
Foto: Guilherme Carnaúba
por Tuma
Infelizmente para ele, o despertar de sua nova vida não coincidiu com a morte da outra, aquela da qual não tinha mais lembranças. No dia seguinte, saiu de casa pela primeira vez, e foi passear com Nino na cidade. Conversavam como se conhecessem-se há muito tempo. Naturalmente, Ferdinando reaprendia os ritmos e tons do diálogo humano, as pequenas perguntas, os comentários triviais, e tudo aquilo que fazia de uma conversa algo tão familiar.
Ele conheceu um pouco de Miranda: as ruas largas e as estreitas, os bairros mais nobres e aqueles onde havia mais pobreza. Na rua dos armazéns, viu ao longe algo que chamou sua atenção. Três homens vestidos de macacões negros, bonés vermelhos e tênis de lona passavam carregando sacolas. Eles lhe lembravam algo, mas não soube precisar o quê. Perguntou a Nino sobre os homens, e ele lhe disse que eram empregados de Tito Heisenberg, o maior magnata da cidade, dono da Utilidades Heisenberg, uma empresa que produzia basicamente tudo que a cidade consumia, excetuando-se a comida e os itens de tecnologia.
Aqueles homens ficaram em sua cabeça o dia todo, um incômodo, e Ferdinando, embora tentasse negar, sabia o que eles eram. Os tipos estranhos que insistiam em surgir como vultos em suas frágeis novas lembranças eram nós de seu passado, fios soltos que de repente se enrolavam e entravam em curto-circuito em sua mente, produzindo aquelas ondas de mal-estar que por vezes sentia. Sim, embora tentasse negar, Ferdinando ainda estava profundamente ligado ao seu passado, e assim permaneceria, até que pudesse acertar as contas com ele.
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Um comentário:
Pode falar pro Ferdinando quem são os três?
Ótimo capi´tulo, Tuma :D
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