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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 29


Foto: Bruna Pimenta

por Tuma

Eu, mente vazia, e Nino voltando para casa. Mente Cheia. Não consigo me livrar do passado, nem me fixar nele. Sou um barco à deriva, um bote indefeso no meio da tempestade, sendo arremessado para o céu pelas ondas imensas. Passamos tranqüilos por ruas e vielas – que lugar agradável é Miranda, sinto como se a conhecesse -, e vemos pessoas de todo tipo – Será que não conheço? Não, não, alguém já teria se lembrado de mim – e toda idade.

À medida que chegamos perto de casa, o número de pessoas nas ruas diminui. Nino disse que é um bairro muito tranqüilo, muito calmo. Segundo ele, a praça em que fica sua casa foi nomeada em homenagem a um antepassado seu, Alonso Nápoles. Fico imaginando de onde eles tiram esses nomes, mas não digo nada pra não ofendê-lo.

Chegamos à praça e Nino diz para eu aproveitar o pôr-do-sol dali novamente. Ele corre para dentro de casa e me deixa sozinho. Fico observando as poucas pessoas que caminham ao redor da fonte. Reconheço um dos casais que fugiu de mim ontem. Agora me olham com curiosidade. Deixo minha atenção vagar e acabo encontrando um elemento destoante naquele aprazível quadro de fim de tarde.

É o mendigo – Kaspar Hauser o nome dele? – sentado na fonte, o gato ao seu lado, com alguma coisa nas mãos. Esse homem me dá medo. Não sei porque, mas sinto que desmaiei ontem por causa dele. Ainda assim, chego mais perto, ele também desperta em mim uma enorme curiosidade. Mas antes que eu posa me aproximar o suficiente para ver o que ele está fazendo, ele já tomou nota da minha presença e se levanta e se vira e me saúda com sua voz estridente.

- Ah!, o Tolo!

Finjo ignorar, e continuo me aproximando, embora com menos velocidade. Ele, por sua vez, quase corre em minha direção, e me agarra os ombros, e me arrasta, antes mesmo que eu esboce qualquer reação.

- Venha, pequeno cego das coisas do mundo, nós teremos uma conversa magnífica essa noite, não?

E me faz sentar, e fico sem reação, e ele dá tapinhas em minha cabeça, e bota aquela língua nojenta para fora, e a balança na minha cara, e a engole, e esbugalha os olhos, e chega bem perto do meu rosto com sua cara fedida e volta a falar.

- Ah, meu tolinho, você vai aprender algumas coisas hoje!

Um ódio repentino toma conta de mim, e sinto que poderia matá-lo.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Gostei!
Seu folhetim está muito estiloso, capítulo legal
[Desejando poder contar tudo pro Tolo]