
Foto: Bruna Pimenta
por Tuma
Gaguejando, ainda bobo pela confusão recente, João respondeu:
- Muito prazer.
O outro deu um sorriso e tornou a perguntar:
- Prazer, prazer... mas e você, é?
João ficou encarando-o, piscando, um pouco indeciso sobre que resposta dar àquilo. Novamente, gaguejou:
- Bem, eu não sei.
O mendigo, Kaspar Hauser, abriu um sorriso ainda maior e, sem aviso, levantou-se num pulo. O gato, que viera enroscar-se em seus farrapos, miou alto e afastou-se.
- Não sabe, hum? Então você veio ao lugar certo meu querido... todos os tolos sem identidade vêm parar em Miranda, mais cedo ou mais tarde. Eu fui um deles sabe?
O braço de Kaspar Hauser já envolvia os ombros de João. O mendigo era mais alto que ele. João começou a tremer.
- Sim, sim – continuou – Eu apareci, aqui nessa praça, exatamente como você, há muitos anos. - antes de completar sua fala, ficou um instante em silêncio - E por aqui mesmo fui ficando, vestindo esses andrajos e conversando com meu gatinho.
Kaspar Hauser saiu do lado de João e postou-se a sua frente, com uma mão em cada ombro seu. Fechou o semblante, perscrutou com os olhos a praça e finalmente voltou a falar com João.
- Eles apontavam o dedo para mim, sabe?, e diziam “Olhe, o Tolo”, sim, o tolo sem identidade, o tolo sem memória, o Tolo!, exatamente como farão com você!
João se desvencilhou do mendigo, deu um passo para trás e respondeu:
- Mas eu não sou um tolo!
Kaspar Hauser voltou a abrir um grande sorriso.
- Deve ser – disse – ou não teria vindo aqui.
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Um comentário:
Que medo de Miranda...oO
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