INFORMATIVOS:

1) Agora dá para ler as postagens do blog por Categoria. Basta clicar no tema do seu interesse no menu ao lado e gastar horas lendo bons textos. Caso queira, em Home poderá ler todos os posts sem nenhuma interrupção.

2) Os comentários estão liberados, agora! Caso você não tenha uma conta Google, comente na opção Anônimo, mas não se esqueça de assinar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 17


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Gaguejando, ainda bobo pela confusão recente, João respondeu:

- Muito prazer.

O outro deu um sorriso e tornou a perguntar:

- Prazer, prazer... mas e você, é?

João ficou encarando-o, piscando, um pouco indeciso sobre que resposta dar àquilo. Novamente, gaguejou:

- Bem, eu não sei.

O mendigo, Kaspar Hauser, abriu um sorriso ainda maior e, sem aviso, levantou-se num pulo. O gato, que viera enroscar-se em seus farrapos, miou alto e afastou-se.

- Não sabe, hum? Então você veio ao lugar certo meu querido... todos os tolos sem identidade vêm parar em Miranda, mais cedo ou mais tarde. Eu fui um deles sabe?

O braço de Kaspar Hauser já envolvia os ombros de João. O mendigo era mais alto que ele. João começou a tremer.

- Sim, sim – continuou – Eu apareci, aqui nessa praça, exatamente como você, há muitos anos. - antes de completar sua fala, ficou um instante em silêncio - E por aqui mesmo fui ficando, vestindo esses andrajos e conversando com meu gatinho.

Kaspar Hauser saiu do lado de João e postou-se a sua frente, com uma mão em cada ombro seu. Fechou o semblante, perscrutou com os olhos a praça e finalmente voltou a falar com João.

- Eles apontavam o dedo para mim, sabe?, e diziam “Olhe, o Tolo”, sim, o tolo sem identidade, o tolo sem memória, o Tolo!, exatamente como farão com você!

João se desvencilhou do mendigo, deu um passo para trás e respondeu:

- Mas eu não sou um tolo!

Kaspar Hauser voltou a abrir um grande sorriso.

- Deve ser – disse – ou não teria vindo aqui.
.