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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Através do espelho obscuro, capítulo 27


Foto: Guilherme Carnaúba

por Tuma

Naquela noite, Nino teve de sair. Ferdinando ficou sozinho com Ernest no casarão. Após o jantar, o desmemoriado foi à sala e ligou a vitrola, para ouvir um pouco de The Sandmen. Já decorara o nome de algumas faixas. A primeira era Good Night, Good Dreams, a segunda era Sunshine, e a terceira Mister Sandman. Essa última ele sempre pulava, pois lhe causava uma sensação perturbadora.

Enquanto ouvia, Ernest apareceu. Vinha caminhando lentamente, como era seu costume, com as mãos para trás. Ferdinando abaixou o volume do som, e deixou que o mordomo se aproximasse. O homem baixo e feio chegou bem perto de Ferdinando, e começou a falar.

- Ainda não nos apresentamos formalmente. Meu nome é Ernest Schrödinger.

Disse, estendendo a mão. Ferdinando a apertou e continuou a conversa.

- Eu não sei meu nome, mas seu patrão me deu o nome de Ferdinando.

O mordomo riu, algo que Ferdinando não vira até então, e com um braço levou-o até o sofá, para sentarem-se.

- Sim, creio que isso merece uma explicação. – com um suspiro, Ernest terminou sua última frase, e depois voltou a falar sem parar, mecanicamente - Como Antonio disse, Ferdinando era o nome de seu irmão mais velho. Sua família era a mais rica e importante da cidade, os Nápoles, e Antonio era o caçula, mais novo de dois irmãos. Há quinze anos, quando o pobre Nino tinha somente 4 anos, os pais morreram num acidente de carro misterioso.

Ernest parou de falar subitamente. Ficou encarando o espaço vazio atrás de Ferdinando, como se estivesse vendo alguma coisa. Depois, voltou-se para ele e tornou a falar:

- Já o irmão mais velho, aquele enlouqueceu. Abandonou a casa e o irmão e saiu pelo mundo. Três anos depois da morte dos pais, descobrimos que ele havia morrido em uma cidadezinha distante, de pneumonia. O corpo foi trazido, velado, e enterrado. Choramos por ele durante seis meses. Ainda assim, Nino relutou em aceitar sua morte. Para ele, seu irmão enganou a morte, e ainda vaga por aí.

Nova pausa. Ernest tossiu e não disse mais nada por um longo tempo. Mas voltou a falar.

- Por isso, ele adotou você como irmão. Para ele, você é uma espécie de presente, um desmemoriado surgido de parte alguma que veio ocupar o lugar que seu irmão de verdade abandonou. E, enquanto você não se lembrar de quem é, continuará a ocupar esse posto.

Embora a última frase pudesse soar como ameaça, Ferdinando não tomou nota disso. Ficou em silêncio, pensativo, sem olhar para o mordomo. Em sua mente, os silêncios e espaços vazios disputavam entre si a hegemonia. No vácuo, surgiu um pedaço de coisa, e a coisa era a aceitação. Seu nome, a partir daquele momento psíquico, seria Ferdinando, e suas memórias seriam construídas a partir do instante em que acordara sangrando no carro. Depois de ouvir as palavras do mordomo, o Tolo despertava para uma nova vida.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Cara, sua história tá demais, os capítulos estão cada vez mais misteriosos!
Não sei se torço pro Tolo lembrar de tudo e voltar pra sua vida ou pra ele descobrir os segredos de Miranda e do The Sandmen...
E agora ainda entra um Schrödinger!