as luzes, no horizonte,
parecem estrelas:
cheias de graça brincando
de fazer cócegas no céu.
mas as nuvens não dão risada,
quero dizer, eu não escuto nada.
além do grunhido do meu gato,
do berro do papagaio e a
estranha voz da vizinha.
tomo outro gole do espumante
chocolate-quente, que esfria
em cima da mesa cheia de papéis.
sinto o meu avesso aquecido,
diferente dos meus pés cheios
de meias de lã e minhas mãos
cobertas de luvas.
de repente,
vejo umas luzes apagarem
(como acontece em todas as noites).
o sopro quente e compassado
do meu pequeno gato,
faz cócegas no meu calcanhar.
o papagaio cansa de falar sozinho,
assim como a vizinha portuguesa.
enfim, decidem dar paz aos ouvidos.
todos dormem e eu observo
a vida aquietar-se sob a penumbra.
e sobram somente estrelas,
cheias de graça, brincando
de fazer cócegas no céu.
alguém ri.
eu rio
(pra falar bem a verdade).
balanço a cabeça - cheia de dúvidas.
fecho a janela, desejo boa noite ao gato,
ao papagaio, às luzes esquecidas,
à vizinha de voz estridente.
deito com um monte de sonhos
rodeando a minha cabeça.
beijo sua boca-imaginação,
roço os pés gelados,
abraço um travesseiro,
rezo para o dia de amanhã
e durmo.
sonho com
estrelas
e luzes
e gatos
e papagaios.
menos com a vizinha:
não gosto da voz dela.
Que pena!
Foto por Bruna Pimenta
4 comentários:
Muito bom! Parabéns.
Tão bom quanto seus outros textos.
ASPOJKDSAPOKDAPSKD... Muito bonito e bem-humorado!
bjus, Gaby.
Vale a pena ler os seus textos. Eles comovem e nos fazem refletir. Quero ler seus textos sempre...
Abraço,
Felipe
lindo... lindo, mesmo :)
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