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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Palácio Vitral: XVIII - Carta a Albert J. Lewis

por Pudim

Território brasileiro sem-nome, oito de janeiro de 1905.

Meu amigo Albert,

De fato, a América do Sul é um lugar impressionante, digno de uma expedição como esta. De fato, uma expedição como esta implica severas conseqüências. Sinto medo em olhar para os meus pés cada vez que tiro os sapatos para descansar, meus membros reclamam a cama agradável costumeira, e a festa de Ano Novo não é tão animadora em uma floresta isolada. Aliás, foi interessante observar como a natureza não se importa com as regras e marcações estabelecidas pelos humanos. Aqui nenhum mico-leão faz caso se seu tamanho é de 45 ou 46 centímetros; simplesmente tem a medida de um mico-leão.

Tantos anos cheios de descobertas, e nunca havia me dado conta dessa importante lição...

Mas não seria motivo de fazer meu ajudante viajar 108 quilômetros até o correio a experiência adquirida que, como você gosta de dizer, faz parte do trabalho. Em meio a tanta admiração por um cenário inédito nos catálogos botânicos, me deparei com algo inusitado, como confirmará pela minha descrição.

Caminhava por entre árvores, cujas copas insinuavam o céu inalcançável, até que consegui notar uma fonte de luz muito distante à frente, facilmente perceptível dentro de um ambiente tão contínuo (não queira pensar que a paisagem é entediante). Segui a fonte, e gradativamente o canto dos pássaros foi diminuindo, os símios que me seguiam curiosos foram recuando e desaparecendo, o ar foi se tornando mais leve, o sol mais castigante, os mosquitos mais atrevidos, e consegui descobrir uma gigante - muito gigante - clareira.
Ao adentrá-la, logo percebi que se tratava de uma enorme propriedade, mas não como as típicas do país. Era cercada por belos jardins de espécies nativas e, ao invés de uma fazenda, seus corredores levavam a um belo palácio vítreo.

Por mais etérea que possa parecer, a cena não foi um sonho. Posso assegurá-lo da veracidade desta visão por agora mesmo escrever de um dos aposentos do palácio. A arquitetura é inacreditável, talvez sem paralelos nas construções históricas européias. O exterior, se não for completamente de vidro, disfarça-se muito bem. As formas executadas pelas armações dos vitrais lembram o estilo gótico, mas muito vagamente. No seu interior, os cômodos são parecidos com as casas reais da Inglaterra, com exceção do constante (e de muito bom-gosto) uso da luz solar que, ao atravessar as figuras desenhadas na superfície externa, projeta formas indefinidas no chão incolor. O efeito é bem calculado, e sem dúvida um grande desafio aos artistas europeus.

Talvez o mais interessante é que, postando-me em frente à entrada, não fui bem recebido. Pelo simples fato de não haver anfitriões. Vou poupá-lo de explicações, pois envio, anexada a esta que escrevo, a carta que encontrei presa à porta.

Seu companheiro, Richard Beddome.


O texto, acredita-se, foi lido apenas pelo naturalista inglês e seu destinatário, antes de perder-se para sempre na lareira do último. Talvez por isso as origens do Palácio Vitral são rodeadas por muitas incertezas e lendas. Entretanto, como pesquisas posteriores demonstraram, a instituição não deveria ser mais do que trinta anos mais velha que a visita do explorador britânico. E nem o bilhete deveria contar tanto mais a respeito do lugar do que sabia o Diretor Squalor, noventa anos depois.



Foto: Guilherme Carnaúba

Um comentário:

Tuma disse...

Cara, isso tá cada vez mais foda... a direção qeu você tá dando pra história e pro mistério é simplesmente genial. Muito bom mesmo...