no próximo recinto. Algum deles teria experimentado uma busca bem mais interessante.
Foto: Guilherme Carnaúba
Um comentário:
Muito bom Pudim! E o mistério aumenta mais e mais!
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