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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Palácio Vitral: XX - Epitáfio

por Pudim


Não foi difícil convencer os fujões de que era tudo parte do jogo. O organizador tinha tomado o cuidado de criar enigmas semelhantes e aplicá-los aos que não estavam entre os três times para esse fim. Aguardamos pacientemente que tudo terminasse. Como imaginávamos, nenhuma equipe conseguiu completar todos os desafios.
Os alunos deixaram o Palácio com comentários positivos e perguntando sobre a data de um próximo evento como aquele. Todas receberam respostas parecidas.
“Estamos vendo isso”, “talvez em breve”, “não esperávamos que fizesse tanto sucesso”, e demais variações.
O possível Segundo Desafio Brainstorm seria um dos assuntos da reunião na Biblioteca Lewis.
“Por que o Kevin?”, Anderson iniciou-a sem cerimônias.
“Havia quinze respostas possíveis. Ele só foi o primeiro a perceber que queríamos garantir a geração seguinte de pesquisadores – ou seja, herdeiros – do Palácio Vitral.”
“E isso lhe garante algum poder?”
“Inevitavelmente, Ivan.”
Continuaram discutindo por certo tempo, mas apenas Anderson prestava atenção. Todos os outros só pensavam nas oportunidades, nos planos e nas responsabilidades que teriam ali.

De fato, aproveitamos bem as responsabilidades, planos e oportunidades em muitos anos seguintes. Demos nossa contribuição; o Palácio voltou a ficar agitado. A segunda edição do jogo saiu em quatro anos, e selecionamos alguns novos participantes que se juntaram com disposição ao projeto.

Mas a humanidade foi capaz de enterrar permanentemente mais um de seus preciosos tesouros. Vinte e três outonos após a retomada de sua atividade, a construção colossal foi revirada, despedaçada e dispersa entre o pouco verde restante da floresta. O tornado inédito na região foi a manifestação natural contra o aquecimento intenso do ar da costa, provocando tesouras de vento nas áreas de vertentes. Não levou apenas vidro, pedra, aço e autótrofos. Só deixou vivos os dois que foram fazer as compras.
Ainda pudemos presenciar os momentos finais de vida do Palácio Vitral: era um gigante resignado se atirando ao chão. Mais, era a ruína de uma montanha, cujo peso estava concentrado nos papéis flutuantes, e não no alicerce imóvel.

Álvaro ainda tentou me convencer de que o Palácio poderia ser reconstruído; o plano seria revivido, em outro lugar, longe dos efeitos da mudança climática. Talvez, se não fosse levado pelo aneurisma em 17 de junho de 2019, ainda fundássemos algo parecido.

Nunca soube o motivo da cisão. Creio que Romeu Squalor planejava contá-lo no momento certo, sem se dar conta de quão rapidamente os segredos podem ser levados ao túmulo.

Foi isso a existência do Palácio Vitral. Deixo seu relato aqui, junto à sepultura do penúltimo sobrevivente; talvez pelo medo de que sua memória se perca tão subitamente quanto a vida de meus amigos. Ou talvez por mera formalidade, como documento histórico. Ou porque ainda esconde-se, em minha consciência, esperança ingênua de que alguém se interesse pelo sonho, e proponha-se a realizá-lo; afinal, foram as suas últimas palavras:
“Não deixe meu sonho morrer, Pudim.”

Ivan Anderson!? Não combina.

(Fim)




Foto: Bruna Pimenta

Um comentário:

Tuma disse...

*PFLSH* (som da cabeça explodindo)

Ivan Anderson!? Realmente não combina... mas, pelo menos acertamos que era ele o narrador.

Que pena que acabou cara... foi um final bem melancólico e tal, mas deixou muitos mistérios e segredos no ar, o que é algo INTERESSANTE (prepare-se)... dá uma olhada na citação de sexta hoje lá no meu blog pra ver por que eu to falando isso.

Ademais, meus parabéns. MESMO, você soube conduzir a história de um jeito original, não apelando muito pros resultados fáceis, o que só merece elogios. Só fiquei desapontado por não ter tido os gêmeos do mal.

Mas eu supero.

Parabéns de novo!