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No final do ano de 1904, das escarpas levemente oblíquas da porção leste do território litorâneo sul-americano, ainda se podia descortinar a visão estonteante de uma floresta incrivelmente biodiversa e muito densa.
Nos pontos mais elevados, arvoredos esparsos desciam para os vales, onde formavam rios contínuos de mata intocada. O céu era de um azul infinito e sobrenatural, cortado raramente por grupos de grandes aves.
Igualmente impressionante era o cenário que se estendia desde a orla até os pés da seqüência de planaltos quase uniforme, que acompanha toda a costa. A transição entre os mangues e as primeiras grandes árvores demonstrava grande parte da variabilidade biológica terrestre.
A mais admirável, porém, era a área das encostas daquelas escarpas. O dossel evocativo permitia passagem apenas a alguns feixes de luz solar, para mostrarem a névoa típica das florestas tropicais chuvosas. Por baixo dele exibia-se um conjunto de plantas floridas, cuja beleza tinha até um ar hostil na escuridão. A sombra das folhas largas e perenes a 15 metros de altura deixava o solo sempre pouco iluminado.
Pelas vertentes que seguravam a chuva, conferindo a frondosidade às árvores do local, derivavam regatos de água límpida, cuja qualidade era ainda mais elevada pela pluviosidade. Por vezes via-se índios atravessarem as trilhas lamacentas para garantir que a sede de seus povos distantes fosse sanada. As histórias populares, entretanto, contavam que ali era a nação sem delimitação de onde se podia ouvir o discurso imortal da quietude da natureza. O bioma era tão extenso, e a vegetação tão fechada, que os poucos nativos que passavam não ousavam interromper o musical alegre da Mata Atlântica ainda cheia de vida.
Era por essa terra lendária que peregrinava, intrigado e agitado, o botânico inglês Richard Beddome.
Um comentário:
Putz Pudim, fantástica sua descrição, muito boa mesmo! Um dos melhores capítulos até agora, embora não tenha dito a que veio, AINDA.
Tuma
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